01/10/99 |

Brasil ataca mercado internacional de frutas

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Nos próximos dois anos as maiores empresas agrícolas do Vale do São Francisco deverão estar utilizando um modelo de produção integrada de frutas como uva e manga para atender definitivamente às exigências dos mercados europeu e americano, e se livrarem de uma vez por todas das exigências e barreiras fitossanitárias impostas pelos principais compradores internacionais da fruta made in Brazil. Para ajudá-las, a Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, iniciou junto aos maiores grupos frutícolas da região trabalho para dotar de infra-estrutura tecnológica toda a produção destinada à exportação, de tal forma que seja possível ter-se um controle detalhado de todas as etapas do processo produtivo, desde a obtenção de mudas à pós-colheita.

A idéia do empresariado e do Governo é que com a adoção do modelo integrado de produção, o país atenda todas as exigências fitossanitárias das barreiras impostas pelos importadores estrangeiros, principalmente os Estados Unidos, Europa e Japão. "Vamos transformar o Vale do São Francisco na maior região frutícola do mundo", disse o ministro Marcus Vinícius Pratini de Moraes, durante sua visita semana passada à região. Para fazer cumprir esta promessa Pratini de Moraes deverá transferir nos próximos três anos cerca de R$ 50 milhões, através do financiamento direto do Governo às ações de pesquisa e transferência de tecnologia da Embrapa.

O calcanhar de Aquiles das exportações de frutas brasileiras é o controle de pragas e doenças que atrapalham a produção de fruteiras como manga, melão e papaia. As barreiras já não são mais econômicas e sim de ordem fitossanitária, usadas pelos grandes mercados internacionais inclusive para se preservarem do processo de globalização da economia mundial, cuja a principal regra é a da produção obtida a baixos custos.

Hoje o Brasil investe R$ 30 milhões por ano nessa área. O ministro garante que a cada ano o país vai aumentar em 50% os investimentos no financiamento de pesquisas para tornar a fruta nacional sem restrições dessa ordem no mercado mundial. A meta do Ministério na adoção do modelo integrado de produção é diminuir gradativamente o uso de defensivos agrícolas na produção das frutas. "Quanto menos agrotóxicos, maiores nossas chances de consolidar as vendas de exportação", prega Pratini de Moraes.

A Embrapa, junto aos produtores, tem instalados 800 experimentos nos pólos irrigados em todo o país. 400 em grandes propriedades e mais 400 entre os pequenos e médios produtores. Pelo volume de trabalho, estima-se que nos próximos cinco anos haja no país cerca de 100 mil hectares plantados sob o regime integrado de produção. Só com a cultura da uva, as pesquisas em parceria da Embrapa com a iniciativa privada estão avaliando em campo sete mil híbridos.

"A fruticultura tem crescido anualmente, em média, cerca de 14%, nos últimos oito anos", informa o agrônomo Luiz Freire da Embrapa Semi-Árido. A ambição do Governo e dos empresários do setor é de que o Programa de Produção Integrada do Vale do São Francisco se torno em curto prazo o segundo maior das Américas.

De janeiro a agosto deste ano as exportações de frutas brasileiras já alcançaram a soma de US$ 92 milhões, contra US$ 61 milhões no mesmo período do ano passado. A manga é um bom exemplo do crescente volume de investimento na área: com a expansão das áreas de plantio e a excelente produtividade das variedades Tommy Atkins, Keitt e Haden, por exemplo, a estimativa dos técnicos é de que em quatro anos o Brasil disponha de cerca de 160 mil toneladas\ano para a exportação, que em 97 vendeu mais de US$ 20 milhões. A garantia de fornecimento de um volume nessas dimensões é fator primordial na hora de fechar negócio com os lucrativos mercados europeu, japonês e americano.

Até alguns anos atrás a presença de larvas da mosca-das-frutas na polpa da maga brasileira inviabilizava complemente sua exportação. Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura desenvolveram um tratamento para os frutos que acabou com o problema: antes de ser embalada a manga é submersa em tanques com água aquecida a uma temperatura que elimina as eventuais larvas no interior do fruto. "Agora estamos aprimorando essa técnica para ampliar a faixa de peso do fruto tratado", diz Antônio de Souza Nascimento, entomologista de Embrapa Mandioca e Fruticultura responsável pela pesquisa.

Marketing

Com a produção integrada vai ser possível acompanhar passo-a-passo as etapas da produção nas fazendas. Usando tecnologias de precisão, como o monitoramento via satélite com ferramentas de geoprocessamento, os produtores que aderirem ao novo modelo vão poder, por exemplo, saber exatamente de qual fileira do pomar saiu uma caixa de frutos que apresentem problemas como má-formação genética ou tamanho abaixo ou acima dos padrões estabelecidos.

Para o estabelecimento desses padrões as empresas vão contar, além do acompanhamento da Embrapa, com o monitoramento de órgãos oficiais dos países importadores, a exemplo da USDA (o ministério da agricultura norteamericano), que já possui escritórios instalados nas principais fazendas do Vale do São Francisco. "A produção integrada vai nos ajudar, num primeiro momento a quebrar as barreiras dos países compradores, mas no futuro o próprio mercado interno vai usufruir dos benefícios de um modelo de produção que deverá gradualmente impor um produto agrícola de melhor qualidade, mais produtivo e com menos agrotóxicos" prevê Domingo Haroldo Reinhardt, chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

"O produtor brasileiro precisa aprender a vender", acrescenta o ministro Pratini de Moraes. Com a problemática das barreiras fitossanitárias contornada, o Ministério ainda tem outra carta na manga nesse jogo da exportação de frutas frescas do mercado globalizado: propaganda. Os primeiros frutos da produção integrada saídos do Vale do São Francisco vão receber uma certificação de qualidade do Ministério da Agricultura. É o chamado "selo verde", garantindo que aquela produção foi monitorada dentro de padrões internacionais de produção agrícola.

A Apex (Associação dos Produtores para Exportação) e o Governo Federal pretendem investir a partir do próximo ano algo em torno de R$ 100 milhões só em campanhas de marketing na agricultura brasileira, metade desse volume só para frutas, garante Pratini, que pergunta: "se nos nossos supermercados já vendem água mineral francesa, por que não podemos colocar nossas frutas em Paris?". O ministro também vai se empenhar em fazer a propaganda no exterior dos "cafés do Brasil".

Mais informações: Embrapa Mandioca e Fruticultura Jornalista Dalmo Oliveira MTb N.º 0598 Tel.: (75) 721.2120 Fax: (75) 721.1118  

Tema: Produtos Agropecuários\Frutas\Tropicais 

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