07/06/23 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo: Viticultor: a nova vindima começa agora

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Lucas Garrido

Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho

 

Depois de três anos do fenômeno La Niña, onde sentimos os efeitos de três anos de chuva abaixo da média, é chegado o momento do planejamento e preparo para a nova safra, levando em consideração as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), que menciona a ocorrência do fenômeno El Niño para o segundo semestre de 2023. Logo, o produtor terá um clima diferente dos anos anteriores, com chuvas acima da média, o que favorece a ocorrência de doenças fúngicas nos vinhedos. Assim, abaixo foram listadas algumas questões que podem passar pela cabeça do viticultor e as respostas  para contribuir com a solução do problema.

 

 

Com quais doenças os viticultores devem se preocupar?

 

Este ano será marcado pela ocorrência do míldio (peronospora, mufa), antracnose (antracnose), escoriose (scoliose), podridão-cinzenta (muffa-grigia), podridão-da-uva-madura (Glomerella), mancha-das-folhas (macchia di foglie), podridão-descendente (malattia del legno), pé-preto (piede-nero), entre outras. Caso haja um veranico em novembro ou dezembro, poderá ocorrer também o oídio. Assim, a preparação para “batalha” é de suma importância para  atingir o sucesso. 

 

Quais os preparativos devo fazer?

Neste momento atual, estamos prestes ao início da estação de inverno, com a queda das folhas e a entrada das plantas em dormência. O que pode ser realizado nesta etapa de “descanso”? Em primeiro lugar, as plantas devem ser pulverizadas com calda bordalesa 2% para favorecer o amadurecimento dos ramos. Em julho, pulverizar os troncos e braços da videira com calda sulfocálcica 4oBE para erradicar fungos que se alojam na casca seca. As plantas com problemas com morte descendente ou apodrecimentos internos devem ser podadas abaixo dessas podridões, a fim de evitar o progresso da doença, garantindo assim maior produção e longevidade da planta, sendo esta prática executada  preferencialmente quando as condições meteorológicas não apresentarem chuvas. Após a poda, é importante efetuar o pincelamento com tinta látex misturada com fungicida do grupo dos triazóis, para proteção dos ferimentos maiores e os demais ferimentos devem receber pelo menos uma pulverização com fungicida. Todos os restos culturais devem ser retirados do parreiral, pois são neles que muitos patógenos sobrevivem de uma safra para outra e dispersa as suas “sementes infectantes” e aplicar compostos orgânicos que aceleram a decomposição de pequenos restos culturais que permaneceram sobre o solo.  Já no estádio de ponta-verde em diante, a ocorrência frequente de doenças fúngicas nos parreirais é favorecida pela temperatura e duração do molhamento foliar. Uma das medidas a serem adotadas é a proteção dos tecidos com fungicidas de contato/sistêmicos, lembrando que esses produtos são lavados pela chuva, mas são importantes, a fim de evitar o surgimento da resistência por parte do patógeno. Eles reduzem o custo de produção por serem mais baratos. Caso a semana apresente ausência de precipitação ou que fique abaixo de 10 a 15 mm, eles funcionarão como uma barreira inicial contra a entrada de fungos no interior dos tecidos.  

 

Quais os fungicidas devem ser utilizados para controlar o míldio e a glomerella?

Vários fungicidas apresentam boa eficiência para o controle do míldio e da Glomerella no vinhedo, devendo o produtor utilizar os produtos registrados para a cultura, na dosagem e volume de calda recomendados. Alguns princípios ativos recomendados para o controle do míldio são: cimoxanil + mancozeb, metalaxil + mancozeb, dimetomorfe, ciazofamida, bentiavalicarbe isopropílico + clorotalonil, ditianon, mancozeb, captam, sulfato de cobre, hidróxido de cobre e oxicloreto de cobre. Já para a Glomerella, sugerem-se: piraclostrobina + metiram, azoxistrobina + difenoconazole; trifloxistrobina + tebuconazole, difeconazol, tetraconazol, entre outros. 

 

Além dos fungicidas, quais outros produtos melhoram a eficiência?

O controle do míldio da videira pode ser melhorado com a utilização de fosfito de potássio ou Agromós em mistura com o fungicida. No controle da Glomerella, além dos fungicidas mencionados acima, recomenda-se a utilização de produtos biológicos à base de Bacillus amylolichefaciens, B. lichiniformis, B. pumilus, B. subtilis, B. velezensis, Trichoderma asperellum, T. harzianum e/ou T. longibrachiatum ou alternativos intercalado ou mesmo nas semanas finais antes da colheita, entre eles temos: Duravel, Serenade, NemOut, Bombardeiro, Pardella, Biobac ou Scudero.

 

O que devo considerar antes de aplicar o produto?

No período de dormência, o pulverizador deve passar por uma revisão/manutenção para estar “100%” durante o combate aos fungos causadores de doenças na videira. O manômetro precisa funcionar direito: não deve haver vazamentos, a bomba deve estar funcionando adequadamente e os bicos devem estar em boas condições. Caso contrário, devem ser trocados e a barra com os bicos deve estar corretamente disposta e manter-se estável durante a aplicação para proporcionar uniformidade na distribuição do produto. Vale lembrar que não adianta adquirir o melhor produto se o mesmo não chegar no alvo que quer proteger ou controlar.

 

Quais os cuidados durante a pulverização?

A aplicação dos produtos de proteção não deve ser realizada quando houver vento que ocasione à deriva dos mesmos, acarretando baixa cobertura dos tecidos, o que consequentemente pode levar ao aparecimento de infecções causadas por fungos e o desenvolvimento da doença. Falhas no controle acarretam a necessidade de reaplicação de produtos, maiores gastos, menor eficiência e maior contaminação do ambiente.

 

O míldio está presente em todo o vinhedo?

Não, o míldio irá aparecer inicialmente nos locais com maior umidade, como nas baixadas úmidas, beiradas de matas e/ou exposição solar sul. Da mesma forma, nos locais com orvalho ou cerração que se estendem até pelo menos o meio da manhã estarão sujeitos a uma maior pressão da doença.

 

Existe um sistema de previsão de doenças?

Sim, existe! Atualmente no Brasil há o Sistema Crops (Jahde Tecnologia) que permite a previsão do míldio da videira e em breve também fará a previsão do oídio e da Glomerella. Alguns produtores da Serra Gaúcha já vêm utilizando o sistema com excelentes resultados  em seus parreirais nos últimos anos.

 

Com o que mais devo me preocupar no controle de doenças da videira?

Além da preocupação com o controle das doenças da videira, o viticultor deve se preocupar com a coisa mais importante na vida: sua SAÚDE, da sua família e de todos envolvidos na aplicação dos agrotóxicos. Assim, é extremamente importante a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPIs) completo durante o preparo e aplicação da calda, bem como na lavagem do pulverizador. As pessoas que colaboram na aplicação ou estão por algum motivo no vinhedo durante a aplicação (p.ex. ajudando com a mangueira, preparando a calda) devem também estar protegidas com EPIs. Por mais alta que seja a produção de uvas, não paga a perda da saúde! Por isso, é necessário a utilização do EPI em boas condições, lavado regularmente e separadamente das outras roupas da família, trocado a cada safra, visando a proteção pessoal.

 

Mais alguma outra orientação?

A adoção de medidas simples e baratas durante o período da dormência e a proteção dos tecidos durante o crescimento vegetativo poderão contribuir significativamente com a sanidade da videira durante a safra. O que se almeja é a produção segura e sem resíduos dentro dos princípios das Boas Práticas Agrícolas, onde o viticultor, o cantineiro, a vinícola, a cooperativa, o consumidor e o ambiente são beneficiados. Sabemos que cada safra é um novo desafio, com um clima adverso que traz incertezas ao produtor. Por outro lado, é preciso melhorar constantemente o vinhedo, a sanidade e o vigor das plantas, as práticas utilizadas, a adoção da tecnologia, fatores estes que temos controle. 

 

 

 

Embrapa Uva e Vinho

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