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O Brasil apresenta todas as condições favoráveis para a atividade pesqueira e para a aquicultura, uma vez que possui uma costa marítima de 8.500 km e 12% da água doce disponível no planeta. Porém, ainda é preciso superar barreiras e investir cada vez mais em conhecimento e pesquisa para que o País possa aproveitar todo seu potencial e se torne um grande produtor e exportador mundial de proteína do pescado.

Após a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), em 2009, e com o intuito de reforçar o fomento da produção pesqueira e aquícola no Brasil, nasce a Embrapa Pesca e Aquicultura, instalada em Palmas (TO). Uma das missões deste centro de pesquisa é viabilizar soluções tecnológicas para a sustentabilidade e competitividade da aquicultura e pesca, em benefício da sociedade brasileira. Desta forma, a criação deste centro de pesquisa vem consolidar e fortalecer o trabalho que já vinha sendo feito por outras Unidades da Embrapa, demais instituições de pesquisa e universidades, bem como pela iniciativa privada.

Pesca e aquicultura

A pesca baseia-se na retirada de recursos pesqueiros do ambiente natural. Já na aquicultura, são cultivados organismos aquáticos em um espaço confinado e controlado. Uma das diferenças entre as duas atividades é que a primeira, por ser extrativista, apresenta um menor nível de controle quanto aos volumes produzidos, tendo em vista a imprevisibilidade característica da pesca. Por outro lado, a aquicultura apresenta um maior controle no que se refere ao planejamento e regularidade da produção, possibilitando produtos mais homogêneos, rastreabilidade durante toda a cadeia e outras vantagens que contribuem para a segurança alimentar.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a aquicultura é a mais rápida das atividades agropecuárias em resultados produtivos e uma das poucas capazes de responder com folga ao crescimento populacional, o que pode contribuir para o combate à fome em todo o mundo. 

Situação atual

De acordo com dados do IBGE, entre 2013 e 2022, a produção aquícola brasileira aumentou 55%, atingindo 739 mil toneladas. Esse crescimento está diretamente ligado à expansão do setor de tilápia. Essa espécie exótica possui uma cadeia produtiva bem estruturada e um vasto desenvolvimento tecnológico, resultando, assim, em menor custo de produção, oferta de peixes com qualidade e preços mais baixos.

Porém o Brasil possui grande potencial produtivo de espécies nativas, uma vez que apresenta uma grande diversidade. Nas bacias hidrográficas brasileiras destacam-se 52 espécies nativas, tais como: tambaqui, pacu, mantrixã, surubins, cachara, entre outras. Poucas delas possuem tecnologia de produção totalmente desenvolvida e consolidada para as diferentes fases de cultivo. O pirarucu, por exemplo, considerado uma espécie de elevado valor, ainda apresenta produção em baixa escala, dificultando a produção e comercialização do pescado.

Resultados de pesquisa

Alguns resultados de pesquisa na área de aquicultura já podem ser observados no âmbito do projeto BRS Aqua, liderado pela Embrapa Pesca e Aquicultura. Este projeto tem como objetivo fortalecer a infraestrutura de pesquisa da Embrapa, gerar e transferir tecnologias que promovam o desenvolvimento da aquicultura brasileira com foco primordial na inovação, contribuindo para o incremento da produção e proporcionando aumento da competitividade e sustentabilidade da cadeia nacional do pescado. 

Para potencializar os resultados, o BRS Aqua concentra suas ações de pesquisa e transferência de tecnologia em quatro espécies: tilápia (Oreochromis niloticus); tambaqui (Colossoma macropomum); camarão marinho (Litopennaeus vannamei); e garoupa (Epinephelus marginatus). Os desafios principais são refinar tecnologias para tilápia e camarão marinho, gerar pacote tecnológico para tambaqui e criar infraestrutura para ações efetivas de pesquisa com a garoupa.

Dentre os impactos esperados, estima-se a elevação do patamar tecnológico dos sistemas de produção em aquicultura pela transferência e pela incorporação de novas tecnologias. O objetivo é permitir a adoção de pacotes tecnológicos e a capacitação de profissionais, para atuação em iniciativas públicas e privadas do setor.

A coordenação do projeto em rede cabe à Embrapa Pesca e Aquicultura e dele fazem parte cerca de 270 empregados de mais de 20 Unidades da Embrapa, além de mais de 60 parceiros, entre públicos e privados.

Desafio da pesquisa

O Brasil possui espécies aquícolas nativas com grande potencial produtivo e econômico, porém, nenhuma delas possui informações científicas e tecnológicas que permitam a estruturação da cadeia produtiva. Daí surge o grande desafio da pesquisa nacional: gerar conhecimento e tecnologia para o setor.

Nesse sentido, o foco da pesquisa hoje está na área de reprodução e melhoramento genético de peixes; uso de ferramentas genômicas; nutrição e alimentação de espécies aquícolas com a produção de rações mais sustentáveis que minimizem o impacto ambiental; sanidade de espécies aquícolas; processamento agroindustrial de pescado; inteligência territorial; sistemas de produção aquícola; tratamento e reuso de efluentes e desenvolvimento sustentável da pesca artesanal continental. A ideia é que a aquicultura brasileira se iguale a outras proteínas animais como frango e suínos, em produtividade, volumes de produção e custos competitivos.

Outro grande desafio é desenvolver uma aquicultura sustentável, já que a atividade demanda muitos recursos naturais, como água, energia e solo. Por isso, é necessário que se faça a devida gestão e racionalização deles, ou seja, produzir de forma lucrativa, com conservação dos recursos naturais e a promoção do desenvolvimento social. 

Um dos principais entraves na área hoje está relacionado às questões de sanidade e biossegurança. Existe ainda uma dificuldade de diagnóstico precoce de doenças, além de desafios ligados ao desenvolvimento de metodologias de monitoramento e avaliação da qualidade da água e do pescado, além de técnicas de manejo da produção.

Outro gargalo do setor é o processamento tecnológico da cadeia produtiva de peixes nativos, como já mencionado. Isso faz com que produtores vendam seus pescados sem agregação de valor. 

São muitos os desafios. Mas a pesquisa pública, em parceria com as universidades e a inciativa privada, está caminhando para a consolidação do setor, em que o avanço tecnológico e a inovação, assim como aconteceu com a agricultura, vão transformar o Brasil numa das maiores potências aquícolas.