Megatendências / Intensificação Tecnológica e Concentração da Produção

Crescimento e Intensificação da Produção Agrícola Brasileira

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Algodão, soja, milho, carnes suína, bovina e frango, e frutas, em especial manga, são os produtos mais dinâmicos da agropecuária brasileira que terão maior crescimento da produção nos próximos 10 anos, segundo projeções recentes apresentadas pelo Mapa (Brasil, 2021). Os principais fatores impulsionadores do crescimento da produção agropecuária nacional são o mercado interno, a demanda internacional (exportações) e os ganhos de produtividade (Brasil, 2021). Estes demandarão esforços em infraestrutura (investimentos em logística, áreas portuária, rodoviária e de comunicação), crédito agrícola (formação de capital, acesso às inovações tecnológicas e estímulo à oferta de produtos agrícolas) e investimento em pesquisa (Vieira Filho et al., 2011).

O crescimento projetado da produtividade total dos fatores (PTF) até 2030 é de 1,6% (Brasil, 2021), positiva, mas menor que do período de 1975 a 2019 (3,4%). As séries históricas da PTF e de seus componentes mostram como tendências: redução de mão de obra ocupada, redução da área plantada devido aos ganhos de produtividade da terra, aumento do uso de capital. Essas tendências são corroboradas pelo ajuste de uma função de produção, que mostrou forte dominância da elasticidade do capital (92,5%) perante os demais fatores de produção (terra 6,8% e trabalho 0,7%), com crescimento médio da eficiência de 1,4% ao ano, conforme Mapa (Brasil, 2021). Essas indicações são corroboradas por Souza et al. (2020), ao analisarem o progresso tecnológico da agricultura brasileira em período recente: o nível ótimo de insumos que afeta a função de produção da agropecuária requer menor uso da terra e maior nível de tecnologia. 

Projeções de OECD/FAO (OECD; FAO, 2021) indicam que 87% do crescimento da produção agrícola mundial será proveniente do ganho de produtividade, e que a intensificação agrícola será responsável por 7% do crescimento da produção agrícola mundial até 2030. Quanto ao Brasil, essas projeções destacam, nesse particular contexto, a dupla safra de milho e soja, usada para maximizar a produtividade da terra. Tanto em Mapa (Brasil, 2021), quanto em OECD/FAO (2021), projeta-se que milho e soja deverão ter uso crescente para produção de biocombustíveis até 2030, impulsionados não apenas pelo uso em transportes, mas também para atingir metas ambientais e fortalecer o mercado agrícola doméstico. Eventos climáticos extremos podem causar volatilidade na produtividade de cereais, com impacto na oferta e nos preços (OECD; FAO, 2021). Outras fontes de incertezas citadas são ambientes macroeconômico e preços de fertilizantes e agroquímicos. A demanda poderá ser impactada por reforços na segurança alimentar, foco na sustentabilidade e políticas de biocombustíveis. 

A área plantada com lavouras deve ter um crescimento de 11,3 milhões de hectares até 2030 (concentrada em soja, cana-de-açúcar e milho), e, segundo Mapa (Brasil, 2021), a necessidade adicional de áreas poderá ser atendida por meio de substituição de culturas, pastagens naturais e sistema de plantio direto. 

Guidotti et al. (2015) consideram que iniciativas públicas e privadas têm influenciado a dinâmica de expansão e intensificação da agropecuária brasileira (por exemplo, moratórias da soja e da carne, novo Código Florestal, Plano ABC, INDC brasileira – Intended Nationally Determined Contributions, compromissos do Tropical Forest Alliance), via estímulo da expansão da agricultura pela substituição de pastagens, restringindo a expansão da pecuária e acelerando sua intensificação. A intensidade do efeito futuro dessas inciativas é, segundo esses autores, ainda incerta. 

Em cenários traçados por Marin et al. (2016) quanto à intensificação sustentável da agricultura brasileira até 2050, há indicações de que o crescimento da renda aumentará a demanda por proteína de origem animal. Apesar de a área de pastagens ter diminuído nas últimas décadas, o rebanho bovino e a produtividade da pecuária cresceram, e ainda haveria margem para crescimento (tanto em carne, quanto em leite). Os autores citam planejamento de longo prazo, legislação moderna, infraestrutura, crédito e posse da terra como fatores básicos para o futuro da agricultura brasileira, em especial para a pecuária baseada em pastagens. Ressaltam que intensificação agropecuária/ pecuária intensiva significa racionalizar o uso de insumos, controlar processos, otimizar investimento (custo fixo – terra) e gerir de forma moderna recursos e pessoas para geração de renda, ou seja, ser uma atividade não oposta à sustentabilidade.

Quanto à área cultivada com grãos, Marin et al. (2016) retomam a preocupação com a falta de infraestrutura logística para escoamento da produção e a dependência da importação de fertilizantes (há indícios de escassez mundial das reservas de fertilizante). Dessa forma, o aumento da capacidade de produção de fertilizantes no País seria condição para garantir a segurança alimentar e a consolidação como potência agrícola. Os autores indicam ainda que o aumento do uso de conhecimento e de tecnologia pelo setor agropecuário pode minimizar impactos negativos das mudanças climáticas e potencializar os possíveis efeitos positivos do clima sobre a agricultura brasileira (o avanço da pesquisa deve ser no sentido de incorporar os resultados mais recentes das respostas fisiológicas das culturas ao clima futuro e os novos cenários climáticos projetados). 

Segundo Marin et al. (2016), investimentos públicos em pesquisa agropecuária, assim como o desenvolvimento de tecnologia pelo setor privado, devem ser intensificados, em especial no que se refere à manutenção dos ganhos de produtividade (investimentos em tecnologia têm sido relevantes para a competitividade da agricultura brasileira no cenário internacional). Fazem referência, por fim, à necessidade de manutenção dos instrumentos de política pública, como crédito e extensão rural. 

Uma das estratégias de intensificação sustentável da agricultura citada na literatura – além da intensificação do uso de tecnologias com consequente efeito poupador de recursos escassos, efeito poupa-terra (Vieira Filho, 2016) – é a integração lavoura-pecuária, sem e com o componente florestal (Balbinot Junior et al., 2009; Vilela et al., 2012; Cordeiro et al., 2015; Barros et al., 2016). 

 

Referências

  • ALVARENGA, R. C.; SILVA, V. P.; GONTIJO NETO, M. M.; VIANC, M. C. M.; VILELA, L. Sistema integração lavoura-pecuária-floresta: condicionamento do solo e intensificação da produção de lavouras. Informe Agropecuário, v. 31, n. 257, p. 59-67, jul./ago. 2010.

  • BALBINOT JUNIOR, A. A.; VEIGA, A. M. M.; PELISSARI, A.; DIECKOW, J. Integração lavoura-pecuária: intensificação de uso de áreas agrícolas. Ciência Rural, v. 39, n. 6, p. 1925-1933, set. 2009.

  • BARROS, I.; MARTINS, C. R.; RODRIGUES, G. S.; TEODORO, A. V. Intensificação ecológica da agricultura. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros. 2016. (Embrapa Tabuleiros Costeiros. Documentos, 208). Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1052888/1/Doc208.pdf. Acesso em: 23 Ago. 2021.

  • BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Projeções do Agronegócio: Brasil 2020/21 a 2030/31: projeções de longo prazo. Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/politica-agricola/todas-publicacoes-de-politica-agricola/projecoes-do-agronegocio. Acesso em: 27 set. 2021.

  • CORDEIRO, L. A. M.; VILELA, L.; MARCHÃO, R. L.; KLUTHCOUSKI, J.; MARTHA JÚNIOR, G. B. Integração lavoura-pecuária e integração lavoura-pecuária-floresta: estratégias para intensificação sustentável do uso do solo. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 32, n. 1/2, p. 15-43, 2015.

  • GUIDOTTI, V.; CERIGNONI, F.; SPAROVEK, G.; PINTO, L. F. G.; BARRETO, A. A funcionalidade da agropecuária brasileira (1975 a 2020). Sustentabilidade em Debate, n. 2, dez. 2015. Disponível em: https://www.imaflora.org/public/media/biblioteca/569d15c548199_funcionalidadeagropecuariaSustentabilidadeemdebate2-Materialcomplementar.pdf. Acesso em: 23 ago. 2021.

  • MARIN, F. R.; PILAU, F. G.; SPOLADOR, H. F. S.; OTTO, R.; PEDREIRA, C. G. S. Intensificação sustentável da agricultura brasileira: cenários para 2050. Revista de Política Agrícola, v. 25, n. 3, p. 108-124, 2016.

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  • SOUZA, G. S.; GOMES, E. G.; ALVES, E. R. A.; GASQUES, J. G. Technological progress in the Brazilian agriculture. Socio-Economic Planning Sciences, v. 72, 100879, 2020. DOI: 10.1016/j.seps.2020.100879.

  • VIEIRA FILHO, J. E. R. Expansão da fronteira agrícola no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: IPEA, 2016. (IPEA. Texto para discussão, 2223). Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6909/1/td_2223.PDF. Acesso em: 23 ago. 2021.

  • VIEIRA FILHO, J. E. R.; GASQUES, J. G.; SOUSA, A. G. Agricultura e crescimento: cenários e projeções. Brasília, DF: Ipea, 2011. (IPEA. Texto para discussão, 1642). Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/1450/1/td_1642.pdf. Acesso em: 23 Ago. 2021.

  • VILELA, L.; MARTHA JÚNIOR, G. B.; MARCHÃO, R. L. Integração lavoura-pecuária-floresta: alternativa para intensificação do uso da terra. Revista UFG, v. 13, n. 13, p. 92-99, dez. 2012.