Megatendências / Transformações Rápidas no Consumo e na Agregação de Valor

Um mundo mais vegetariano, flexitariano e vegano

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A relação entre dieta e saúde sempre existiu, mas nos últimos anos tem sido motivada também por maior preocupação com o meio ambiente e bem-estar animal, configurando-se como tendência crescente. De acordo com Révillion et al. (2020), o vegetarianismo e veganismo representam um nicho de mercado de forte crescimento no mundo. 

A popularidade do vegetarianismo e do veganismo nos Estados Unidos tem aumentado o número de restaurantes especializados nessa culinária: de 55, em 1993, para cerca de 971 em 2018 (Meticulous Market Research, 2021). No Canadá, uma pesquisa da Dalhousie University revelou que 45% dos canadenses concordam com uma possível substituição da carne em suas dietas (Scott-Reid, 2019). Na Alemanha, dados do Statista apontam crescente número de restaurantes veganos: de 137, em 2015, para 242 em 2020. Nessa mesma época, a proporção de alemães autodeclarados vegetarianos aumentou de 7,6% para 9,3%, e de veganos, 1,2% para 1,6% (Simons et al., 2021). Também no Reino Unido, pesquisas recentes realizadas pelo YouGov relatou que 1% dos britânicos se consideram veganos, 3% vegetarianos e 14% flexitarianos; além disso, 50% da população gostaria que houvesse mais opções de restaurantes veganos e vegetarianos (Capper, 2021). No Brasil, a população autodeclarada vegetariana passou de 8%, em 2012, para 14%, em 2018 (Ibope Inteligência, 2018).

O vegetarianismo e o veganismo se tornaram populares, e mais do que nunca é fácil encontrar essas opções em cardápios de restaurantes e estabelecimentos variados (Scott-Reid, 2019). Enquanto o vegetarianismo é uma opção de uma dieta sem carnes, o veganismo é considerado um estilo de vida, no qual o vegano não consome nada em que o processo de produção tenha na sua origem o animal. Apesar de diferentes, em geral, esses dois conceitos são percebidos como intimamente relacionados. Para alguns o veganismo e o vegetarianismo são percebidos como uma libertação e provedores de bem-estar (Simons, 2021), para outros, é um comportamento frustrante e dogmático (Scott-Reid, 2019). Independentemente dessas visões, fica claro que há de fato um movimento em prol de uma alimentação saudável, mais rica em vegetais e com menos carne. 

O fato de as pessoas estarem mais dispostas a reduzir o consumo de carne do que eliminá-la deu origem a um novo comportamento: o flexitarianismo7O flexitarianismo é uma dieta fundamentada em plantas, laticínios e ovos, com consumo reduzido de carne. Seu conceito é amplo e envolve desde consumidores que optam por uma decisão de não comer carne em todas as refeições, passando por aqueles que preferem uma dieta basicamente vegetariana, complementada com um hambúrguer de carne ocasionalmente, até os que evitam carne um dia por semana (Capper, 2021).. Adultos e jovens, em particular, estão migrando para essa dieta, percebendo-a como uma opção mais branda, em que não é preciso ser vegetariano completo, ou comedor de carne, mas algo entre essas alternativas (Kemper; White, 2021). 

O flexitarianismo parece estar crescendo entre os consumidores (Capper, 2021), mas há incerteza se esse comportamento vai se consolidar como uma tendência ao redor do mundo. O flexitarianismo atrairá atuais veganos e vegetarianos para uma dieta menos rígida? Ou o movimento será o contrário: vai seduzir consumidores onívoros para que reduzam o seu consumo de carne e, de forma incremental, convertê-los em futuros vegetarianos/veganos? Esse é um sinal forte com potencial para provocar grandes impactos na alimentação do futuro.

Referências

  • CAPPER, J. A sustainable future isn’t vegan, it’s flexitarian. VetRecord, v. 9, Jan. 2021. DOI: 10.1002/vetr.47.

  • IBOPE INTELIGÊNCIA. Pesquisa de opinião pública sobre vegetarianismo. 20 maio 2018. Disponível em: https://www.svb.org.br/2469-pesquisa-do-ibope-aponta-crescimento-historico-no-numero-de-vegetarianos-no-brasil. Acesso em: 24 set. 2021.

  • KEMPER, J. A.; WHITE, S. K. Young adul’s' experiences with flexitarianism: The 4Cs. Appetite, v. 160, May, 2021. DOI: 10.1016/j.appet.2020.105073. 

  • METICULOUS MARKET RESEARCH Microalgae Market by Distribution Channel (Consumer Channel, Business Channel), Type (Spirulina, Chlorella, Dunaliella Salina, Haematococcus Pluvialis), Application (Nutraceuticals, Food and Beverages, Animal Feed, Cosmetics) - Global Forecast to 2028. Disponível em: https://www.marketresearch.com/Meticulous-Research-v4061/Microalgae-Distribution-Channel-Consumer-Business-14814813/. Acesso em: 27 set. 2021

  • RÉVILLION, J. P. P.; KAPP, C.; BADEJO, M. S.; DIAS, V. V. O mercado de alimentos vegetarianos e veganos: características e perspectivas. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 37, n. 1, Mar. 2020. DOI: 10.35977/0104-1096.cct2020.v37.26603.

  • SIMONS, J.; VIERBOOM, C.; KLINK-LEHMANN; HARLEN, I.; HARTMANN, M. Vegetarianism/Veganism: A Way to Feel Good. Sustainability, v. 13, n. 7, p. 3618.Disponível em: https://www.mdpi.com/2071-1050/13/7/3618/htm. Acesso em: 24 set. 2021. 

  • SCOTT-REID, J. The year of the vega. Macle’n's, v. 131, n. 12, Jan. 2019, p. 18. Disponível em: https://archive.macleans.ca/article/2019/1/1/the-year-of-the-vegan. Acesso em: 24 Sept. 2021.