20/04/16 |   Transferência de Tecnologia

Dia de Campo em Ipameri aborda as diferentes dimensões da intensificação sustentável

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Pesquisador João K destacou modalidades e as principais vantagens dos sistemas ILPF

Pesquisador João K destacou modalidades e as principais vantagens dos sistemas ILPF

Os 10 anos de adoção do sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), foram celebrados no Dia de Campo sobre ILPF promovido no dia 8 de abril pela Rede de Fomento ILPF, com o apoio da Prefeitura Municipal de Ipameri e da Universidade Estadual de Goiás. O evento contou com a presença do presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes.

Mais uma vez, o Dia de Campo teve como objetivo fomentar a adoção desses sistemas como estratégia de intensificação sustentável da agricultura a partir da experiência da fazenda, que migrou de um modelo de produção pecuária de baixa produtividade, com pastos degradados, para um sistema de produção verticalizado, com diversificação da produção, maior eficiência e sustentabilidade econômica, social e ambiental. Participaram cerca de 900 produtores rurais, técnicos, representantes de cooperativas, professores e estudantes de ciências agrárias.

As quatro estações técnicas do Dia de Campo tiveram como pano de fundo as diferentes dimensões do tema "Sustentabilidade: produção de alimentos e preservação ambiental". Foram abordadas as vantagens dos sistemas ILPF para intensificar a produção agropecuária de forma sustentável, além de questões ligadas à fertilidade do solo, diversificação de cultivos, práticas de manejo e serviços ambientais dos agroecossistemas. As apresentações foram realizadas pelos pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) João Kluthcouski (João K), Lourival Vilela e Fabiana Aquino; pelo consultor Roberto Freitas e pela engenheira ambiental Marcela Porto.

Benefícios da integração

Na primeira estação, João K falou sobre sistemas de ILPF como estratégia para intensificação sustentável. Ele destacou que os sistemas de integração se tornaram a chance de o País melhorar a produtividade. "A integração tem a virtude de respeitar todas as espécies vegetais e animais em sistema de consórcio, na rotação e na sucessão, e respeita todo tipo de produtor. É um sistema que está construindo a maior revolução agrícola do mundo, recuperando e tornando sustentável o cinturão tropical do globo. E o Brasil está fazendo as bases dessa revolução", afirmou.

O pesquisador descreveu modalidades e vantagens de sistemas de ILP que podem ser adotados no Cerrado, como Sistema Barreirão (para recuperação e renovação de pastagens degradadas); Sistema Santa Fé (para produção de forragem para a entressafra e palhada para o Sistema Plantio Direto); Sistema Santa Brígida (para introdução, por meio de consórcio, de gramíneas e leguminosa forrageira); São Mateus (para recuperação de pastagem e posterior produção de soja); Santa Ana (para recuperação de pastagens com produção de silagem); Sistema Vacaria (para manutenção de pastagens produtivas); e Sistema São Francisco (para implantação de pastagem por meio de sobressemeadura em soja ou milho).

Ele também apontou as vantagens dos sistemas Integração Lavoura-Pecuária (ILP), que proporcionam benefícios mútuos para a agricultura e a pecuária, com redução de custos, melhoria da qualidade do solo e aumento de produtividade. "Nesse sistema, os grãos pagam os custos do pasto, o custo da arroba é baixo e é de boi precoce, e depois entramos com a soja, que gera lucro", apontou João K. A braquiária tem um papel central nos sistemas de integração, pois as raízes perfuram o solo compactado, alcançando profundidade para buscar água e depositar matéria orgânica, entre outros benefícios, melhorando as condições do solo.

"Para ser bom, o sistema tem que mostrar um amanhã melhor. A definição correta de sustentabilidade é produzir em condições cada vez mais favoráveis em termos ambientais, sociais, agronômicos e econômicos", disse. Ele apresentou dados sobre a evolução da produtividade nos componentes produtivos da Fazenda Santa Brígida com a adoção do sistema ILPF. Na safra 2006/07, a lotação animal média era de apenas 0,5 UA (unidade animal) por hectare, e na safra 2015/16 passou para 4 UA/ha. No mesmo período, as produtividades de soja e de milho passaram, respectivamente, de 45 sacas/ha para 65 sacas/ha e de 90 sacas/ha para 190 sacas/ha. O sistema ainda produz palhada para o plantio direto. "São quatro safras por ano, dependentes apenas de chuva", observou.

Outro exemplo é o da Fazenda Campina, em Presidente Venceslau (SP), região de solos arenosos e pastos degradados. Com três anos de sistema ILP, a propriedade colheu, na safra 2014/2015, 39 sacas/ha de soja com 29 dias de veranico, e 80 sacas/ha de milho silagem safrinha com 44 dias de veranico. A lotação animal no período outono/inverno (junho a setembro) era de 4 cabeças/ha com ganho médio de peso vivo de 600 gramas/animal/dia. Também nesse sistema, é produzida palhada de alta qualidade para o plantio direto da soja.

João K mostrou uma representação gráfica da evolução da intensificação do uso da terra com os sistemas de integração. "Antigamente, produzia-se apenas uma safra no ano. O milho entrou, alongando o período de uso da área. Aí veio o milho com capim, o boi, o eucalipto. Acabaram as férias", brincou.

Diversificação reduz riscos

Na estação seguinte, o engenheiro agrônomo Roberto Freitas, consultor da Fazenda Santa Brígida, abordou a diversificação de cultivos e práticas de manejo dos componentes do sistema ILPF na propriedade e apresentou outros exemplos de aplicação de sistemas de integração. Ele salientou a importância da braquiária nos sistemas de integração da fazenda, onde é utilizada em consórcio com o milho. "No Centro-Oeste, a braquiária é a alma da integração. Um aspecto fácil de verificar é que ela dificulta a germinação de plantas daninhas. Apesar de a soja RR ter resolvido essa dificuldade, em algumas regiões há plantas resistentes ao glifosato e até com resistência múltipla".

Freitas apresentou o plano de rotação de culturas adotado na fazenda. A área é dividida em quatro talhões, sendo que no verão 75% são ocupados com soja precoce a semiprecoce e 25% com milho. Em seguida, os talhões com soja recebem milho safrinha com braquiária ruziziensis. Num terceiro momento, soja precoce com girassol, e em seguida soja precoce sucedida por sorgo ou milheto ou sorgo de alepo. Dessa forma, durante o inverno as áreas estão ocupadas com capim e palhada. Após um ciclo de quatro anos, cada gleba terá sido cultivada com milho, soja, braquiária brizantha cv. Marandu, sorgo, sorgo de alepo, milheto e girassol. "A diversificação de cultivos é a melhor forma de aumentar as produtividades e a sanidade do solo, além de evitar os problemas que afetam a agricultura brasileira hoje", afirmou.

Outro exemplo de produção de forragem apresentado, dessa vez em solo arenoso, é o da Fazenda Brasília, em Jussara (GO). "O pecuarista tem receio de plantar lavoura de grão, e o pressuposto da integração na pastagem é que a colheita dos grãos dê o retorno financeiro rápido, o que pode não acontecer, havendo um custo", observou o consultor. Na propriedade, foi cultivado o consórcio de sorgo forrageiro com o capim para reformar o pasto e fornecer forragem no inverno.

No mesmo ano, foi plantado milho consorciado com braquiária em dezembro. "Com o veranico de 20 dias em janeiro, o milho morreu. Gastamos no plantio R$1,5 mil e mais R$ 1,5 mil com correção no solo. Aí vem a questão da estabilidade: apesar da frustração do milho, ainda havia o capim. O produtor não estava acostumado a tratar capim como agricultura, que é um excelente negócio", lembrou, recomendando aos pecuaristas que fazem integração que observem o período com o residual de herbicidas, que podem comprometer a produtividade do pasto.

Segundo Freitas, o manejo na Fazenda Santa Brígida não confronta a agricultura intensiva com a agroecologia. "Estamos juntando as coisas boas dos dois sistemas, não temos preconceito de usar tudo a que temos direito da agricultura intensiva, como o uso intensivo de fertilizantes, o uso racional de defensivos químicos e o plantio de cultivares transgênicas. Por outro lado, tentamos fazer, se não a rotação clássica, a diversificação de cultivos dentro da gleba, o uso de defensivos biológicos, manter o solo coberto, plantio direto e sobretudo cultivos consorciados", explicou.

Ele apresentou ainda dados de pesquisa da Embrapa em uma propriedade do oeste baiano, também com solos arenosos, mostrando a maior produtividade de grãos da soja com braquiária ruziziensis (4 mil kg/ha) em relação à soja solteira (3,2 mil kg/ha), bem como o efeito positivo do pastejo da braquiária sobre a produtividade da soja plantada na sequência. "Esse é outro paradigma (quebrado). Muito agricultor não faz integração por meio do pisoteio (do gado)", observou.

Ao final, Freitas mostrou uma planilha de uma propriedade comparando as receitas brutas de sistemas isolados (soja, milho verão, feijão, milho safrinha e gado), sempre inferiores às receitas brutas dos sistemas integrados, comprovando a redução do risco pela diversificação. "A diversificação é muito interessante porque uma atividade minimiza o custo da outra", finalizou.

Melhor qualidade do solo

Antes de chegarem à terceira estação, os visitantes puderam comparar, em duas trincheiras preparadas para o Dia de Campo, a diferença de perfil de raízes de um consórcio de milho com braquiária e da cultura solteira do milho. No primeiro sistema, o solo continha raízes mais numerosas e profundas, o que permite uma série de benefícios, como maior infiltração de água e ciclagem de nutrientes.
 
As trincheiras ilustraram a fala do pesquisador Lourival Vilela, que abordou aspectos de fertilidade química, física e biológica do solo. "Muito se fala em fertilidade física e química do solo, mas poucos se preocupam com a parte biológica", observou, ressaltando a necessidade de promover a melhoria do ambiente radicular das plantas, já que a absorção de água e nutrientes ocorre pelas raízes.

Ao falar sobre trabalhos científicos com calagem e gessagem, que proporcionam maior aprofundamento das raízes e aproveitamento de fertilizantes, Vilela destacou a preocupação com a construção do perfil do solo com a introdução de gramíneas, principalmente braquiárias. "Essa maior exploração de perfil (de solo) dá sustentabilidade, sobretudo nas condições adversas que ocorrem, principalmente chuva", explicou, acrescentando outro objetivo do desenvolvimento de raízes: "Queremos melhorar a condição de matéria orgânica no solo, porque é o componente-chave para a manutenção da qualidade química, física e biologicamente o solo".

Ele destacou as premissas da intensificação sustentável do uso do solo: necessidade de aumento da produção por meio do aumento da produtividade; a segurança alimentar exige atenção tanto para o aumento da sustentabilidade ambiental como para o aumento da produtividade; a intensificação sustentável denota um objetivo, mas não especifica a priori como deve ser atingido ou quais técnicas devem ser implantadas.

Nesse sentido, a introdução da braquiária no sistema promove o aumento da matéria orgânica no solo, segundo o pesquisador. Ele mostrou dados de experimento de 24 anos com integração Lavoura-Pecuária e sistemas convencionais, mostrando maior acúmulo de carbono no solo em sistemas mais ricos em matéria orgânica, como a ILP com o plantio direto, em relação à pastagem solteira, com menos matéria orgânica no solo. "Temos que buscar sistemas que ao menos minimizem as emissões de gases de efeito estufa, recuperando e estocando carbono. Quanto mais diversificarmos as culturas do sistema, melhor será o desempenho em acúmulo de matéria orgânica, de carbono e de trocas catiônicas no solo", disse.

Para evidenciar a atividade biológica do solo, Vilela apresentou dados de um estudo da Embrapa sobre o comportamento de enzimas indicadoras de funcionamento biológico do solo. As três enzimas analisadas, entre elas a β-glicosidase, relacionada ao ciclo do carbono, apesentaram maior atividade em sistemas com maior aporte de matéria orgânica (soja/milho com braquiária ruziziensis/soja e soja/braquiária brizantha e/soja) em relação a sistemas com menos matéria orgânica (soja/pousio/soja e soja/milho/soja). A maior atividade enzimática dos sistemas de integração também melhorou a biorremediação de pesticidas, reduzindo mais rapidamente a meia-vida dos produtos no solo tanto na fase de pastagem como na fase de lavoura.

Outros dados mostrados pelo pesquisador foram de estudos sobre eficiência de uso dos nutrientes em área de produtor. Como exemplo, o fósforo aplicado obteve maiores taxas de recuperação em culturas anuais consorciadas com capim em relação às culturas anuais solteiras. "Quando o ambiente radicular é melhorado, nutrientes como nitrogênio e potássio são ciclados e voltam à parte aérea da braquiária. E no processo de decomposição da palhada, ela começa a libera nutrientes", explicou, mostrando dados sobre o equivalente em fertilizante liberado pela palhada e a economia correspondente – no estudo em questão, somente o que foi ciclado de nitrogênio, fósforo e potássio representou 50% de toda a adubação utilizada na propriedade.

Ao final, Vilela salientou que quanto mais diversificados forem os sistemas, mais resilientes serão. "Temos grande disponibilidade de solos e estamos degradando-os sem perceber. Precisamos reverter esse processo buscando sistemas que imitam a natureza, que é um sistema em equilíbrio, na diversificação", afirmou.

Serviços ecossistêmicos

A última estação foi apresentada por Fabiana Aquino e Marcela Porto, que discorreram sobre a relação entre os serviços ecossistêmicos e os sistemas de integração. Segundo a pesquisadora da Embrapa Cerrados, os serviços ecossistêmicos são benefícios diretos e indiretos obtidos pelo homem a partir do funcionamento saudável da natureza (sistemas naturais e agrícolas), ou seja, são funções ecológicas.

Alguns exemplos são o de um ambiente natural em que a cobertura vegetal plena interage com o solo, fornecendo o serviço ecossistêmico controle da erosão, diminuindo as perdas físicas, químicas e biológicas pela lavagem do solo provocada pela chuva. Já num sistema degradado ou mal manejado, há perda de cobertura vegetal, exposição e compactação do solo, e vários serviços ecossistêmicos deixam de ser prestados, como o controle de escoamento superficial, comprometendo a capacidade de produção de alimentos e energia.

Um dos problemas enfrentados pela agricultura é a erosão hídrica, que gera perdas de solo e água, reduzindo a capacidade produtiva dos solos e aumentando os custos de produção. Dados de um estudo da Embrapa e parceiros sobre perdas de solo sob diferentes usos no Cerrado mostram que as perdas são maiores em solos descobertos e culturas sob manejo convencional quando em comparação a pastagens e culturas sob plantio direto.

O mesmo gráfico mostra a maior retenção de água por pasto bem manejado em comparação a uma pastagem mal manejada, que apresenta menor infiltração de água. "Solo e água são insumos agrícolas importantíssimos e estão extremamente conectados. A capacidade de reter solo e água é um componente importante na decisão de escolha entre um sistema em relação a outro", destacou Fabiana.

A pesquisadora apresentou dados comparando o comportamento do eucalipto solteiro em relação à mata nativa e ao solo descoberto. No caso do eucalipto, há uma perda de solo pelo revolvimento nos primeiros anos, sem ter havido a ainda a formação da palhada. Porém, essa perda diminui com o passar do tempo.

Outro gráfico compara a água no solo até três metros de profundidade em um pastagem bem manejada e o Cerradão, formação florestal nativa do Bioma. De acordo com o levantamento, a pastagem bem manejada é capaz de reter mais água no solo que o sistema florestal nativo. "O sistema florestal nativo demanda muita água para suportar a biomassa. Já para uma pastagem mal manejada, acreditamos que a capacidade de retenção de água no solo vai diminuindo, pois a compactação não permite que a água infiltre no solo", comentou, informando que as informações estão sendo coletadas ao longo do tempo para consolidar os resultados que estão sendo gerados.

Fabiana explicou que, quando se perde solo, está se perdendo não apenas o componente físico, mas também nutrientes e as funções básicas que o componente biológico é capaz de prestar. Estudo mostra que sistemas de Integração Lavoura-Pecuária associados ao plantio direto na fase lavoura, melhoram o desenvolvimento das espécies da fauna do solo chamadas "engenheiras de solo", capazes de estruturarem o solo.

A pesquisadora apresentou uma série de serviços ecossistêmicos intermediários (como a polinização e o controle biológico) e finais (como a produção de alimentos) pelos sistemas naturais, agrícolas ou por espécies que proporcionam benefícios à humanidade, como a segurança alimentar. "Os agricultores podem auxiliar no fornecimento de serviços ecossistêmicos e, ao mesmo tempo, ser beneficiários", disse, citando as melhorias que os produtores podem promover no sistema agrícola, como a diversificação de culturas e a adoção de sistemas de produção integrados, intensificados e sustentáveis

Ao mostrar um diagrama em teia de aranha com as diferentes capacidades de prestação de oito serviços ecossistêmicos pelos diferentes usos do solo (lavoura, pecuária, eucalipto e floresta nativa) isoladamente, a pesquisadora propôs uma abordagem integrada. "Temos que pensar de forma integrada o que se usa, o que se extrai da natureza e o que está sendo beneficiado, mas de forma sustentável. Que consigamos perceber as perdas e os ganhos para garantir a eficiência máxima e não esgotar o sistema, pois não queremos produzir muito apenas hoje, mas sempre", afirmou. Nesse sentido, num exercício conceitual (a ser confirmado com dados de pesquisa) os sistemas ILP e ILPF têm mostrado capacidade de captar os benefícios dos sistemas solteiros, sendo mais equilibrados, podendo melhorar a prestação de determinados serviços ecossistêmicos .

Já a engenheira ambiental Marcela Porto apresentou o trabalho de avaliação do ciclo de vida do sistema ILPF na Fazenda Santa Brígida, desde a extração de recursos naturais até a fase de produção agrícola, mostrando impactos sociais, ambientais e econômicos. Ao analisar a produção agropecuária necessária para abastecer, no Brasil, 500 pessoas nos últimos sete anos com soja, óleo de soja, milho, sorgo, carne bovina e eucalipto (energia de biomassa), ela constatou que o sistema ILPF pode obter a mesma quantidade de alimentos que sistemas convencionais em uma área seis vezes menor (69 hectares contra 419 hectares).

Marcela analisou os pilares ambiental, social e econômico do sistema ILPF em comparação a um sistema convencional. De acordo com o estudo, a intensificação proporcionada pela ILPF pode reduzir a demanda acumulada de energia em 59%. Nesse caso, o maior impacto está nos insumos. "Quando se faz agricultura de precisão, que vai ciclar mais nutrientes e demandar menos fertilizantes, o impacto na energia será reduzido", explicou. Num sistema eficiente, que otimiza o uso dos recursos, a qualidade geral do solo será melhorada em 74% e haverá 55% menos emissões de CO2-equivalente, sem considerar o sequestro de carbono no solo. "A cada hectare que prioriza integração em vez de 6 hectares em sistema convencional, há uma economia de quase 5 toneladas de CO2-equivalente/ha/ano ao ano somente com a otimização dos recursos, sem contar a matéria orgânica incorporada ao solo", disse.

No pilar social, o sistema de integração, por contar com diversos cultivos e demandar mão-de-obra o ano todo, oferecendo mais estabilidade e rentabilidade para o trabalhador, requer sete vezes mais treinamentos profissionais, permitindo que os funcionários da fazenda sejam duas vezes mais qualificados, de acordo com o trabalho de Marcela. "Eles têm uma curiosidade maior, e realmente procuram se qualificar", observou.

Quanto ao pilar econômico, o modelo que prioriza a integração apresenta redução de custo total de produção de 54%, mesmo que hajam novos custos. O percentual foi obtido considerando os fatores: redução de custo devido à menor área para produção; redução do custo devido à operação em menor área; aumento das operações, que são demandadas o ano todo; redução do uso de insumos como fertilizantes e defensivos e aumento de insumos como a alimentação do gado (mais elaborada que no sistema convencional); e maior demanda por qualificação da mão-de-obra. "Então, de fato, os sistemas de integração otimizam os pilares ambiental, social e econômico", concluiu.

Sobre a ILPF

A demanda crescente por alimentos, bioenergia e produtos ¬ florestais, em contraste com a necessidade de redução de desmatamento e da mitigação da emissão de gases de efeito estufa, exige soluções que incentivam o desenvolvimento socioeconômico sem comprometer a sustentabilidade dos recursos naturais. A intensificação do uso da terra em áreas agrícolas e o aumento da eficiência dos sistemas de produção podem contribuir para harmonizar esses interesses.

Nesse contexto, a ILPF é considerada uma estratégia-chave para compatibilizar essas demandas da sociedade. O sistema permite a colheita de até três safras por ano agrícola: a de verão; a de safrinha com milho ou sorgo e mais uma safrinha de boi ou recria de animais, intensificando os fatores de produção na propriedade e contribuindo para a conservação de solo e água. A ILPF se adapta a qualquer tamanho de propriedade, nível socioeconômico do produtor, infraestrutura de mecanização e condição edafoclimática (solo, clima, relevo etc.).

O interesse nesse modelo de exploração se apoia nos inúmeros benefícios que podem ser obtidos pelo sinergismo entre os diferentes componentes do sistema, como a melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo; a redução de plantas daninhas e de doenças com origem no solo; a produção de forragem de qualidade para alimentação animal no período de entressafra e palhada para cobertura de solo.

A ILPF foi incluída entre as tecnologias do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), do Governo Federal. Além disso, em 29 de abril de 2013 foi sancionada Lei 12.805/2013, que institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta para fomentar novos modelos de uso da terra, aliando a sustentabilidade do agronegócio à preservação ambiental.

Rede de Fomento

A Rede de Fomento ILPF é uma parceria público-privada formada pela Embrapa, pela cooperativa Cocamar e pelas empresas John Deere, Dow AgroSciences, Parker e Syngenta. Tem como objetivo principal acelerar a ampla adoção dos sistemas ILPF por produtores rurais como parte de um esforço que visa à intensificação sustentável da agricultura brasileira. Iniciada em 2012, apoia uma rede de 97 unidades de referência tecnológica (URTs) distribuídas em todos os biomas brasileiros e que envolve a participação de 19 unidades de pesquisa da Embrapa.

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

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