De acordo com o Mapa (Brasil, 2021), foram registrados 95 produtos para controle biológico somente em 2020, totalizando 411 produtos considerados de baixo impacto, compostos por ativos biológicos, microbiológicos, semioquímios, bioquímicos, extratos vegetais e reguladores de crescimento (Brasil, 2021). O número de empresas produtoras de bioinsumos no Brasil, que era de algumas dezenas, subiu para mais de 150 nos últimos 10 anos. De acordo com o Radar Agtech, que mapeia as startups do agro brasileiro, há 1.574 atuando antes, dentro e depois da porteira. Em 2020, havia cerca de 200 startups relacionadas ao setor de insumos e serviços, 78 das quais voltadas para tecnologias baseadas em insumos biológicos, como o controle biológico, manejo integrado de pragas e doenças, fertilizantes, inoculantes e nutrição vegetal (Figueiredo et al., 2021). O número de doses de inoculantes para a fixação biológica de nitrogênio aumentou 360% em 7 anos, com a projeção para mais de 100 milhões de doses comercializadas em 2020 (Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes, 2021).
Com o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos em maio de 2020, a adoção de políticas públicas deverá estimular ainda mais a adoção desses insumos no País, com perspectivas promissoras para as próximas décadas. O marco regulatório para bioinsumos deverá diminuir os gargalos para a obtenção de registros e ampliar a oferta de produtos. Estima-se que o Brasil passe a ser o segundo maior mercado consumidor de bioinsumos até 2025, com aumento dos atuais 3% para 15% do mercado nacional de proteção de plantas. Investimentos em PD&I favorecerão a geração de novos produtos, criando um ambiente de negócios favorável a que novos players sejam atraídos ao mercado interno, produzindo localmente ou importando dos países de origem.
Há uma demanda crescente por microrganismos ou consórcio de microrganismos multifuncionais, visando ampliar a gama de benefícios, o que deverá expandir o uso desses insumos para outras culturas (Gómez-Godínez et al., 2021). Ferramentas de edição genômica, como CRISPR, serão importantes no desenvolvimento desses insumos num futuro próximo (Lee; Lee, 2021). O desenvolvimento de produtos fertilizantes organominerais enriquecidos com microrganismos benéficos também deverá aumentar, com agregação de valor ao produto final.
A prospecção de microrganismos benéficos com base em genômica deverá aumentar a velocidade e a oferta de novos produtos biológicos comerciais (Gómez-Godínez et al., 2021; Zvinavashe et al., 2021), sobretudo baseada em startups com tecnologias inovadoras e disruptivas. A conexão da agricultura de base biológica com a agricultura digital por meio de novas tecnologias como a computação em nuvem baseada na internet das coisas (IoT), possibilitada pela expansão da conectividade e pela tecnologia 5G, devem aumentar a eficiência e a produtividade nas smart farms (Tang et al., 2021).
Os bioinsumos serão ferramentas imprescindíveis na adaptação das culturas às mudanças climáticas, além de contribuírem com a mitigação da emissão de gases de efeito estufa, fazendo parte de práticas certificadas e remuneradas com créditos de carbono. O melhoramento genético de plantas se voltará para o desenvolvimento de cultivares mais responsivas à interação com microrganismos por meio de engenharia da rizosfera e uso de ferramentas de genômica, transgenia e/ou edição gênica (Gómez-Godínez et al., 2021; Zvinavashe et al., 2021).
O avanço das tecnologias de sequenciamento genético da microbiota do solo, com redução de custos, permitirá a recomendação de bioinsumos customizados, aumentando sua eficiência conforme o ambiente (Kim; Lee, 2020).
Esses avanços permitirão a consolidação do Brasil como o principal exportador de alimentos produzidos com tecnologias sustentáveis aliadas à preservação ambiental.
Referências
- ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PRODUTORES E IMPORTADORES DE INOCULANTES. Inoculantes. In: OUTLOOK GlobalFert 2020. [S.l.]:GlobalFert, 2021. p. 120-124. Disponível em: http://www.anpii.org.br/wp-content/uploads/2020/06/Global-Fert-Inoculantes.pdf. Acesso em: 28 set. 2021.
- BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Insumos agrícolas: Mapa registra recorde de 95 defensivos de controle biológico em 2020. [Brasília, DF], 2021. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/Mapa-registra-recorde-de-95-defensivos-biologicos-em-2020. Acesso em: 2 set. 2021.
- FIGUEIREDO, S. S. S.; JARDIM, F.; SAKUDA, L. O. (coord.). Radar AgTech: Brasil 2020/2021: mapeamento das startups do setor agro brasileiro. Brasília, DF: Embrapa, 2021. 169 p. Disponível em: https://radaragtech.com.br/wp-content/uploads/2021/05/Radar-Agtech-Brasil-2020-2021-Embrapa-SP-Ventures-Homo-Ludens-Relatorio-Final.pdf. Acesso em: 5 set. 2021.
- GÓMEZ-GODÍNEZ, L. J.; MARTÍNEZ-ROMERO, E.; BANUELOS, J.; ARTEAGA-GARIBAY, R. I. Tools and challenges to exploit microbial communities in agriculture. Current Research in Microbial Sciences, v. 2, p. 100062, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.crmicr.2021.100062. Acesso em: 23 set. 2021.
- KIM, H.; LEE, Y.-H. The rice microbiome: a model platform for crop holobiome. Phytobiomes Journal, v. 4, n. 1, p. 5-18, 2020. DOI: https://doi.org/10.1094/PBIOMES-07-19-0035-RVW.
- LEE, H. J.; LEE, S. J. Advances in accurate microbial genome-editing crispr technologies. Journal of Microbiology and Biotechnology, v. 31, n. 7, p. 903-911, 2021. DOI: https://doi.org/10.4014/jmb.2106.06056.
- TANG, Y.; DANANJAYAN, S.; HOU, C.; GUO, Q.; LUO, S.; HE, Y. A survey on the 5G network and its impact on agriculture: challenges and opportunities. Computers and Electronics in Agriculture, v. 180, p. 105895, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.compag.2020.105895.
- ZVINAVASHE, A. T.; MARDAD, I.; MHADA, M.; KOUISNI, L.; MARELLI, B. Engineering the plant microenvironment to facilitate plant-growth-promoting microbe association. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 69, n. 45, p. 13270-13285, 2021. DOI: https://doi.org/10.1021/acs.jafc.1c00138.