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A pandemia revelou, em todo o mundo, a fragilidade das cadeias agroalimentares e dos sistemas de proteção social e potencializou a necessidade de se melhorar a saúde populacional por meio da nutrição, da alimentação saudável e da redução dos custos com saúde. 

Se, por um lado, o crescimento da obesidade e da desnutrição caracteriza uma crise nutrcional, por outro lado, há a busca por alimentos mais saudáveis e aspectos exclusivos, autênticos e singulares, o que sinaliza uma dicotomia no consumo de alimentos. 

De fato, a preocupação com a saudabilidade já era tendência consolidada (Embrapa, 2018), embora predominante nos estratos de renda mais elevados. Nesses estratos, aumenta o consumo de alimentos frescos (Global Panel on Agriculture and Food Systems for Nutrition, 2020), tais como frutas e hortaliças, produtos orgânicos, etc. Diversos estudos (Brasil, 2010; Les 10 tendances alimentaires US de 1´année selon whole foods market, 2017) indicam o crescimento da busca por alimentos mais saudáveis, vinculados à melhor nutrição e saúde (Embrapa, 2018).

No Brasil, nas classes de menor renda, o consumo de arroz e feijão é uma alternativa de prática alimentar saudável, já que são fontes de ácidos fenólicos e flavonoides (compostos bioativos) (Claro et al., 2016). Alimentos frescos, como frutas e hortaliças, são fontes de compostos bioativos, mas tendem a custar mais do que alimentos ultraprocessados. Assim, o consumo de feijão e arroz entre os brasileiros de baixa renda é positivo e deve ser estimulado (Carnauba et al., 2021). 

O envelhecimento da população – pessoas com mais de 65 anos passarão de 9,6% para 16% da população em 2030 – trará impactos no consumo de alimentos. O consumo de carne na população idosa é importante, pois a carne contém aminoácidos essenciais e compostos nutritivos de alta qualidade (Lynch; Koopman, 2018), assim como o consumo de lácteos (Matía-Martin et al., 2019), tendo em vista o seu aporte de cálcio altamente disponível para combater a osteoporose, o alto valor proteico da caseína e dos lactobacilos na defesa do organismo. Além disso, essa faixa da população tem consumo reduzido de gorduras, açúcares e alimentos com glúten. 

Os segmentos de saudabilidade e bem-estar têm tido crescimento contínuo. O mercado de alimentos funcionais mundial foi avaliado em 178 bilhões de dólares em 2019, e estima-se que alcance 268 bilhões em 2027, o que representa uma taxa de crescimento anual de 6,7% (Allied Market Research, 2021). De acordo com o mesmo estudo, os probióticos detêm a maior participação desse segmento e apresentam a maior expectativa de crescimento. 

O mercado global de alimentos e bebidas orgânicos, estimado em cerca de 200 bilhões de dólares em 2020, deverá atingir 496 bilhões em 2027, o que representa um crescimento anual de 14%. O segmento de frutas e hortaliças é um dos segmentos que mais deverá crescer (taxa anual de 14,7%) (Global Industry Analysts, 2021). 

Sob a ótica da saúde e nutrição, novas tecnologias estão surgindo para produzir e formular alimentos nutritivos e novas variações de alimentos mais saudáveis, ao mesmo tempo considerando preocupações ambientais e mudanças climáticas. Uma dessas tecnologias é a impressão 3D, que tem o potencial de produzir alimentos customizados em escala domiciliar (Lee, 2021).

Referências

  • ALLIED MARKET RESEARCH. Mercado de Alimentos funcionais. Disponível em: https://www.alliedmarketresearch.com/functional-food-market#:~:text=The%20functional%20food%20market%20size,that%20claims%20to%20improve%20health. Acesso em: 30 set. 2021
  • BRASIL Food Trends 2020. São Paulo: Fiesp: Ital, 2010. 173 p. Disponível em: https://alimentosprocessados.com.br/arquivos/Consumo-tendencias-e-inovacoes/Brasil-Food-Trends-2020.pdf. Acesso em: 20 ago. 2021.
  • CARNAUBA, R.; HASSIMOTTO, N.; LAJOLO, F. Estimated dietary polyphenol intake and major food sources of the Brazilian population. British Journal of Nutrition, v. 126, n. 3, p. 441-448 Aug. 2021. DOI: 10.1017/S0007114520004237. 
  • CLARO, R. M.; MAIA, E. G.; COSTA, B. V. et al. Food prices in Brazil: prefer cooking to ultra-processed foods. Caderno de Saúde Pública v. 32, n. 8, e00104715,  2016. DOI: 10.1590/0102-311X00104715. 
  • GLOBAL INDUSTRY ANALYSTS. Alimentos orgânicos e bebida: trajetória e análise do mercado global. Disponível em: https://www.strategyr.com/market-report-organic-foods-and-beverages-forecasts-global-industry-analysts-inc.asp. Acesso em: 29 set. 2021.
  • GLOBAL PANEL ON AGRICULTURE AND FOOD SYSTEMS FOR NUTRITION. Future Food Systems: for people, our planet, and prosperity. Sept. 2020. Disponível em: https://www.glopan.org/wp-content/uploads/2020/09/Foresight-2.0_Executive-summary_Future-Food-Systems_For-people-our-planet-and-prosperity.pdf. Acesso em: 19 Sept. 2021.
  • LEE J. A 3D Food Printing Process for the New Normal Era: A Review. Processes, v. 9, n. 9, p. 1495, 2021. DOI: https://doi.org/10.3390/pr9091495.
  • LES 10 tendances alimentaires US de l´année selon whole foods market. Disponível em: https://www.lsa-conso.fr/les-10-tendances-alimentaires-us-de-l-annee-selon-whole-foods-market,252435. Acesso em: 20 set. 2021.
  • LYNCH, G. S.; KOOPMAN, R. Dietary meat and protection against sarcopenia. Journal of Meat Science. 2018. Disponível em: https://rest.neptune-prod.its.unimelb.edu.au/server/api/core/bitstreams/dc93dd1c-b575-50d2-9307-0813f53cafaf/content Acesso em: 18 jan. 2022
  • MATÍA-MARTÍN, P.; TORREGO-ELLACURÍA, M.; LARRAD-SAINZ, A.; FERNÁNDEZ-PÉREZ C.; CUESTA-TRIANA F.; RUBIO-HERRERA, M. Á. Effects of Milk and Dairy Products on the Prevention of Osteoporosis and Osteoporotic Fractures in Europeans and Non-Hispanic Whites from North America: A Systematic Review and Updated Meta-Analysis. Advances in Nutrition, v. 1, n. 10, Suppl_2, p. S120-S143, 2019. DOI: 10.1093/advances/nmy097. 
  • NASCIMENTO, W. M.; CARVALHO, H. M. G.; SIQUEIRA, K. B. O consumo de hortaliças na pandemia. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2020. 20 p. Disponível em: https://www.embrapa.br/hortalicas/pesquisa-consumo-covid19. Acesso em: 21 ago. 2021.