Megatendências / Intensificação Tecnológica e Concentração da Produção

Cadeias de comercialização mais curtas e dinâmicas

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A expansão do modelo industrial de produção e processamento de alimentos, desde finais do século 20, tem provocado em paralelo uma crescente preocupação com a origem e a forma como os alimentos são elaborados. O interesse pela procedência e a percepção de confiança nos alimentos por parte dos consumidores, somado ao estreitamento da margem custo-preço para os produtores de alimentos, estimulou, nas últimas décadas, a criação de outros modelos de redes alimentares. Com base em critérios socialmente construídos sobre qualidade e tendo as cadeias curtas de produção e abastecimento como estratégia de relação com os mercados e o abastecimento por reciprocidade, a produção de alimentos passa a constituir elemento fundamental em uma perspectiva territorial de desenvolvimento rural sustentável.

Nesse âmbito, em que se atribui importância à valorização dos recursos e à diferenciação dos produtos territoriais, a conexão entre produtores e consumidores passa a exigir que os produtos ofertem informações sobre o lugar, pessoas e formas de produção. As crises sanitária, econômica e social, decorrentes da pandemia de Covid-19, impactaram a segurança alimentar, intensificarama fome (FAO, 2021)3De acordo com o relatório da FAO (2021), estima-se que entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo enfrentaram a fome em 2020 ─ 161 milhões a mais do que em 2019. Quase 2,37 bilhões de pessoas enfrentaram não ter acesso à alimentação adequada em 2020 ─ aumento de 320 milhões de pessoas em apenas 1 ano. Segundo o relatório, o alto custo das dietas saudáveis e os níveis persistentemente altos de pobreza e desigualdade de renda continuam a manter dietas saudáveis fora do alcance para cerca 3 bilhões de pessoas em todas as regiões do mundo. , evidenciaram ainda a importância de estratégias de circuitos curtos no abastecimento a parcelas significativas da população, associado à necessidade de que os alimentos sejam inócuos, saudáveis e produzidos de forma sustentável por comunidades prósperas (One Health).

Como tendência, vislumbra-se que a pandemia reforçará a vinculação alimentação-saúde e o aprofundamento de processos de encurtamento das distâncias entre produção e consumo e de valorização e diferenciação de produtos alimentares como estratégia, conforme explicitado nos princípios (Procisur, 2021) assumidos pelos países americanos para o fórum global sobre os sistemas agroalimentares, que aconteceu em 2021.

Haja vista uma atenção maior para esse tipo de circuito, há que se atentar para investimentos nos serviços de comunicação, infraestrutura de tecnologia de informação e redes móveis de forma a dar mais celeridade aos processos de aprendizagem e escoamento da produção. A relação de proximidade produtor-consumidor possibilita a troca de informações e aumenta o senso de responsabilidade de ambos na promoção de sistemas produtivos sustentáveis. Por sua vez, as próprias exigências legais dos produtos com sinais distintivos e as regras sanitárias de alimentos processados impõem aos agricultores e garantem e informam aos consumidores condições adequadas e saudáveis na produção dos alimentos.

 

Referências

  • FAO. In Brief The State of Food Security and Nutrition in the World 2021. Rome, 2021. 40 p. Disponível em: https://www.fao.org/documents/card/en/c/cb5409en/. Acesso em: 20 Aug. 2021.

  • PROCISUR. El Papel del I+D agroalimentaria en la transformación de los sistemas alimentarios en el Cono Sur. Informe del diálogo, Julio 2021