Visão de Futuro

Importância de uma análise de futuro para o agro brasileiro

 

Estudos de futuro visam antecipar mudanças no ambiente externo à organização, para que seus tomadores de decisão possam melhor se preparar para elas. Essa é a base da inteligência estratégica (IE), que consiste na atividade de análise de informações e geração de conteúdos que buscam identificar oportunidades e desafios, a fim de embasar melhor as decisões estratégicas de uma organização. Com esse objetivo, são utilizados métodos e ferramentas para captar sinais e tendências do ambiente, bem como as estratégias dos diferentes atores de interesse – parceiros, parlamentares, reguladores, concorrentes, entre outros. 

Na Embrapa, a operacionalização dessa dinâmica se dá com base em mapeamento, organização, integração, tratamento, análise e disseminação de informações e conhecimentos prospectivos do agro brasileiro, bem como de bases de dados correlatas, por meio do Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa). São identificadas e coletadas tendências e sinais do agro nacional, com desdobramentos de longo prazo, que embasam a elaboração de análises e estudos, os quais, por sua vez, permitem à Empresa se preparar diante de potenciais oportunidades e ameaças ao setor agropecuário. 

Em outras palavras, “estudos de futuro” consideram potencialidades e possibilidades de longo prazo do ambiente de interesse da organização. O principal objetivo é a geração de insumos para a tomada de decisão e para a elaboração do planejamento estratégico da Empresa, fornecendo, ainda, informações importantes para nortear ações dos demais atores e agentes do agro brasileiro. 

O Agropensa está estruturado em três componentes representativos dos subprocessos da IE na Embrapa (Figura 1): 1) observatório – subprocesso em que ocorre o monitoramento e a captura de tendências e sinais do ambiente; 2) análises e estudos – etapa seguinte, na qual se realizam análises dos sinais e das tendências de maior impacto para o agro nacional, com aprofundamento de temas e questões, ou seja, com elaboração de estudos; e 3) estratégias – fase em que, com base na análise dos resultados obtidos no componente anterior, aponta-se o desenho de potenciais caminhos para criação e aproveitamento de oportunidades, bem como para mitigação de ameaças, embasando assim as decisões a serem tomadas e as estratégias a serem definidas.

Figura 1. Estrutura geral dos processos relacionados ao Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa).

Fonte: Embrapa (2020b).

A Figura 2 apresenta uma perspectiva do processo de interação entre a inteligência estratégica e o planejamento estratégico, além de destacar a participação de empregados e stakeholders no processo de definição e validação.

Figura 2. Inteligência e Planejamento Estratégico na Elaboração do VII Plano Diretor da Embrapa (PDE).

Fonte: Embrapa (2020a).

A inclusão dos trabalhos prospectivos e de inteligência estratégica esteve presente na elaboração do planejamento estratégico da Embrapa, especialmente no que se refere à organização, preparação e formulação dos Planos Diretores da Embrapa (PDEs) II, IV e V, que utilizaram estudos de cenários. O primeiro documento relacionado à visão de futuro do agro elaborado pela Embrapa (Embrapa, 2014) foi construído a partir da análise e consolidação de informações oriundas de estudos prospectivos e contribuições do setor produtivo advindas de parceiros nacionais e internacionais, durante o período 2013–2014. Esse conteúdo apontou que, à medida que a agricultura avançava simultaneamente por duas frentes – competitividade e sustentabilidade –, havia enormes desafios a serem enfrentados.

De modo a lidar com tal complexidade, os estudos e as análises dos grandes desdobramentos tecnológicos esperados para os 20 anos seguintes foram organizados pelo Agropensa de acordo com a lógica de 11 macrotemas, orientados pela perspectiva de cadeia produtiva. A partir desses 11 macrotemas, foram definidos 12 objetivos estratégicos e 9 diretrizes estratégicas que deram origem ao VI PDE.

A partir da publicação do VI PDE, a Embrapa deu início à atualização da sua programação de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Desde 2015 até o momento, a programação de pesquisa, alinhada ao planejamento estratégico da Embrapa, entregou aproximadamente 3.700 resultados de projetos, entre os quais se destacam os seguintes: cultivares, processos agropecuários e agroindustriais, metodologias técnico-científicas, contribuições às políticas públicas, softwares, reprodutores, matrizes ou linhagens (Figura 3).

Figura 3. Distribuição percentual dos resultados da programação de PD&I por Objetivo Estratégico do VI Plano Diretor da Embrapa (PDE).

Fonte: Embrapa (2015).

Em 2018, a Embrapa apresentou a publicação Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira, que se tornou fundamental na atualização do planejamento estratégico da Embrapa (em 2019, a Embrapa iniciou novo ciclo de atualização do seu VII PDE). Especificamente, na primeira etapa da construção do VII PDE, utilizou-se como base o documento Visão 2030 (Embrapa, 2018), que consiste de um estudo sobre mudanças estruturais da pesquisa agrícola no mundo (Pardey et al., 2018), além de estudos prospectivos da agricultura e da tecnologia agropecuária de organizações de pesquisa.

As sete megatendências do Visão 2030, aliadas a elementos apurados na análise documental, levaram à definição de temas relevantes para a agricultura nacional. Esses temas foram utilizados na elaboração de uma consulta a stakeholders internos e externos que, em seguida, foram utilizados como base para workshops e entrevistas de validação com participantes da Embrapa, do setor produtivo, da academia e do governo. Esse conjunto de informações foi importante para o planejamento da Embrapa no último ano. Além disso, auxiliou no processo de elaboração do Plano Diretor mais recente, o VII PDE, que contou também com uma gama de informações coletadas do governo federal e de parceiros.

Assim como ocorreu para as versões anteriores do PDE, a partir da publicação do VII PDE, a Embrapa deu início ao processo de revisão e atualização da sua programação de PD&I. O primeiro passo foi avaliar os resultados previstos para os anos seguintes e analisar se os referidos resultados estavam alinhados aos objetivos estratégicos do VII PDE. Considerando projetos iniciados em 2016, 43,8% dos resultados foram alinhados ao primeiro Objetivo Estratégico (OE1): Sustentabilidade e Competitividade; 11,2% ao OE5: Biomassa, Resíduos, Bioinsumos e Energia Renovável; 10,7% ao OE4: Segurança e Defesa Zoofitossanitária; e 34,2% aos demais OEs (Figura 4).

Figura 4. Distribuição percentual dos resultados da programação de PD&I alinhados aos Objetivos Estratégicos do VII PDE – projetos iniciados em 2016.

Fonte: Embrapa (2020a).

As atualizações sobre a visão de futuro do agro brasileiro passam a ocorrer de maneira contínua e sistemática, com base em mudanças no ambiente externo. Tudo isso se constitui em insumos que permitirão identificar possíveis ajustes na estratégia da Embrapa. Associada a outros documentos e instrumentos, a plataforma de atualização contínua do agro brasileiro e os produtos dos observatórios servirão de apoio para o novo ciclo de planejamento que também passa a ser realizado de forma continuada.

Referências

  • EMBRAPA. O Sistema Agropensa. 2020b. Disponível em: https://www.embrapa.br/agropensa. Acesso em: 
  • EMBRAPA. Secretaria de Gestão e Desenvolvimento Institucional. VI Plano Diretor da Embrapa: 2014-2034. Brasília, DF, 2015.
  • EMBRAPA. VII Plano Diretor da Embrapa: 2020-2030. Brasília, DF, 2020a.
  • EMBRAPA. Visão 2014-2034: o futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Brasília, DF, 2014. 
  • EMBRAPA. Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. Brasília, DF, 2018.
  • PARDEY, P. G.; ALSTON, J. M.; CHAN-KANG, C.; HURLEY, T. M.; ANDRADE, R. S.; DEHMER, S. P.; LEE, K.; RAO, X. The shifting structure of agricultural R&D: Worldwide investment patterns and payoffs. In: KALAITZANDONAKES, N.; CARAYANNIS, E.; GRIGOROUDIS, E.; ROZAKIS, S. (ed.). From Agriscience to Agribusiness. Cham: Springer, 2018. p. 13-39.