Notícias

Busca de Notícias Busca de Notícias

16/11/23 |

Adequação da oferta à demanda segue como maior desafio para adoção de soluções da pesquisa

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Um filme comestível para embalar frutas. O bioinsumo que permite a captura do fósforo estocado no solo pelas plantas. Biodigestores à base de dejetos da suinocultura. Esses foram alguns dos exemplos de sucesso apresentados pelos palestrantes do painel “Tecnologias Embrapa”, que fez parte da programação do VII Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia. Quatro especialistas da empresa debateram com a plateia desafios para a efetiva apropriação, pelo mercado produtivo, de tecnologias e inovações desenvolvidas pela pesquisa agropecuária.

A inadequação de algumas soluções às reais necessidades de seus potenciais beneficiários como desafio que persiste há décadas mostrou-se um  consenso entre os debatedores.

O próprio momento histórico em que determinada tecnologia surge pode ser determinante para sua incorporação pela sociedade, na análise feita pelo pesquisador Cauê Ribeiro de Oliveira, da Embrapa Instrumentação e coordenador da Rede de Nanotecnologia para o Agronegócio - Rede AgroNano. Com base nas colocações do Brasil em rankings internacionais, Cauê analisa o descompasso entre as vocações do País para a inovação e o empreendedorismo. A apresentação foi um convite à reflexão sobre a inserção da Embrapa nos cenários nacional e internacional, assim como sua real capacidade de gerar inovação.

“O objeto não tem valor em si mesmo”, sintetizou em determinado ponto de sua apresentação. “O que lhe atribui valor é o que se faz com esse objeto. Não queremos o iPhone, queremos o que ele nos permite fazer”, ilustrou antes de mencionar um exemplo específico de inovação na pesquisa agropecuária: “A bactéria é um detalhe. O importante para o agricultor, nesse caso em especial, é não precisar comprar insumos fosfatados importatdos”.

Cauê referia-se ao BiomaPhos, nome comercial do primeiro produto comercial que foi desenvolvido a partir da incorporação, pelo mercado produtivo, da verdadeira inovação: a descoberta de microrganismos que possibilitam a algumas espécies de plantas capturar o fósforo depositado no solo. Em lavouras de soja, milho e outras culturas, inoculantes fosfatados à base desses microrganismos substituem insumos químicos, importados e portanto, mais caros que os produtos nacionais.

E esse foi um dos casos bem-sucedidos apresentados por Myriam Maia Nobre, analista de Transferência de Tecnologia e Propriedade Intelectual, da Embrapa Milho e Sorgo, participante do mesmo painel.

Caso exemplar de inovação científica efetivamente apropriada pelo mercado, o bioinsumo apresenta uma curva ascendente pouco comum na trajetória mercadológica de ativos científicos ao ser apropriado pelo setor produtivo. O BiomaPhos foi lançado em 2019 para uso nas culturas da soja e do milho. A mesma solução científica deu origem a outro produto comercial, destinadado à cana-de-açúcar e já incorporado na última safra brasileira, o Omsugo ECO, marca comercial do produto desenvolvido pela Corteva.

 

Saiba mais:

Um elemento presente no caso dessa inovação é a versatilidade, por tratar-se de uma solução maleável e facilmente adaptável. Além das três culturas em que a adoção do inoculante se consolidou, testes em lavouras de arroz, feijão, sorgo, braquiária e café comprovam ganhos consideráveis de produtividade. Um incremento que pode chegar a 30% segundo resultados de experimentos com as culturas de batata e amendoim.

Trata-se de um caso exemplar em que uma única solução científica é capaz de atender a diferentes culturas agrícolas. E, além dos benefícios para os produtores individualmente, a inovação contribui para que, no médio e longo prazos, o Brasil reduza sua excessiva dependência de fertilizantes importados. Ao lado do potássio e do nitrogênio, o fósforo integra a tríade de nutrientes indispensáveis para uma boa nutrição dos solos. O Brasil importa, principalmente da Rússia e da Ucrânia, caros insumos químicos da linha NPK (iniciais dos nomes em inglês dos três nutrientes). Além do aumento dos preços causado pela guerra entre os dois países, produtores brasileiros convivem com o risco de uma crise no fornecimento desses insumos.

Para a Embrapa, detentora da inovação científica, a versatilidade técnica foi um dos diferenciais para consolidar e estender parcerias para exploração comercial de produtos finalísticos. Inicialmente, o alcance do inoculante restringe-se a uma parte dos produtores nacionais uma vez que o contrato para exploração comercial da tecnologia foi firmado com a Bioma, empresa de atuação regional. Para 2024, a perspectiva é de internacionalização da inovação, embarcada em bioprodutos que vão chegar aos EUA e outros países a partir da ampliação da parceria com o grupo Simbiose Agro, um dos maiores produtores de insumos microbiológicos da América Latina ao qual a Bioma está associada.

Diante dos excepcionais ativos científicos de que a Embrapa dispõe, Myriam Nobre encerrou sua apresentação apontando para o futuro. Além da rede de especialistas altamente capacitados; laboratórios e campos experimentais; práticas agropecuárias e recomendações de uso e da própria marca Embrapa, um selo da Ciência com alto valor agregado, a Embrapa detém bancos genéticos que estão entre os maiores do mundo.

Só o banco de microrganismos da Unidade Milho e Sorgo, são mais de 11 mil espécies entre as quais há cepas com alto valor agregado. É um enorme potencial a ser descoberto e explorado. Patrimônio intangível e, por isso, pouco reconhecível para o público leigo, esse potencial são contrapartidas de valor reconhecido no ecossistema de inovação aberta em que a Empresa está inserida.

Entre os desafios a serem suplantados na pesquisa com foco em bioeconomia, para Nobre, está o desenvolvimento do que chama de bioinsumos de segunda geração, “que tenham, por exemplo, entre outras características, a multifuncionalidade, gerando produtos capazes de substituir dois ou mais insumos para uma mesma cultura, por exemplo”.

Ricardo Luís Radis Steinmetz, analista do Núcleo Temático de Meio Ambiente, da Embrapa Suínos e Aves, encerrou as apresentações sobre Tecnologias Embrapa. Falou do uso de dejetos da suinocultura para a produção de biogás, mencionando  biodigestores concebidos e instalados no âmbito de atuação do Laboratório de Estudos em Biogás da Unidade. Há plantas experimentais e também unidades plenamente funcionais, construídas e operantes em propriedades rurais de Santa Catarina, por exemplo. 

Há biodigestores pequenos, que geram energia suficiente para a fritura de alimentos, apropriados para ambientes domésticos e familiares. E existem os de escala industrial, como as plantas de biogás das usinas do setor sucroenergético. 

Tanto em escala pequena como em escala industrial, o desafio para a pesquisa é entregar estudos robustos de viabilidade. “A Embrapa tem projetos sobre uso de dejetos para a produção de biogás desde 2010 e, após todos esses anos, sabemos quais são os principais fatores a serem considerados na etapa de planejamento: disponibilidade de insumos, demanda energética a ser atendida, capacidade de produção e existência e disponibilidade de recursos que assegurem a  sustentabilidade financeira do biodigestor”, lista Ricardo. E é essencial que todos esses fatores sejam atendidos na medida certa de cada situação específica.  

Em sua avaliação, a parte operacional é a mais fácil: “A suinocultura é uma tividade de produção animal concentrada, intensiva, então, a geração de resíduo também é concentrada. É uma facilidade logística, pois dispensa a necessidade de transportar grandes quantidades de substrato”, detalha.  “Cava-se um buraco no chão e recupera-se o biogás que é gerado por esses resíduos já concentrados. É fácil. O desafio é fazer de forma eficiente”, conclui antes de encerrar sua fala listando exemplos de sucesso do laboratório que, inclusive, foram incorporados por políticas públicas estaduais. Também mencionou a BiogásFert, calculadora de gasto energético, um ativo de baixo custo, disponível gratuitamente na internet. A tecnologia é aberta para que o produtor calcule a capacidade de sua propriedade para a produção de bioenergia com resíduos da agropecuária.

É longa a lista de inovações desenvolvidas pela pesquisa para atender, além do setor agro, diferentes segmentos da indústria que buscam alternativas para agregar sustentabilidade a seus processos e produtos, como lista Bruno Galvêas Laviola, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia: "Bioativos que aumentam a eficiência na dieta animal, incrementando o ganho de peso e contribuem com a descarbonização da pecuária. Insumos químicos e renováveis que podem substituir produtos de base não renovável usados tradicionalmente. A descoberta de ácidos orgânicos com aplicabilidades diversas para a produção de fármacos e cosméticos. Com técnicas de liberação controlada e nanotecnologia, as pesquisas desenvolvem biodefensivos e outro agroquímicos que têm maior eficiência e causam menor impacto ambiental.”

Produtos capazes de diminuir o descarte e a geração de lixo, como embalagens biodegradáveis, estão  entre  os que chegam aos consumidores finais, exemplifica Laviola, tipo de solução que impulsiona a economia circular, modelo que busca, idealmente, zerar a geração de resíduos por uma cadeia produtiva. Pesquisadores deenvolvem também métricas, modelagens e modelos de cálculos que possibilitam mensurar as emissões e a captura de carbono, ferramentas essenciais para a formulação de políticas públicas. 

"A bioeconomia oferece uma oportunidade única para o Brasil evoluir de um produtor/exportador primário de commodities para um produtor/exportador significativo de produtos de alto valor agregado e de base renovável", acredita Laviola. "Alinhada a essa visão de futuro para o agronegócio, a Embrapa Agroenergia atua como ponte entre o setor e a indústria de base renovável", acrescenta. 

 

Saiba mais:

Juliana Escobar (MTb 06199/MG)
Superintendência de Comunicação (Sucom)

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/