04/11/14 |   Biotecnologia e biossegurança

A busca por herbicidas de base natural

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Foto: Kéke Barcellos

Kéke Barcellos - Compostos naturais poderão servir de modelo para controle de plantas invasoras

Compostos naturais poderão servir de modelo para controle de plantas invasoras

Estudos desenvolvidos pela Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) apontam que plantas como a Imperata cylindrica (também conhecida como grama-de-sangue) possuem compostos que inibem o crescimento de outras plantas. Extraídos por solventes, esses compostos serão testados em diferentes concentrações para se verificar o nível de eficácia. As pesquisas buscam combater a evolução da resistência de pragas e doenças aos pesticidas.

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Antonio Luiz Cerdeira explica que a Embrapa não busca criar novos herbicidas. A tarefa inicial é isolar biocompostos de plantas específicas, com potencialidade herbicida. O resultado final esperado é o desenvolvimento de modelos para a criação de novos herbicidas naturais por indústrias químicas. Herbicidas, diga-se, eficientes, menos persistentes no ambiente e menos tóxicos que os produtos comerciais disponíveis no mercado.

Atualmente, plantas daninhas resistentes ao controle com herbicida avançam em áreas de campos cultivados no Brasil e ameaçam o vantajoso sistema de plantio direto, principalmente em lavouras de soja e milho. A monocultura e o uso contínuo de uma única formulação de herbicida, por décadas, têm contribuído para a seleção natural de biótipos de plantas resistentes ou tolerantes, que infestam os campos e influenciam negativamente a rentabilidade nas lavouras.

As plantas invasoras que mais preocupam os pesquisadores são a buva (Conyza bonariensis e Conyza canadenses), o azevém (Lolium multiflorum) e o capim-amargoso (Digitaria insularis)  que possuem alto poder de disseminação. Uma única planta de buva, por exemplo, pode produzir até 200 mil sementes com características e estruturas de fácil dispersão pelo vento, o que a caracteriza como espécie agressiva quanto à infestação. A planta pode interferir na produtividade e, consequentemente, na lucratividade da lavoura, de modo bastante expressivo.

Infestações, mesmo em menor grau, da ordem de seis a dez indivíduos por m²/ ha, por exemplo, correspondem a meia tonelada de grãos a menos na balança. A conta é simples, quanto mais plantas invasoras no terreno, menor é a produtividade.

Cerdeira acredita que produzir grãos será uma tarefa que envolverá cada vez mais trabalho e recursos. "Podemos estar deixando de lado a praticidade do plantio direto, com uso de único herbicida no controle de plantas daninhas, por um sistema mais complexo, trabalhoso e oneroso para se produzir grãos", explica. Para ele, o agricultor precisa entender que acabou o tempo em que se deixava o mato crescer e, quando era conveniente, aplicava-se o herbicida "e, como num passe de mágica, resolvia-se a questão".

Programa de pesquisas

O alto grau de interferência de certas plantas, por concorrência de recursos naturais com plantas vizinhas (água, luz e nutrientes), as transfoma em vilãs das áreas de cultivo. Chamadas popularmente de plantas daninhas, infestam áreas de cultivo, interferindo na produção de alimentos.

Por décadas o glifosato foi tratado como o herbicida químico mais eficiente e bem-sucedido do mercado no controle de plantas indesejáveis. O que antes era a solução definitiva na agricultura, hoje não possui a mesma eficiência. O momento é de encontrar novas alternativas para enfrentar  plantas invasoras resistentes.

A Embrapa Meio Ambiente (SP) e a Embrapa Soja (PR) desenvolvem pesquisas em conjunto para descobrir compostos com potencial de ação herbicida e aproveitamento de alelopatia - a capacidade de as plantas introduzidas em um determinado ambiente influenciarem as plantas que lá estão. Conceitualmente, são compostos químicos que a planta exsuda ("transpira"), e que são capazes de interferência no crescimento de outras plantas. Além das pesquisas com alelopatias, são realizados manejos alternativos, com controle químico e cultural de plantas daninhas.

O trabalho se integra a um sistema mais amplo de pesquisas, o Sustensoja – Estratégias integradas para geração de tecnologias para a sustentabilidade da cadeia produtiva da soja.

Segundo Dionísio Gazziero da Embrapa Soja, é possível obter respostas sobre  os efeitos alelopáticos de um determinado componente dentro de condições diversas de solo e clima, por exemplo, ou dentro de determinado programa. "Verificada, em campo, a suspeita de efeitos alelopáticos inibidores de determinada planta, são feitas avaliações em laboratório. Uma vez validado o padrão de efeito, os compostos serão testados no campo", explica.

A pesquisa inclui avaliações para o ambiente da integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas com outras culturas, nos quais a soja é um dos componentes. Isso possibilita determinar o grau de interferência que a floresta exerce na lavoura, seja por questões físicas ou interferência alelopática.

Investimentos em equipamentos de pesquisa

Segundo o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Celso Manzatto, o momento exige esforços, tanto de se conter o avanço da invasão de plantas resistentes nas lavouras, quanto na proposição de novos conceitos de controle, apoiados em pesquisas científicas. Segundo ele, a resposta da Embrapa a esse desafio, em um primeiro momento, baseou-se no envio dos pesquisadores Sônia Queiroz e Lourival Paraíba ao exterior, para entrar em contato com os estudos internacionais que se desenvolviam em outras instituições. Em um segundo momento, a preocupação foi arregimentar parcerias científicas nacionais e internacionais.

Manzatto destaca a aquisição, pela Embrapa, de equipamentos de tecnologia de ponta para aplicações de captura e processamento de imagens. Eles permitem avaliar bioensaios que visam ao descobrimento de compostos para uso na agropecuária. "Composto por sistemas de hardware e softwares, sensores e câmeras, nosso laboratório transformou-se em modelo na exploração da diversidade microbiana e também como depósito de recursos microbianos", diz o pesquisador.

Marcos Vicente (MTb 19.027/MG)
Embrapa Meio Ambiente

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