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Embrapa Cerrados participa da Passarela da Soja e do Milho

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A edição deste ano da Passarela da Soja e do Milho foi realizada no último sábado (13) e reuniu cerca de 800 pessoas na fazenda Maria Gabriela, região da Roda Velha (BA). O dia de campo foi dividido em quatro estações. Duas delas contaram com a condução de especialistas da Embrapa Cerrados (Brasília, DF). A pesquisadora Silvana Paula-Moraes abordou aspectos do manejo integrado de pragas e tratou da Helicoverpa armigera, recentemente identificada nos laboratórios da Embrapa Cerrados - trabalho desenvolvido em cooperação com a Embrapa Soja (Londrina, PR) – e que vem causando danos nas lavouras, com perdas elevadas na produtividade especialmente no Oeste da Bahia.

"A partir de um estudo de identificação, foram feitas análises morfológicas e moleculares e chegou-se a conclusão que era a Helicoverpa armigera", informou a pesquisadora. Antes da realização desse trabalho, acreditava-se que se tratava tão somente da espécie Helicoverpa zea, de ocorrência disseminada no país. Ela explicou que a identificação foi feita principalmente utilizando a genitália masculina do inseto. "Trata-se de um trabalho minucioso, que toma tempo e é feito por especialistas". A pesquisadora passou entre os ouvintes do dia de campo, durante a palestra, uma pequena caixa que continha as duas espécies H. armigera e H. zea. "Vocês vão perceber que do ponto de vista morfológico, visual, é bem complicado fazer essa diferenciação", alertou.

Segundo Silvana Paula-Moraes, o entendimento da biologia é fundamental, pois, a partir daí, os especialistas podem avaliar até onde devem atuar com relação às medidas de controle. "A definição da espécie norteia toda a parte de manejo", explicou. Ela ainda repassou informações específicas sobre as características da Helicoverpa armigera. "O adulto é um exímio voador, tem relatos na literatura falando de migração de mil quilômetros. Eles depositam até três mil ovos, sendo 400 ovos em 24 horas. São extremamente polífagos, ou seja, se alimentam de diversas espécies vegetais. Há registros de mais de cem espécies de plantas que são hospedeiras dessas pragas".

De acordo com a estudiosa, o trabalho atualmente dos pesquisadores da Embrapa está sendo de mensuração da proporção dessa lagarta em relação a outras pragas do gênero Helicoverpa e outros gêneros. Nos últimos dias, foi divulgado pela Empresa um documento "Ações emergenciais propostas pela Embrapa para o manejo integrado de Helicoverpa spp. em áreas agrícolas". O material foi produzido por um grupo de especialistas e encaminhado para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. As medidas propostas visam reduzir os níveis populacionais de lagartas do gênero Helicoverpa na região do Cerrado.

A pesquisadora repassou, ainda, para os participantes do dia de campo, informações sobre as filosofias de controle de pragas. "Existe àquela que defende que inseto bom é inseto morto. É uma filosofia que, a longo prazo, não tem efeito, porque a gente percebe que eles acabam voltando e a situação fica mais complicada", explicou. Por outro lado, segundo ela, há a filosofia do manejo integrado de pragas, já totalmente disseminada e que propõe a integração de medidas de controle, além daquela que trata do manejo regional de pragas. "Lagartas, como é o caso da Helicoverpa, são extremamente móveis, tem mais de uma geração, tem vários hospedeiros. A dinâmica populacional dessa espécie na paisagem agrícola define a demanda por uma organização para manejar de uma forma regional", explica.

Ela ainda tratou da tecnologia de plantas geneticamente modificadas que expressam genes que codificam proteínas de Bacillus thuringiensis, as chamadas plantas Bt. De acordo com a estudiosa, no controle de lagartas, esta tecnologia de última geração tem sido largamente adotada no Brasil, nas culturas do milho e do algodão, com expetativa de uso na cultura da soja. Mas fez uma ressalva. "Não é que toda planta Bt vai controlar todas as pragas. É preciso estar muito atento sobre o que determinada toxina está propondo controlar". Ela destacou a importância dessa tecnologia, mas que não pode ser vista como solução para todos os problemas.

 

Cultivares – outra estação da Passarela da Soja e do Milho que contou com a presença de especialistas da Embrapa Cerrados foi conduzida pelo pesquisador Sebastião Pedro, responsável pelo programa de melhoramento de soja na Unidade, e pelo pesquisador André Ferreira. Eles destacaram as cultivares de soja desenvolvidas por meio da parceria Embrapa e Fundação Bahia. "O diferencial dessas variedades é que elas foram melhoradas para dar sustentabilidade à produção agrícola", afirmou o pesquisador Sebastião Pedro. Essa estação também contou com a presença do presidente da Fundação Bahia, Clóvis Ceolin.

O pesquisador Sebastião Pedro apresentou para os agricultores, estudantes, consultores e técnicos de instituições interessadas no assunto as cultivares convencionais e transgênicas que estão sendo disponibilizadas aos produtores rurais especialmente do Oeste da Bahia, Mato Grosso e Goiás. Dentre as convencionais, o pesquisador citou as seguintes variedades: BRS 7580, BRS 7980, BRS 8381, BRS 8480, BRS 8580, BRS 8780, BRS 313 (Tieta) e BRS 314 (Gabriela). "Esses materiais são interessantes para os produtores, pois além de estabilidade, adaptabilidade e elevado teto produtivo, podem aumentar a margem de lucro do produtor por não terem a necessidade de recolhimento de royalties de transgenia e possibilitarem o recebimento de prêmios pelo grão de soja livre de transgênicos na hora de vender. O agricultor vende mais caro porque existem mercados que pagam mais para consumir a soja livre de transgênicos", afirmou.

Dentre as cultivares destacadas pelo especialista estão a BRS 7580 - variedade superprecoce com resistência ao nematoide de cisto, tolerante ao vírus da necrose da haste e pouco exigente em fertilidade. "Trata-se de um material precoce e rústico. Normalmente, precocidade que se via em soja era trazida de fora, material norte-americano ou argentino que, por não serem selecionados nas condições edafoclimáticas brasileiras, ao passar por condições de stress hídrico (veranicos) apresentam queda drástica na produtividade. Esse material é diferente, ele aguenta situações de estresse". Outra variedade de destaque, segundo o pesquisador, é a BRS 7980. "O sistema radicular desse material é fantástico. Seu diferencial é a resistência aos nematoides do cisto (H. glycines), aos dois nematoides causadores de galhas (M. incognita e M.javanica). Além de resistência à podridão radicular por fitóftora".

O pesquisador da Embrapa Cerrados enfatizou a importância do trabalho desenvolvido no âmbito do programa de melhoramento de soja da Embrapa, coordenado pela Embrapa Soja (Londrina/PR) e que envolve várias unidades da Empresa espalhadas pelo país e centenas de profissionais especializados. "Buscamos soluções para os problemas que acontecem na agricultura. Quando eles são previsíveis, precisam ser evitados". Segundo ele, um bom exemplo, nesse caso, seria a escolha do produtor por uma variedade como a BRS 8480, cujo diferencial é o baixo fator de reprodução do Pratylenchus brachyurus, nematoide que ataca não só as culturas da soja, mas também do milho, algodão e, inclusive, as pastagens. "É um ganho muito grande o agricultor poder contar que uma variedade de soja que tenha bom desempenho em áreas com esse tipo de nematoide", enfatizou.

O pesquisador também repassou informações sobre as variedades transgênicas (RR) que estão sendo disponibilizadas. "Dentro do leque de tecnologias disponíveis que se pode incorporar no melhoramento pela ferramenta da transgenia, a resistência ao herbicida glifosato (RR) é uma ferramenta importante". Ele apresentou os seguintes materiais: BRS 8180RR, de ciclo médio, com muita sanidade foliar e resistente ao vírus da necrose da haste. "Trata-se de uma característica muito importante, já que resiste ao vírus transmitido pela mosca branca, problema crescente no Brasil", ressaltou o pesquisador. Essa cultivar também tem resistência aos dois nematoides causadores de galhas (M. javanica e M. incognita). Característica que também possui a variedade BRS 8280RR. "A diferença entre esses dois materiais é que este segundo não tem resistência ao vírus, mas tem um potencial produtivo maior e um ciclo relativamente curto nas regiões localizadas ao norte do paralelo 13, que vai permitir uma produção com um teto produtivo muito elevado", destacou.

 

O evento – da Embrapa Cerrados também participou da Passarela da Soja e do Milho o supervisor do Setor de Implementação e Programação da Transferência de Tecnologia, Sérgio Abud. "A pesquisa começa aqui no campo, já que temos que prospectar e identificar demandas na própria região", afirmou Abud. Ele informou que a identificação dessa lagarta (H. armigera) partiu de uma demanda da Fundação Bahia à Embrapa Cerrados. "A partir daí, a Empresa mobilizou um grupo de entomologistas que se reuniram para estudar a ocorrência da praga e, posteriormente, propor medidas de controle", afirmou.

Além das duas estações que trataram das cultivares de soja e do manejo integrado de pragas, o evento também contou com as seguintes palestras: "Desafios e Estratégias para Manejo de Pragas com a Tecnologia Bt no Sistema de Produção Soja-Milho. Relevância da implementação de estratégias de manejo da resistência, possíveis problemas de ressurgência de pragas secundárias com ênfase para Helicoverpa spp.", conduzida pelo entomologista da Esalq/USP, Celso Omoto; e, ainda, "Alerta para o Controle de Doenças da Soja: Ferrugem, Mancha-alvo e Antracnose", de responsabilidade do fitopatologista da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Daniel Cassetari.

Todas as estações também tiveram depoimentos de produtores rurais. Foi o caso de Severo Amoreli, da fazenda São Francisco, no Anel da Soja. Segundo ele, a fazenda está localizada numa região que permite plantio o ano todo. "Temos uma situação de pragas desafiadora. Nós plantamos milho, soja, algodão e, mais recentemente, eucalipto. Enfrentamos problemas sérios de lagartas, mesmo plantando plantas transgênicas. Temos aplicado inseticidas, feito refúgio, seguido todas as recomendações", afirmou.

E continuou. "Ano a ano temos percebido uma incidência maior de lagarta no milho Bt. Mas, diria a vocês que eu não gostaria de voltar cinco, seis anos atrás, quando o milho Bt chegou, jamais. Eu prefiro continuar nesse cenário, só que fazendo sempre o monitoramento. Adotamos as tecnologias que estão sendo discutidas aqui e posso afirmar: dá para plantar milho e produzir razoavelmente bem convivendo com a situação de lagartas", enfatizou o produtor rural.

Além das estações técnicas, os participantes da Passarela da Soja e do Milho 2013 também puderam conferir, no local, parcelas demonstrativas de soja plantadas pela Embrapa e pelas empresas parcerias – Sementes Ponto e Sementes Morinaga, além de visitarem os estandes de empresas do ramo.

Juliana Caldas - 4861/DF
Embrapa Cerrados
juliana.caldas@embrapa.br

Embrapa Cerrados

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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