Impactos

Novos tempos, novos rumos para a pesquisa agropecuária

Planejamento estratégico

A Embrapa é considerada pioneira na produção de documentos estratégicos para a pesquisa agropecuária, orientando-se, desde sua criação, em 1973, por intermédio de diversos desses documentos. A partir de 1988, a Empresa passou a adotar um processo sistemático de planejamento estratégico, concretizado na publicação do Plano Diretor da Embrapa (PDE). Desde então, o PDE vem sendo revisto e atualizado periodicamente, por meio de consulta a diversos segmentos da sociedade, ganhando novas versões em intervalos regulares de tempo. É a partir dessa publicação que a Embrapa estabelece orientações para sua atuação, com reflexo em diversas atividades (pesquisa, gestão, transferência de tecnologias, etc.). 

Em 2020 a instituição lançou seu VII PDE, que passou a servir de referência para o realinhamento de sua programação de pesquisa e até mesmo de sua adesão a compromissos internacionais, tais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, não há como negar que a pandemia afetou alguns processos internos, tais como a elaboração do próprio Balanço Social. De qualquer forma, muitas conquistas continuaram sendo alcançadas, especialmente as que propiciaram novos rumos para a Embrapa. É o que veremos a seguir.

O Balanço Social 2020

Em 2020, devido à emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do novo coronavírus Sars-CoV-2, até mesmo o processo de avaliação de impactos de tecnologias, realizado de forma sistemática por todas as Unidades de Pesquisa da Embrapa, exigiu algumas adaptações. O método utilizado na Embrapa para avaliar impactos sociais, ambientais e do ponto de vista do desenvolvimento institucional considera visitas ao campo, entrevistas aos produtores rurais, parceiros e demais envolvidos no processo de desenvolvimento e transferência de tecnologias. 

A realização desses estudos exigiu alguma adaptação, sempre considerando, prioritariamente, a saúde das pessoas. Dessa forma, são apresentados, nesta edição do Balanço Social, os resultados dos estudos de impactos que foram possíveis de ser estimados em segurança, muitas vezes remotamente, fazendo uso de todas as adaptações impostas à sociedade em 2020. É importante ainda ressaltar outra particularidade de 2020: a alta do dólar. Considerando que muitos valores praticados na agricultura são influenciados pela moeda americana, observamos que os benefícios econômicos estimados refletiram também esse aspecto do setor agropecuário.

Em 2020, o lucro social foi de 61,85 bilhões de reais, dos quais 98,15% foram relativos aos benefícios econômicos de uma amostra de 152 tecnologias e cerca de 220 cultivares Embrapa, enquanto 1,2 bilhão de reais foi calculado a partir dos indicadores sociais e laborais da Embrapa. Em termos reais, observamos um aumento de 4% nos benefícios econômicos proporcionados pelas tecnologias da Embrapa ao setor agropecuário em relação a 2019.

O gráfico Lucro social e orçamento da Embrapa apresenta uma série com o lucro social da Embrapa, mostrando uma comparação com o orçamento anual da Empresa no mesmo período. Todos os valores foram corrigidos para dezembro de 2020 com o uso do IGP-DI.

Lucro Social e Orçamento da Embrapa*

 

O VII Plano Diretor da Embrapa

Os avanços recentes e as tendências para o futuro da agricultura brasileira apontam para a oportunidade de nova transformação agrícola baseada em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Essa nova agricultura terá como alicerce os avanços na fronteira do conhecimento a respeito de temas tais como biotecnologia, tecnologias digitais, bioeconomia, gestão de risco e convergência tecnológica. Tais avanços científicos e tecnológicos, por sua vez, criarão condições apara promover a geração de mais valor para as cadeias produtivas e para a sociedade, ao mesmo tempo em que assegurarão a oferta de mais e melhores produtos e, consequentemente, a segurança alimentar da sociedade brasileira, provendo a preservação da base dos recursos naturais. Além disso, contribuirão, cada vez mais, para o desenvolvimento regional e bem-estar das populações rural e urbana.

O VII PDE incorpora as transformações em curso na agricultura e materializam os principais direcionamentos da Empresa para os próximos 10 anos (2020-2030). Para a elaboração desse documento, a instituição baseou-se em evidências e percepções contidas em uma ampla fonte de dados, estudos e instrumentos de coleta de informações: consultas aos empregados de suas Unidades Centrais e Descentralizadas; consultas e entrevistas com públicos de interesse (stakeholders); workshops com participantes do setor produtivo, de instituições acadêmicas, do governo e da própria Embrapa. Com base nessas consultas, a Embrapa chegou a seu posicionamento estratégico e ao estabelecimento de seu slogan (Inovar para Transformar), assim como de sua missão: “viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira”.

Esse novo PDE conta com uma inovação importante: o estabelecimento de objetivos estratégicos, associados ao cumprimento de metas. Ao todo, são 11 objetivos e 29 metas. Além disso, toda a lógica do documento e, consequentemente, da própria atuação da Embrapa, foi organizada com a elaboração de um mapa estratégico, que apresenta a síntese do encadeamento entre os objetivos estratégicos e os processos internos, com os respectivos impactos esperados. Os objetivos e metas estratégicos do VII PDE estão classificados em duas categorias: objetivos finalísticos, associados ao ecossistema de inovação; e objetivos de gestão, associados à eficiência organizacional.

Mapa estratégico da Embrapa

Ilustração: Renato da Cunha Tardin. Fonte: VII PDE

Na categoria do ecossistema de inovação, estão contemplados os seguintes objetivos: 1) gerar soluções tecnológicas e oportunidades de inovação para promover a sustentabilidade e competitividade da agropecuária nacional; 2) ampliar e qualificar a base de dados e informações sobre recursos naturais do território nacional; 3) gerar conhecimentos e tecnologias que promovam agregação de valor a produtos, processos e serviços oriundos das cadeias agropecuárias e agroindustriais; 4) promover e fortalecer PD&I para segurança e defesa zoofitossanitária da cadeia agropecuária; 5) desenvolver tecnologias e conhecimentos que contribuam para a bioeconomia; 6) gerar e disponibilizar conhecimento, práticas produtivas e alternativas tecnológicas sustentáveis voltadas para o desenvolvimento regional sustentável e a inclusão produtiva; 7) desenvolver informação, conhecimento e tecnologia para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas; e 8) otimizar os sistemas produtivos agropecuários e agroindustriais por meio da automação de processos e da agricultura de precisão e digital.

Na categoria de melhoria da gestão e da eficiência organizacional, os objetivos estratégicos são os seguintes: 9) racionalizar o uso de recursos orçamentários e financeiros, buscar sua ampliação e a diversificação de fontes, visando à eficiência operacional e à sustentabilidade institucional; 10) fortalecer e consolidar a excelência na governança e na gestão institucional; e 11) ampliar a transformação digital da Embrapa, estruturando a tecnologia da informação, a governança e a gestão de dados e promovendo a transferência e o uso do conhecimento na era digital. Os impactos das ações da Embrapa realizadas a partir dos 11 objetivos estratégicos estão classificados em 5 grandes grupos: redução de custos, sustentabilidade da agricultura, agregação de valor, aumento da produtividade e inclusão produtiva. Portanto, é a partir dessa articulação entre objetivos e metas estratégicas que toda a atuação da Embrapa está sendo redirecionada. 

Programação de pesquisa: revisão e comunicação

A Embrapa organiza sua pesquisa em grandes temas, reunindo seus projetos em portfólios temáticos, os quais são administrados por seus Comitês Gestores de Portfólios (CGPorts). Para definir os temas estratégicos tratados pelos portfólios, foram observadas as megatendências apontadas para a agricultura brasileira, bem como forças modeladoras do futuro. Na sequência, foram identificados os principais gargalos para o enfrentamento do cenário futuro, traduzidos pelos Desafios para Inovação, desdobrados a partir dos objetivos estratégicos da Empresa. Por meio desses desafios, a pesquisa desenvolvida pela Embrapa dialoga diretamente com o setor produtivo e entrega soluções para os diferentes segmentos da sociedade brasileira, em atendimento às demandas regionais, de biomas ou de cadeias produtivas.

Por considerar importante o diálogo entre a pesquisa e a sociedade, a Embrapa também estabeleceu em 2020 uma nova abordagem em sua comunicação, incorporando a perspectiva dos portfólios para fazer uma atuação transversal e passar mensagens relacionadas aos seus temas. Com isso, surgiu a Comunicação via Portfólios. Profissionais de pesquisa e de comunicação começaram a pensar juntos nos desafios que cada área envolve e a propor um modo de atuação que ultrapassa os limites dos centros de pesquisa e cria redes de trabalho transversais, dando respostas integradas e completas a questões que abordam amplo espectro.

Esse trabalho teve a adesão de gestores, pesquisadores e comunicadores e já começou a construir uma estrutura de comunicação temática forte. Por meio da adoção em etapas, atualmente 14 portfólios já estão associados a equipes de comunicação. Pioneiras, elas abrem caminho para que todos os 34 portfólios articulem redes de comunicação relacionadas ao tema, conseguindo levantar informações em pouco tempo, dar respostas contextualizadas e apresentar de maneira bem completa o que a Embrapa desenvolve nos seus laboratórios de pesquisa e campos experimentais, ao lado de parceiros do setor produtivo. Acesse a página de Portfólios no Portal Embrapa.

A comunicação por temas estratégicos é um modo novo de a Embrapa falar à sociedade e ao seu público interno, de atuar de modo cooperativo internamente e apresentar de maneira efetiva o seu trabalho à sociedade brasileira.

Portfólios Embrapa
Agricultura Irrigada Inovação Organizacional
Alimentos: segurança nutrição e saúde Inovação Social na Agropecuária
Amazônia Insumos Biológicos
Aquicultura Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Automação, Agricultura de Precisão e Digital Inteligência, Gestão e Monitoramento Territorial
Biotecnologia Avançada Aplicada ao Agronegócio Leite
Cacau Manejo Racional de Agrotóxicos
Café Mudanças Climáticas
Carnes Nanotecnologia
Convivência com a seca no Semiárido Nutrientes para a Agricultura
Energia, Química e Tecnologia da Biomassa Pastagens
Fibras e Biomassas para Uso Industrial Recursos Genéticos
Florestal Sanidade Animal
Fruticultura Temperada Sanidade Vegetal
Fruticultura Tropical Serviços Ambientais
Grãos Sistemas de Produção de Base Ecológica
Hortaliças Solos do Brasil

 

Alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Em 2015, a ONU estabeleceu uma agenda mundial com 17 ODS, que visam à construção e implementação de políticas públicas para guiar a humanidade até 2030. Participaram da elaboração dessa iniciativa 193 países-membros. A agenda contempla um plano de ação internacional para o alcance dos 17 ODS, desdobrados em 169 metas, que abordam diversos temas fundamentais para o desenvolvimento humano, com base em cinco pilares, denominados os 5 Ps da sustentabilidade: pessoas (social), planeta (ambiental), prosperidade (econômica) e parceria e paz (institucionais).

Os 17 ODS envolvem temáticas diversificadas tais como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança e meios de implementação.

A pesquisa agropecuária nacional se apresenta como forte aliada do Brasil e do planeta no alcance das metas estabelecidas nessa Agenda. Por isso a Embrapa vinculou sua atuação a todos os 17 ODS, com aderência a 82 das 169 metas e aos 5 pilares da sustentabilidade. Em 2017, foi criada a Rede ODS Embrapa, uma iniciativa de ação coletiva constituída por 888 empregados, visando à internalização da Agenda 2030, bem como ao estabelecimento do compromisso de contribuir com as metas ODS em todos os âmbitos da Empresa. Destacam-se como ações da Rede o lançamento da Coleção ODS, composta por 18 e-books, que refletem contribuições da Embrapa e de seus parceiros aos 17 ODS, bem como a inserção de soluções tecnológicas na Plataforma de Boas Práticas da ONU, reveladoras dos impactos social, econômico e ambiental para a agricultura brasileira.

A Embrapa e os ODS

Assista ao programa Conexão Ciência com a pesquisadora da Embrapa Daniela Lopes.

Em 2020, a Rede ODS Embrapa ampliou seus esforços, mesmo diante dos desafios apresentados pela pandemia da Covid-19. Nesse contexto, foi realizado o ciclo de palestras A Embrapa e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que levou a uma forte articulação interna e externa e se configurou em robusta ferramenta de gestão para subsidiar a tomada de decisões pela Empresa rumo ao cumprimento da Agenda 2030. Essa mobilização também resultou no compromisso da Embrapa ao incluir os ODS como balizadores de práticas e comportamentos, em estreita sintonia com o valor de sustentabilidade presente no VII PDE. A partir desse momento, seus instrumentos de pesquisa e de inovação passaram a ser alinhados à Agenda 2030 para monitorar e dimensionar os impactos de suas tecnologias na sociedade. A ideia é promover a inclusão produtiva de milhões de pessoas, assim como a conservação de biomas, no âmbito de sua biodiversidade (fauna, flora) ou de seus recursos abióticos (água, solos, atmosfera, etc.), além de contribuir para a resiliência de comunidades e biomas em face das mudanças climáticas. Saiba mais sobre a Embrapa nos ODS.

Neste Balanço Social, das 152 tecnologias selecionadas em 2020 para a avaliação de impacto, 140 contribuem para o alcance dos 5 pilares da Agenda 2030: 116 para pessoas, 57 para prosperidade, 80 para planeta e 30 para paz e parcerias. Acesse a lista completa de tecnologias com seus respectivos indicadores de impacto.