27/09/17 |   Transferência de Tecnologia

Workshop Latino Americano sobre Biobeds: integração entre países para reduzir o impacto ambiental no descarte de resíduos de agrotóxicos

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Foto: Francisca Canovas

Francisca Canovas - Gebler no biobed

Gebler no biobed

Como descartar resíduos de agrotóxicos na propriedade rural sem poluir o meio ambiente? Essa foi a pergunta-chave que conduziu o III Workshop Latino Americano sobre Biobeds, que aconteceu na Embrapa Uva e Vinho em Bento Gonçalves, RS, entre os dias 12 e 14 de setembro, quando representantes da Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Peru, Honduras, Costa Rica, Colômbia e Brasil discutiram o tema. 

O Sistema Biobed é uma alternativa ambientalmente segura para tratar os resíduos líquidos de agrotóxicos que ficam no pulverizador após a aplicação ou derivados após a lavagem das máquinas. Esse volume, que geralmente é descartado diretamente no solo, com o biobed é recolhido das rampas onde são executadas as atividades com os agrotóxicos e pulverizadores e reunido em um local para tratamento. Ali é reproduzido, de maneira acelerada, o modelo de atenuação que acontece naturalmente no meio ambiente.  Entre os pontos positivos da nova tecnologia destacam-se o baixo custo, a alta eficiência, a segurança ambiental e a adaptação às pequenas e grandes propriedades rurais. O sistema Biobed Brasil foi desenvolvido pela Embrapa Uva e Vinho, a partir do modelo biobed utilizado na Suécia desde 1993. Durante cinco anos, o pesquisador Luciano Gebler conduziu pesquisas visando à adaptação para as condições de clima temperado do Sul do Brasil. Segundo Gebler, "o Biobed cria um ambiente mais propício para os fungos lignolíticos (filamentosos brancos), que são os agentes microbiológicos degradadores de resíduos de agrotóxicos". A pesquisa também buscou auxiliar os produtores rurais para terem mais segurança jurídica, uma vez que a legislação determina serem eles os responsáveis pelo descarte desses resíduos líquidos gerados na propriedade, mas não deixa claro a forma correta de procedimento. 

A utilização de biobeds já é uma realidade na América Latina. Durante o Workshop, diversas iniciativas de Instituições de Pesquisa, Universidades e empresas foram apresentadas aos mais de 60 participantes. Na Faculdad de Quimica da Universidad de La Republica (UdelaR/Uruguay), desde 2010 um grupo está trabalhando com pequenos sistemas de biopurificação, mas com objetivo de instalar um sistema maior, semelhante ao que existe na Estação de Fruticultura de Clima Temperado da Embrapa Uva e Vinho, em Vacaria, RS, afirma Maria Veronica Cesio, professora e pesquisadora do Instituto. 

Na Argentina, Sebastian Blanco, da Camara de Sanidad Agropecuaria y Fertilizantes trabalha com comissões de boas práticas agrícolas difundindo tecnologia e conhecimento para os produtores rurais, inclusive contando com um projeto de instalação de biobed. Segundo ele, participar do Workshop foi muito importante para obter informações, trocar contatos e conhecer pessoas comprometidas com as pesquisas nesse sistema. 

Alejandra Diaz, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA - Costa Rica), enxerga o biobed como um meio para reduzir as contaminações no meio ambiente e fazer uma melhor gestão dos excedentes e resíduos de agrotóxicos. Ainda na Costa Rica, no Centro de Investigación en Contaminación Ambiental (CICA) de la Universidad de Costa Rica, pesquisas com o sistema biobed estão na etapa de implementação de campo, afirma Carlos E. Rodriguez-Rodriguez. Segundo ele, assim como em outros países da América Latina lá se utilizam muitos agrotóxicos. Mesmo assim, há pessoas que mostram mais consciência ambiental, e são esses que se interessam em implementar o biobed, como os pequenos produtores, que foram os pioneiros a instalar o sistema. 

Por outro lado, em Honduras o sistema biobed ainda é desconhecido. Para Lourdes Medina, também do IICA, a participação no evento vai servir para  fomentar e divulgar a tecnologia. Ela considera o biobed “uma ferramenta estupenda que complementa as boas práticas agrícolas dentro da questão de defensivos agrícolas, e que deve ser colocado na pauta das políticas públicas agrícolas”.

Complementando a estratégia dos biobeds, Mário Fujii, do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), entidade responsável pela gestão do Sistema Campo Limpo, destacou a importância da co-responsabilidade na gestão de agrotóxicos, como já ocorre com as embalagens vazias. A estrutura de logística reversa das embalagens vazias (destinação e entrega das embalagens pelos produtores rurais às empresas fabricantes), reúne mais de 400 unidades de recebimento, entre centrais e postos, em 25 estados e no Distrito Federal. Atualmente, 92% das embalagens são destinadas à reciclagem e 8% à incineração. 

Para Ailton Machado, Diretor Técnico Operacional da Ceasa Porto Alegre, o Biobed é uma iniciativa simples, relativamente econômica e que pode ser utilizada pelos pequenos produtores, principais comercializadores da CEASA. “Por isso mesmo, a ideia é apresentar e incluir a tecnologia como parte das Boas Práticas Agrícolas preconizadas pela empresa”. 

No Nordeste, especialmente no Vale do São Francisco, principal polo produtor de uvas de mesa do Brasil, o professor do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Almir Costa Amorim Junior, que também é produtor rural, vê o biobed como uma tecnologia bastante útil que precisa ser mais difundida para os produtores, que além da preocupação com o meio ambiente também são auditados pelos órgãos de fiscalização das redes de supermercados americanas e europeias (Certificação Global GAP). Com o sistema, abre-se uma oportunidade para mostrar a preocupação na solução dos problemas ambientais. 

Outras instituições de ensino superior estão investindo em pesquisas com o biobed. É o caso da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, onde a mestranda Priscila Veiga Bernardelle está dando início à implantação de biobeds, para serem acompanhados durante seis meses e avaliar as especificidades do sistema naquela região. 

Sobre o próximo evento sobre biobeds, Gebler, coordenador do evento, “já foi previsto a realização do próximo workshop dentro de dois anos, ou na Argentina ou no Uruguai, e dois anos depois já está certo que será na Costa Rica. Isso é bom, pois impele os grupos de pesquisa a buscarem resultados a serem apresentados em dois anos aos demais, criando metas. Além disso, criou-se a meta de expandir o conhecimento da tecnologia além do meio acadêmico, trazendo o ente fiscalizador ao debate e o fornecimento da tecnologia ao produtor rural. Por fim, o compromisso da criação de uma rede de comunicação com as novas mídias sociais, a fim de manter os grupos em contato”.

O que é o Biobed Brasil?
O Sistema é constituído de uma estrutura simples, originalmente um fosso cavado no solo, impermeabilizado e preenchido com uma mistura de solo agrícola, palha e turfa, denominado de substrato, sobre o qual é plantada uma cobertura vegetal que irá receber os resíduos de agrotóxicos. O substrato poderá ser utilizado por períodos de até 12 meses sem necessidade de substituição, dependendo da intensidade de uso. Após esse período, que poderá ser variável segundo o contaminante e as condições ambientais do meio onde ocorre a degradação, as moléculas de agrotóxicos que restarem estarão fortemente fixadas à matéria orgânica. Seguindo a recomendação original para substratos descartados do biobed, o material deve ser armazenado por um período de seis meses na forma de compostagem, considerando essa etapa como um fator adicional de segurança na degradação e dissipação dos resíduos de agrotóxicos. Após essa fase de compostagem, recomenda-se a dispersão do substrato antigo nas áreas agrícolas da propriedade rural, de forma que todo o efluente e resíduo gerado nos processos produtivos da propriedade permaneça controlado dentro dos seus limites físicos e legais.

O Biobed Brasil, modelo ajustado pela Embrapa para a realidade brasileira a partir de modelos existentes em outros países, deverá ser dimensionado levando em consideração o volume de resíduo líquido que será descartado por período de uso na propriedade. Na ausência de depósito de resíduos, é necessário manter a umidade também nos períodos sem aplicação de agrotóxicos; para isso o produtor deve “regar” o biobed. Caso a umidade esteja muito alta, o biobed deve ser drenado. O pesquisador Gebler comenta que, em função do clima mais úmido, algumas adaptações foram necessárias para o uso do sistema na região Sul do Brasil, como uma maior profundidade do reator. Ele também avaliou que algumas questões, como a substituição da turfa (material natural e relativamente escasso e caro), por fontes alternativas de fonte de carbono orgânico, a aplicação do sistema em volumes maiores de resíduos, como packing houses são alguns dos principais desafios a serem trabalhados futuramente pela pesquisa.

M. Francisca Canovas de Moura (7168 DRT/RS)
Embrapa Uva e Vinho

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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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