A Embrapa reafirmou seu compromisso com a sustentabilidade da cadeia produtiva do açaí e as populações agroextrativistas durante o evento “Açaí: força da sociobioeconomia amazônica”, encerrado na última sexta-feira (2), em Belém (PA). Durante três dias, agroextrativistas, empresários, pesquisadores, gestores das esferas estadual e federal, pesquisadores e agentes de crédito debateram e buscaram soluções para os desafios enfrentados pelo setor. 

Na mesa redonda dedicada à discussão de políticas públicas, a diretora-executiva de Negócios da Embrapa, Ana Euler, enfatizou a importância da recomposição do orçamento público para o desenvolvimento das pesquisas. Ela pediu apoio dos presentes nas escolhas de prioridades do PPA Participativo, a iniciativa do governo federal que busca trazer a sociedade para a elaboração do Plano Plurianual. 

A diretora também apresentou um panorama das tecnologias disponíveis e em processo de finalização para a cadeia produtiva do açaí. Entre elas, destacou o manejo de mínimo impacto de açaizais nativos. “Ao longo de mais de vinte anos essa tecnologia vem sendo validada e adaptada junto às populações agroextrativistas para as diferentes realidades da Amazônia. Hoje, para além da várzea, temos esse manejo adaptado para as regiões de grota e para o açaí-solteiro”, referiu. 

Ana Euler também citou as soluções digitais para a cadeia do açaí que estão em fase de finalização. Um dos aplicativos vai agilizar o trabalho de manejo de mínimo impacto na floresta, enquanto o outro vai facilitar a integração da produção de açaí com a criação de abelhas nativas. 

Manejo

Nas discussões sobre a sustentabilidade da cadeia do açaí, o engenheiro florestal José Leite falou sobre os estudos que resultaram no manejo de mínimo impacto. “Percebemos lá na década de 1990 que o ribeirinho vinha intervindo na floresta para o adensamento dos açaizais, em razão da demanda pelo fruto que começava a aumentar”, lembrou. Segundo ele, naquela altura o objetivo inicial era a conservação. Mas os estudos posteriores demonstraram que era possível aumentar a produção de frutos mantendo a diversidade florestal. 

"Os açaizeiros precisam que outras árvores com raízes mais profundas tragam os nutrientes das camadas que estão mais abaixo no solo. Por isso manter a biodiversidade é fundamental", explica. De acordo com Leite, além de aumentar a produção de frutos, o adequado manejo de açaízais também proporciona a expansão do período de colheita do fruto ao longo do ano.

Retomada

Desde 2016, as ações de transferência de tecnologia em manejo de açaizais nativos foram intensificadas no arquipélago do Marajó pelo projeto Bem Diverso. E, atualmente, encontram continuidade no projeto Bem Diverso - Sustenta e Inova. O projeto foi um dos parceiros na organização do evento em Belém e é liderado pelo pesquisador Anderson Sevilha, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Para ele, o evento marcou a retomada dos diálogos intersetoriais e trouxe visibilidade para as populações agroextrativistas que produzem açaí. “Tivemos uma série de compromissos firmados entre os diversos atores, que são as comunidades, os empresários, os órgãos e as agências governamentais, e também o reconhecimento e o apoio para o trabalho que a Embrapa vem desenvolvendo. Agora é seguirmos em frente e cada vez mais juntos”, avaliou.  

Financiado pela União Europeia, coordenado pelo Sebrae e executado pela Embrapa, em parceria com Cirad, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e Funarbe, o projeto Bem Diverso - Sustenta e Inova busca desenvolver cadeias de valor e inovação sustentável em três localidades do bioma amazônico no Pará: Marajó, Transamazônica e Xingu. O trabalho envolve três unidades da Embrapa: Amazônia Oriental, Recursos Genéticos e Biotecnologia e Agroindústria de Alimentos. 

Organização

O evento “Açaí: força da sociobioeconomia amazônica” foi realizado pelo Diálogos Pró-Açaí, por meio de sua secretaria executiva coordenada pelo Instituto Terroá. A organização é uma co-produção entre a Secretaria de Governança Fundiária e Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado de Pará; o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)  GmbH,  com  recursos  do  Ministério  Federal  da  Cooperação  Econômica  e  do  Desenvolvimento  (BMZ) da Alemanha.