Megatendências / Sustentabilidade

Aumento da pressão pelo uso e conservação dos recursos naturais: solo e agua

 

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O melhoramento convencional associado ao uso de ferramentas tecnológicas, tais como marcadores moleculares, transgenia e/ou edição gênica, tem potencial de promover ganhos exponenciais de produtividade e qualidade dos alimentos. A tendência do melhoramento genético de plantas e animais é intensificar o desenvolvimento de cultivares/raças/microrganismos que se adaptem às novas condições edafoclimáticas previstas para o futuro, principalmente no âmbito das mudanças climáticas (Eenennaam, 2016). 

Em regiões cuja disponibilidade hídrica é muito variável, reservatórios de pequeno porte, barragens subterrâneas (Silva et al., 2007) e captação de água da chuva em propriedades agrícolas podem melhorar a disponibilidade hídrica, a fim de atender aos usos múltiplos e reduzir a vulnerabilidade em relação à variabilidade hidrológica (Prado et al., 2017). Também é importante fazer o reúso da água na propriedade rural. Palhares et al. (2019) apresentam tecnologias e soluções para o uso eficiente da água na pecuária, bem como discutem o manejo de resíduos animais e sua utilização como fertilizante. Importante também são as tecnologias integradas, que contemplam o sensoriamento de solo, o controle de irrigação, a gestão da nutrirrigação e o gerenciamento do ciclo de cultivos (IGBE, 2015).

Na propriedade, é importante que se faça adequação ambiental, conforme prevê a Lei de Proteção da Vegetação Nativa, o novo Código Florestal, devido ao papel essencial do componente arbóreo das Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais para provisão de água, proteção do solo e manutenção de polinizadores e inimigos naturais de pragas. O Brasil assumiu o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, como parte da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) sob o Acordo de Paris (Brasil, 2017). A garantia de alcance desse compromisso dependerá também da oferta de sementes e mudas nativas.

A contenção dos processos erosivos contribuirá para a redução do assoreamento dos corpos hídricos e dos custos elevados do tratamento da água para o abastecimento. Nesse tema, a pesquisa pública poderá contribuir com o monitoramento e a modelagem hidrológicos, bem como com a valoração econômica. Quanto à paisagem rural, destaca-se a necessidade do planejamento de bacias hidrográficas, com a elaboração e implantação de políticas de incentivo à proteção e restauração de matas ciliares e nascentes, adequação de estradas, bem como de norteamento da destinação correta de resíduos sólidos e líquidos (Prado et al., 2017). A pesquisa tem potencial para apoiar, com ferramentas e métodos, as políticas, os programas e os projetos com foco na conservação do solo e da água no meio rural, como é o caso dos Pagamentos por Serviços Ambientais (Fidalgo et al., 2017). 

Além disso, são necessárias estratégias tais como: fortalecimento de mecanismos econômico-financeiros de incentivo ao manejo sustentável do solo e da água no meio rural, como créditos de carbono; proposição e implementação de sistemas de produção agropecuários integrados e focados na provisão de serviços ecossistêmicos múltiplos; desenvolvimento de sistemas de alerta; plataformas interativas para o acompanhamento pelo produtor das condições meteorológicas e seu impacto na produção agropecuária; apoio à elaboração e implementação de políticas de combate à desertificação e degradação do solo e da água no meio rural, bem como recomendações para o uso eficiente do solo e da água.

Referências

  • BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. PLANAVEG: Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa. Brasília, DF: MMA, 2017.
  • EENENNAAM, A. van. Melhoramento genético: novas técnicas e novos olhares. Agroanalysis, v. 36, n. 2, fev. 2016.
  • FIDALDO, E. C. C.; PRADO, R. B.; TURETTA, A. P. D.; SCHULER, A. E. Manual para pagamento por serviços ambientais hídricos: seleção de áreas e monitoramento. Brasília, DF: Embrapa, 2017. 80 p.
  • IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2015. Rio de Janeiro, 2015. 352 p. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94254.pdf. Acesso em: 20 set. 2021.
  • PALHARES, J. C. P.; VIANCELLI, A.; KUNZ, A.; SANCHES, A. C.; GAMEIRO, A. H.; BARADI, C. R. M.; AITA, C.; AMORIM, D. M.; MIOLA, E. C. C.; JESUS, F. L. F. de; MENDONÇA, F. C.; FONGARO, G.; BAZZO, H. L. S.; TREICHEL, H.; SCHIRMANN, J.; NASCIMENTO, J. G.; GATIBONI, L. C.; LANNA, M. C. da S.; MAGRI, M. E.; PAZ TIERI, M.; MORALES, R.; NICOLOSO, R. da S.; GONZATTO, R.; QUEIROZ, R. de; GIACOMINI, S. J.; PUJOL, S. B.; CHARLON, V. (ed.). Produção animal e recursos hídricos: tecnologias para manejo de resíduos e uso eficiente dos insumos. Brasília, DF: Embrapa, 2019. 201 p. E-book.
  • PRADO, R. B.; FORMIGA-JOHNSSO, R.; MARQUES, G. F. Uso e gestão da água: desafios para a sustentabilidade no meio rural. In: TURETTA, A. P. D. (ed.). As funções do solo, suas fragilidades e seu papel na provisão dos serviços ecossistêmicos. Boletim Informativo, v. 43, n. 2, p. 43-48, 2017.
  • SILVA, M. S. L.; MENDONÇA, C. E. S; ANJOS, J. B.; FERRREIRA, G. B.; SANTOS, J. C. P.; OLIVEIRA NETO, M. B. Barragem subterrânea: uma opção de sustentabilidade para a agricultura familiar do semi-árido do Brasil. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2007. 10 p. (Embrapa Solos. Circular técnica, 36).