Megatendências / Sustentabilidade

Crescimento dos mercados orgânicos e de produção agroecológica

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Sistemas agroecológicos ou orgânicos de produção merecem atenção, por serem conduzidos de forma a considerar a complexidade e a relação entre diversos processos observados nos agroecossistemas. Tais sistemas associam a prática de economia solidária, valorizando pequenos agricultores e agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais. Além disso, abordam pontos como preservação ambiental, soberania e segurança alimentar e nutricional, respeito aos saberes locais e não desperdício de alimentos e recursos (Soares et al., 2021), englobando tanto a produção orgânica como as demais agriculturas que seguem os princípios agroecológicos. 

Entre 2012 e 2019, o número de agricultores orgânicos registrados no Mapa triplicou (Brasil, 2019). Tal fato também reflete o interesse de consumidores por seus produtos. Em termos mundiais, é possível destacar que a agricultura orgânica é praticada em 72,3 milhões de hectares, manejados por, pelo menos, 3,1 milhões de agricultores (Willer et al., 2021). 

Esses autores apontam ainda que as vendas de alimentos orgânicos alcançaram mais de 106 bilhões de euros em 2019. A tendência de valorização de tais produtos se evidencia pelo movimento de consumidores que priorizam alimentos com qualidade diferenciada, preocupados com os processos produtivos que gerem menor impacto ambiental, resultem em menor risco à saúde e valorizem os produtores e trabalhadores rurais, entre outros aspectos (Maas et al., 2020). Além disso, a FAO, em 2018, declarou sua intenção em aumentar a escala de sistemas de produção baseados na agroecologia e reconheceu seu papel na Agenda 2030 como um elemento-chave para a implementação dos ODS e, em particular, dos objetivos nutricionais, de saúde e ambientais (FAO, 2021). 

Além do mercado de alimentos, há uma demanda considerável para que esses sistemas sejam estendidos para outros cultivos, como o algodão, por exemplo. A produção mundial por algodão orgânico tem crescimento de 3,9% ao ano, com produção de 250 mil toneladas de pluma na safra 2019/2020 e expectativa de crescimento de 50% para a safra seguinte. A produção brasileira de algodão orgânico (135 t na safra 2019/2020) cresceu 38% em relação ao ano anterior, colocando o Brasil no ranking das cinco maiores taxas de crescimento (Textile Exchange, 2021).

Em 2013, a FAO, em conjunto com o governo do Brasil, por meio da Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), e mais sete países parceiros (Argentina, Bolívia, Equador, Colômbia, Haiti, Paraguai e Peru) uniram forças para implementar o Projeto de Cooperação Sul-Sul Trilateral +Algodão, a fim de promover o desenvolvimento sustentável da cadeia do algodão na América Latina (FAO, 2021). O projeto +Algodão promove sistemas de produção sustentáveis e inclusivos, a partir de uma perspectiva integral da cadeia de valor do algodão, a fim de promover o desenvolvimento rural, a agregação de valor e o comércio justo, bem como impulsionar o sistema agrotêxtil. Ações nesse sentido devem se intensificar nos próximos anos.

Campos de produção orgânica de algodão da região Nordeste abastecem nichos de mercado como os da União Europeia (UE) e de alguns estados do Sul e do Sudeste do Brasil, que negociam por intermédio do comércio justo e remuneram melhor que a fibra convencional, exigindo, em troca, a certificação dos produtores (Coelho, 2021), o que representa uma tendência em ascensão. Além do apelo mercadológico, há o apelo social na produção do algodão orgânico. Segundo informações obtidas pelo projeto +Algodão, em 2019 havia 131,5 mil produtores de algodão na região, dos quais 77% eram agricultores familiares (FAO, 2021).

Apesar de todos esses aspectos, demandas de PD&I são apresentadas por este setor produtivo, destacando-se as seguintes: 1) avaliação e recomendação de materiais genéticos vegetais adaptados para os sistemas de produção, considerando a diversificação de espécies, a agrobiodiversidade e a complexidade desses sistemas (Machado et al., 2008); 2) desenvolvimento de práticas ou processos agropecuários adaptados aos sistemas, de forma a promover a conservação e melhoria dos recursos naturais (Araújo et al., 2018); 3) desenvolvimento de insumos como produtos biológicos destinados ao manejo do solo e ao manejo fitossanitário, avaliados nesses sistemas e eficientes para eles (Brasil, 2020).

Referências

  • ARAÚJO, J. B. S.; SIQUEIRA, H. M. de; SALES, E. F.; SOUZA, J. L. de. Tendências agroecológicas na produção agropecuária. Incaper em Revista, v. 9, p. 79-89, 2018. Disponível em: https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/bitstream/123456789/3373/1/tendenciasagroecologicasnaagropecuaria-araujo.pdf. Acesso em: 16 out. 2021. 
  • BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Bioinsumos podem ser aliados da produtividade em culturas orgânicas e convencionais. Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/bioinsumos-podem-ser-aliados-da-produtividade-em-culturas-organicas-e-convencionais. Acesso em: 16 out. 2021.
  • BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em 7 anos, triplica o número de produtores orgânicos cadastrados no ministério. Brasília, DF, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/em-sete-anos-triplica-o-numero-de-produtores-organicos-cadastrados-no-mapa. Acesso em: 16 out. 2021.
  • COELHO, J. D. Algodão: produção e mercados. Disponível em: https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/bitstream/123456789/808/1/2021_CDS_166.pdf. Acesso em: 16 jan. 2022.
  • FAO. Food and Agriculture Organization. Agroecology and the Sustainable Development Goals (SDGs). Disponível em: https://www.fao.org/agroecology/overview/agroecology-and-the-sustainable-development-goals/en. Acesso em: 19 out. 2021.
  • MAAS, L.; MALVESTITI, R.; GONTIJO, L. A. Work in organic farming: an overview. Ciência Rural, v. 50, n. 4, e20190458, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/3Xbgt3NnPvdxBNXWmCpYwsQ/?format=pdf&lang=en. Acesso em: 20 out. 2021.
  • MACHADO, A. T.; SANTILLI, J.; MAGALHÃES, R. A agrobiodiversidade com enfoque agroecológico: implicações conceituais e jurídicas. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica: Embrapa-Secretaria de Gestão e Estratégia, 2008. 98 p. (Embrapa-Secretaria de Gestão e Estratégia. Texto para discussão, 34). Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/555963/1/machado01.pdf. Acesso em: 16 out. 2021.
  • SOARES, E. A. de A.; SANTOS, S. C. L.; SILVA, L. K. C.; CARDOSO, J. E. do N.; COSTA, Z. L. C. de M. Sistemas de produção de base ecológica: uma alternativa para o desenvolvimento sustentável. Research, Society and Development, v. 10, n. 8, e59810817554, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i8.17554. Acesso em: 16 out. 2021.
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  • WILLER, H.; TRAVNICEK, J.; MEIER, C.; SCHLATTER, B. The world of organic agriculture: statistics and emerging trends 2021. 2021. 338 p. Disponível em: https://www.fibl.org/fileadmin/documents/shop/1150-organic-world-2021.pdf. Acesso em: 19 out. 2021.