Megatendências / Adaptação à Mudança do Clima

Evolução na mitigação de emissões de GEE

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Segundo o AR6-WGI (IPCC, 2021), o aumento da temperatura média global após o processo da revolução industrial está ocorrendo de forma mais proeminente sobre os continentes (tendo atingido 1,59 °C) do que sobre os oceanos (0,88 °C), o que destaca a maior severidade desse fenômeno sobre sistemas agrícolas terrestres. O AR6-WGI aponta que a mudança do clima não afetará de forma homogênea países tropicais e temperados, os primeiros serão potencialmente mais afetados negativamente enquanto os segundos poderão até vislumbrar benefícios e ganhos de competitividade com a incorporação de áreas antes inadequadas para a atividade agrícola em razão do frio extremo e prolongado, identificação de instrumentos para superação de potenciais problemas e concretização de potencialidades do setor.

 

Sexto Relatório do Grupo de Trabalho I (AR6-WGI) do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) – principais elementos

  • O relatório mais contundente já preparado pelo IPCC indica, de forma inequívoca, haver plena confiabilidade científica de que os efeitos da mudança do clima estão associados à atividade humana, indicando que até 2021 a temperatura média do planeta tenha aumentado em 1,09 °C, se comparada ao período pré-industrial.
  • Preconiza que estabilizar o aumento da temperatura global demanda a neutralidade de emissões de CO2 e a forte redução em outros gases de efeito estufa, destacando a necessidade de reduções significativas e contínuas de emissões de metano (CH4), para limitar o efeito do aquecimento global.
  • Avalia sistemas agrícolas tropicais como mais vulneráveis aos impactos negativos da mudança do clima, particularmente nos cenários mais pessimistas de elevação da temperatura média.
  • Destaca que o desmatamento impacta negativamente o equilíbrio climático, o ciclo das chuvas e, portanto, é emergencial reduzir as taxas atuais de perda de vegetação nativa. Fonte: IPCC (2021).

 

Reduzir as emissões de GEE no setor agrícola é mais desafiador do que em outros setores da economia (Matthews, 2021), em razão da natureza biogênica de boa parte de suas emissões, particularmente as emissões de metano (CH4) produzido por animais ruminantes. No Brasil, esse é um desafio particularmente importante em razão do tamanho e da relevância do setor para a economia nacional (United Nations) .

Pelos amplos sinais discutidos, o estabelecimento de planos e estratégias para o enfrentamento dos desafios impostos pela mudança do clima deverão ser mais ambiciosos e transversais ao longo das próximas décadas. 

O setor agrícola brasileiro iniciou em 2021 a discussão da segunda fase de um plano para o enfrentamento da mudança do clima. Trata-se do Plano ABC+, que busca organizar e planejar as ações para a adoção de tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com o objetivo de contribuir para o incremento da capacidade adaptativa dos sistemas agrícolas, apoiar a segurança alimentar, responder aos compromissos de redução de emissão de GEE no setor agropecuário e promover ambiente favorável para adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável do ponto de vista econômico, ambiental e social. Contudo, em razão da escala do desafio, é necessário implementar uma análise crítica e sistemática da indução do desenvolvimento científico, no intuito de avaliar se há apoio financeiro e priorização para o desenvolvimento de tecnologias que alinhem a pretensão de preservação da capacidade produtiva ao enfrentamento dos desafios impostos pela mudança do clima, com a redução de emissões postuladas pelo Brasil na forma de sua NDC.

A experiência brasileira ao longo das décadas anteriores primou pelo desenho de estratégias setoriais. Ressalte-se a importância da continuidade e do aprofundamento dessa linha de ação para as décadas futuras. É necessário destacar que o nível de sofisticação e ambição necessárias para o atingimento dos objetivos já preconizados pelo Brasil na forma da sua NDC exigirá ações coordenadas entre os setores da economia, incluindo um olhar particularmente atento da área acadêmica e das instituições de pesquisa no desenvolvimento de cenários, análises e pesquisas que possam levar em consideração a integração e interconexão entre os setores como estratégia para o novo modelo econômico descarbonizado (Brasil 2022).