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Tema: processo de desenvolvimento de cultivar resistente ao Vírus do Mosaico Dourado do Feijoeiro

O desenvolvimento de cultivar geneticamente modificada resistente ao Vírus do Mosaico Dourado do Feijoeiro (VMDF) envolve a fusão de duas tecnologias. A primeira é um transgene, que se expressa adicionando uma nova característica ao seu portador. A segunda é uma linhagem convencional de feijão, contendo uma combinação de milhares de genes que propicia produtividade adequada, boas características agronômicas e qualidades de grão compatíveis com as expectativas da indústria e dos consumidores. 
 
De modo geral, ambas as tecnologias são obtidas de forma independente e integradas em um processo final de pesquisa e desenvolvimento de melhoramento genético. Após a cultivar ter sido obtida é essencial que as sementes sejam multiplicadas e em seguida disponibilizadas para os produtores. A soma do tempo necessário para gerar a nova cultivar a partir do evento e da linhagem e para se obter sementes em quantidade suficiente está entre 6 e 8 anos para o feijoeiro.
 
Durante o período de avaliação necessário para obter os dados para a desregulamentação do evento transgênico em questão (denominado Embrapa 5.1), a Embrapa priorizou os estudos sobre sua biossegurança e funcionalidade. Por isso, quando a CTNBio autorizou a liberação comercial do evento, as poucas linhagens geradas para embasar a desregulamentação eram as únicas disponíveis para a realização de seleções quanto ao desempenho agronômico. 
A Embrapa testou esses materiais e verificou que parte deles não possuía as características agronômicas adequadas e, portanto, foram descartadas. Outros, porém, apresentavam desempenho satisfatório e seguiram sendo estudados com vistas à liberação de cultivar comercial resistente ao mosaico dourado.  As avaliações desses materiais mais promissores estão sendo realizadas em diversos locais do Brasil nas três safras anuais da cultura do feijoeiro. Um fato importante confirmado nesses testes foi a efetividade do evento: todas as linhagens transgênicas são resistentes ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro em todos os locais testados. 
 
Conforme esclarecido pela Embrapa em eventos públicos e em notas divulgadas pelo seu Portal na Internet, durante essas avaliações foi observada a ocorrência de uma doença causada por um carlavírus, também transmitido por mosca branca. Essa virose não havia sido estudada a campo em feijão, pois sua ocorrência estava mascarada pelo mosaico dourado. Somente foi possível observá-la com nitidez com as linhagens geneticamente modificadas, que retiraram o VMDF do cenário e permitiram a expressão inequívoca do carlavírus.  Os prejuízos causados pelo carlavírus, verificados nos ensaios a campo, foram bastante significativos, chegando a mais de 50% de redução da produção.  
 
É importante ressaltar que não há qualquer dúvida ou questionamento quanto ao evento Embrapa 5.1 e sua resistência ao VMDF.  No entanto, o bom senso indica que a Embrapa deve ampliar o conhecimento sobre o novo problema detectado. A comunicação sobre o manejo e o uso das futuras cultivares de feijão geneticamente modificadas resistentes ao Vírus do Mosaico Dourado do Feijoeiro (VMDF) só poderá ser realizada, de forma adequada e responsável, com informações seguras sobre a natureza da nova virose e sobre práticas de manejo da lavoura que minimizem seus impactos.  Apenas a partir do melhor entendimento da natureza e danos causados pelo carlavírus a Embrapa poderá informar com segurança aos produtores de feijão a necessidade e a extensão dos cuidados com o controle da mosca branca, já que a mesma transmite outra virose de grande impacto, diversa do VMDF.  
 
A abordagem definida pela Empresa para tratar o problema envolve genética e manejo. No caso da abordagem genética, verificou-se haver variabilidade no feijoeiro, que pode ser manuseada de tal maneira que cultivares com níveis adequados de resistência possam ser produzidas. Novas linhagens portadoras do evento Embrapa 5.1 estão sendo obtidas e poderão resultar em novas e melhores cultivares para os produtores no futuro. 
 
No caso da abordagem de manejo, avaliações estão sendo realizadas para identificação de práticas que reduzam a incidência da doença causada pelo carlavírus em cultivares susceptíveis.  Esses estudos darão subsídio ao desenvolvimento de práticas agronômicas que viabilizem o uso das cultivares GM, resistentes ao VMDF e susceptíveis ao carlavírus, enquanto a pesquisa avança no desenvolvimento de cultivares resistentes a ambos. A Embrapa considera condição sine qua non para o lançamento de cultivares suscetíveis ao carlavírus a definição de práticas de manejo que minimizem os danos causados pela nova virose, que, como dito anteriormente, podem levar a reduções de até 50% na produção do feijoeiro.
 
É importante considerar que os critérios de avaliação e validação de cultivar geneticamente modificada para uso comercial são os mesmos utilizados para cultivares convencionais.  É por isso que procedimentos de avaliação e testes de VCU em vários ambientes precisam ser realizados após o processo de aprovação de eventos transgênicos pela CTNBio.  Novas cultivares são lançadas comercialmente somente quando materiais em teste demonstrem desempenho agronômico adequado. Lançar uma cultivar inadequada em relação a características importantes, ou com informações insuficientes para seu correto manejo, poderia ser considerado ato irresponsável e resultar em problemas para os agricultores, para a Embrapa e para a credibilidade da tecnologia. 
 
Importante também ressaltar que são comuns os casos de revisão de cronogramas de lançamento de cultivares geneticamente modificadas no mercado em função do surgimento de situações não previstas por época da aprovação do evento pela CTNBio.  Bastará uma breve avaliação dos processos de aprovação de novos eventos pela CTNBio nos últimos anos e da chegada das cultivares correspondentes ao mercado para se comprovar que este processo é complexo e dinâmico.  Por melhor que seja o evento, consideramos absolutamente essencial que não se negligencie nenhuma das demais características importantes para os agricultores, para o mercado e para a sociedade. Queimar etapas de pesquisa pode, em nossa avaliação, resultar em frustrações e prejuízos a todos os atores da cadeia.  
 
Por fim, é importante ressaltar que a decisão sobre a disponibilização de novas cultivares é, conforme tradição da Embrapa, exclusivamente técnica, levando em consideração aspectos consagrados e indispensáveis para o desenvolvimento de cultivares de modo responsável e com elevado critério científico. 
 
Diretoria-Executiva da Embrapa