Megatendências / Intensificação Tecnológica e Concentração da Produção

Crescimento e intensificação da produção florestal brasileira

Download

A atividade florestal e a cadeia produtiva a ela associada se caracterizam por uma diversidade de produtos, compreendendo um conjunto de atividades e segmentos que incluem desde a produção até a transformação da madeira in natura em celulose, papel, painéis de madeira, pisos laminados, madeira serrada, carvão vegetal e móveis, além de produtos não madeireiros (Oliveira et al., 2017). O setor de base florestal ganha corpo com a indústria dos bioprodutos. Quase a totalidade das companhias investe em novos itens, muitos deles serão alternativas sustentáveis para as mais diversas finalidades. São produtos e matérias-primas como óleos, bio-óleos, lignina, nanofibra, nanocelulose e nanocristais que podem ser empregados nas cadeias alimentícia, automobilística, de cosméticos e medicamentos. Com investimento em tecnologia e ciência, a indústria de base florestal fará da árvore cultivada uma fonte inesgotável de matéria-prima sustentável. O que antes era subproduto, como a lignina, utilizada como insumo de energia limpa das unidades fabris, ganha usos e protagonismo frente às mudanças climáticas, por ser matéria-prima alternativa aos produtos e materiais de origem fóssil. 

O melhoramento florestal, ferramenta-chave para o aumento da produtividade, iniciado em 1941, teve avanços significativos nas décadas de 1970 e 1980, culminando com as primeiras florestas clonais plantadas em 1979. Em anos recentes, a genética molecular e a genômica passam a predominar com as pesquisas da genética florestal, paralelamente a uma diminuição significativa do melhoramento genético florestal clássico. No período de 1990 a 2015, o Brasil tem aumentado a sua área de plantação florestal comercial, contudo, a uma taxa geométrica média (TGM) anual de 1,8%, inferior à taxa mundial (2,1%), e ocupa a nona posição, em termos de área de florestas plantadas, respondendo por menos de 2,7% dos plantios florestais do mundo (FAO, 2016). Entretanto, há vantagens competitivas para a produção florestal em relação a outros países. Possui a maior produtividade mundial de coníferas e folhosas em plantios florestais comerciais, com foco na produção de madeira, podendo ampliar a sua participação global caso haja condições favoráveis ao setor (Relatório..., 2014). Em 2019, a área total de árvores plantadas totalizou 9 milhões de hectares, um aumento de 2,4% em relação a 2018 (8,79 milhões de hectares, considerando o ajuste conforme nova metodologia). Desse total, a maioria (77%) é representada pelo cultivo de eucalipto, com 6,97 milhões de hectares, e 18% de pínus, com 1,64 milhão de hectares. Além desses cultivos, existem 0,39 milhão de hectares plantados de outras espécies, entre elas a seringueira, acácia, teca e paricá (Relatório..., 2020).

Mesmo em anos difíceis como 2019 por causa da pandemia de Covid-19, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Relatório..., 2020), a indústria de base florestal representou 1,2% do PIB nacional e receita bruta total de 97,4 bilhões de reais, um crescimento de 12,6% em relação ao ano anterior. O setor brasileiro de árvores plantadas foi responsável pela geração de 13 bilhões de reais em tributos federais, o que corresponde a 0,9% da arrecadação total do Brasil. Esse valor representa um aumento de 3,3% em relação à arrecadação de 2018, em função dos segmentos de produtos florestais e celulose e papel, que tiveram um crescimento de 4,0% e 6,0% respectivamente, entre os anos de 2018 e 2019. Do total de tributos arrecadados em 2019, 24,3% são referentes a receitas previdenciárias, 21,7% de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), 15,5% de Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Confins), 13,1% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e 25,4% de demais tributos.

O manejo e a exploração das florestas nativas brasileiras, segundo o Serviço Florestal Brasileiro (Boletim..., 2020), também contribuem para o desenvolvimento econômico do nosso país. A área de floresta do Brasil equivale a 58,5% do seu território, cobrindo uma área de 497.962.509 ha. Desse total, 98% correspondem a florestas naturais, enquanto apenas 2% são florestas plantadas. Em 2018, a produção madeireira foi responsável por uma movimentação de 18,5 bilhões de reais, sendo 2,6 bilhões de reais provenientes da extração vegetal (floresta nativa) e 15,9 bilhões de reais (86% do total) da produção da silvicultura. Esse montante equivale a um total de 281.941.668 m³, e a quantidade de madeira proveniente da silvicultura supera 7,2 vezes a quantidade da extração vegetal de nativas (247.532.469 m³ x 34.409.199 m³). Apesar de a madeira da silvicultura apresentar números absolutos maiores que a madeira oriunda de florestas nativas, em termos de valores por volume, a madeira de florestas nativas apresenta um maior valor agregado (R$ 76,67/m³ x R$ 64,22/m³). A madeira de florestas nativas é mais destinada ao uso combustível, 66,2% dos 34.409.199 m³ extraídos, mas o maior valor agregado está relacionado à madeira para uso industrial (R$ 159,48/m³ para uso industrial x R$ 34,47/m³ para uso como carvão e lenha). Em relação a 2017 (271.530.992 m³), houve um aumento de 3,8% de produção madeireira, sendo um aumento de 5,6% do volume proveniente de silvicultura e uma redução de 7,4% do volume proveniente de floresta nativa Setor Florestal Brasileiro (SFB). Considerando a série histórica desde 1994, a extração vegetal vem representando um valor cada vez menor no mercado em relação aos produtos da silvicultura, passando de aproximadamente 75% do valor total de produção para 20% em 2018.

Analisando apenas essa produção proveniente de florestas naturais, observa-se que desde 2011 há uma tendência de queda nos valores dos produtos florestais madeireiros e de elevação nos produtos florestais não madeireiros. Essa queda dos madeireiros é acompanhada da queda na quantidade extraída, mas, em relação aos não madeireiros, há um aumento de 9% na produção (considerando um somatório total em toneladas de diferentes produtos), e um expressivo aumento de 72% no valor correspondente. Isso pode ser um indicativo de aumento do valor agregado do produto não madeireiro, impulsionado pela oferta e procura.

Conforme a publicação FRA-Global Forest resources assessment (FAO, 2016), o total de florestas no mundo cobre pouco menos de 4 bilhões de hectares. Os cinco países com maior área de florestas são Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China. Juntos, contam com mais de 54% da área de florestas em todo o mundo. A despeito da imensa potencialidade do setor, a participação do Brasil no mercado global de produtos florestais ainda é pequena, pois o País apresenta muitas barreiras ao comércio. O mercado mundial de produtos florestais, representado pelo valor total das exportações dos países, foi de aproximadamente 230 bilhões de dólares em 2015, e o Brasil participou com pouco mais de 3% desse mercado.

Apesar da alta taxa de desemprego no País em 2019 (11,9%), o setor de florestas plantadas continua com planos de investimento, com cerca de 20 bilhões de reais aplicados apenas em expansão nos últimos anos. No início da pandemia de Covid-19, ocorreram reduções na demanda global de produtos florestais, afetando especialmente as pequenas e médias empresas. Na maioria dos países, a indústria reduziu a produção no primeiro semestre de 2020, mas o nível de emprego foi mantido, diminuindo o impacto social. Dificuldades de logística levaram também a limitações ao acesso a peças de reposição, ferramentas e materiais, contribuindo para a redução da produção e de receitas (Relatório..., 2020). Segundo o documento de referência preparado para o Fórum das Nações Unidas – Secretariado de Florestas, o setor florestal foi considerado como essencial no Brasil, tendo sido afetado nos primeiros meses da pandemia (Tomaselli, 2020). Algumas empresas, em função da queda na demanda interna e postergação de exportações, interromperam a produção. No segundo semestre, tanto as exportações como o mercado local cresceram em alguns segmentos. Mais de 90% da oferta de madeira industrial no Brasil é proveniente de plantações florestais e, em geral, as operações florestais foram mantidas durante a pandemia, apesar do fato de que nos estágios iniciais alguma redução na demanda industrial de madeira foi enfrentada. A maioria das indústrias no Brasil continua suas operações, em maior ou menor grau. Em relação a florestas nativas, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) adotou medidas para mitigar os impactos econômicos causados pela pandemia de Covid-19 nos contratos de concessão florestal. 

 

Referências

  • BOLETIM SNIF 2019. Brasília, DF: 2020. 36 p. Disponível em:https://www.florestal.gov.br/publicacoes/1927-boletim-snif-2019-1-ed. Acesso em: 15 out. 2020.
  • FAO. Global forest resources assessment 2015: how are the world’s forests changing? 2nd ed. Rome, 2016. 46 p. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i4793e.pdf. Acesso em: 25 jun. 2020.
  • OLIVEIRA, Y. M. M.; OLIVEIRA, E. B. Plantações florestais: geração de benefícios com baixo impacto ambiental. Brasília, DF: Embrapa, 2017. 112 p. Disponível em: alice/handle/doc/1076130. Acesso em: 2 fev. 2020.
  • RELATÓRIO anual 2014. São Paulo: IBÁ, 2014. Relatório relativo a 2013. Disponível em: https://iba.org/datafiles/publicacoes/pdf/iba-2014-pt.pdf. Acesso em: 15 maio 2021.
  • RELATÓRIO anual 2020. São Paulo: IBÁ, 2020. Relatório relativo a 2019. Disponível em: https://iba.org/datafiles/publicacoes/relatorios/relatorio-iba-2020.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
  • TOMASELLI, I.  Initial Assessment of the Impact of COVID-19 on Sustainable Forest Management: Latin American and Caribbean States. 69 p. Disponível em: https://www.un.org/esa/forests/wp-content/uploads/2020/12/Covid-19-SFM-impact-LAC.pdf. Acesso em: 15 Oct. 2020.