29/08/18 |   Agroindústria

‘Qualidade do leite faz toda a diferença para receitas’, diz chef

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Acervo pessoal

Acervo pessoal - Bel Coelho, chef de cozinha, falou da importância da qualidade do leite para suas receitas

Bel Coelho, chef de cozinha, falou da importância da qualidade do leite para suas receitas

Quanto mais puro, com menos mistura de água e estabilizantes, melhor. Assim a chef de cozinha Bel Coelho define o leite de qualidade que procura para a gastronomia. “A qualidade do leite faz toda a diferença para o resultado final das receitas”, diz ela, que já atuou em países como Inglaterra, Portugal, França e Espanha, onde trabalhou no El Celler Can Roca, com três estrelas no Guia Michelin.

Bel Coelho é apresentadora do programa Receita de Viagem (Canal TLC Discovery) e traz para o universo da alta gastronomia os produtos brasileiros desvalorizados pela grande maioria da população. A alta gastronomia carrega um preconceito – o que é bom vem de fora do país. Bel trabalha para quebrar essa visão e mostrar que o Brasil é rico em sabores e traz infinitas possibilidades, valorizando a diversidade do país em seus pratos (saiba mais sobre a profissional no final deste texto).

Sobre a qualidade do leite e derivados que utiliza em suas criações, a chef afirma: “Levo em conta a intensidade do sabor e a textura. A marca também deve ser confiável”. Para cozinhar, ela utiliza o leite integral – “não faz sentido usar o desnatado”. Suas receitas também empregam queijos, de preferência aqueles feitos a partir de leite cru. Costuma buscar em Minas Gerais, nas regiões de Salitre, Araxá e Serra da Canastra, e no interior de São Paulo, em Pardinho e Serra Negra.

Ela conta que já procurou produtos orgânicos em Serra Negra. “É difícil encontrar leite orgânico. Às vezes tenho que buscar direto no produtor. Já procurei a fazenda Nata da Serra diretamente, é um bom leite, excelente. Gosto bastante da manteiga deles também”, afirmou.

Segundo Bel, a escolha depende do que se pretende do queijo. “Se quiser um mais curado, terá sabores mais complexos. Há ainda o mais mole ou mesmo o queijo azul. Todos eles também têm a ver com a intensidade, sabores e textura.”

Para fazer cremes, como o creme inglês, faz muita diferença ter um bom leite, de acordo com a profissional. “Algumas receitas levam nata e os leites que a gente compra não têm. É muito difícil achar. Mais difícil que o leite é encontrar um bom creme de leite fresco”, diz.

Como distinguir
Duas pesquisadoras da Embrapa ajudam os consumidores a identificar um leite de qualidade. Maria Aparecida Paiva e Brito, da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), e Maria Edi Rocha Ribeiro, da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), explicam o que é considerado um leite de qualidade e suas características.

“O leite de qualidade é definido por alguns parâmetros: baixa contagem de células somáticas, baixa contagem total de bactérias, ausência de resíduos químicos (medicamentos veterinários, pesticidas, hormônios), densidade e índice crioscópio (ausência de água adicionada) de acordo com os requerimentos da legislação brasileira”, afirma Maria Aparecida.

Segundo ela, os dois primeiros fatores são importantes porque indicam que o leite foi ordenhado de glândulas mamárias sadias (baixa contagem de células somáticas) e que foi ordenhado e manuseado com cuidados de higiene (baixa contagem total de bactérias). Essas características são avaliadas em equipamentos especializados, e são usadas, juntamente com as outras, para avaliar se o leite apresenta qualidade satisfatória.

Para Maria Edi, é considerado leite de qualidade aquele cuja composição química (gordura, proteína lactose e minerais), microbiológica (contagem total de bactérias), organoléptica (sabor, odor e aparência) e número de células somáticas atendam parâmetros de qualidade exigidos internacionalmente. “O produto deve ser, ainda, isento de resíduos de antibióticos, desinfetantes ou adulterantes; originado a partir de rebanhos com sanidade controlada; e estar devidamente armazenado em temperatura adequada”, explica.

As duas profissionais da Embrapa afirmam que o consumidor tem condições para verificar a qualidade do leite, mas indicam análises laboratoriais para uma avaliação mais confiável. “As propriedades organolépticas (sabor, odor e aparência) podem mostrar sinais de alimento impróprio para o consumo. Mas essa identificação sempre deverá ser acompanhada de outras análises físico-químicas para a realização de um diagnóstico correto e que garanta a segurança do consumidor”, diz Maria Edi.

“As características que citei anteriormente necessitam ser avaliadas em equipamentos. Mas quando o leite não apresenta qualidade, isto é, alta contagem total de bactérias ou de células somáticas, pode apresentar odor e sabor desagradáveis, o que indica que a qualidade não é a desejável. O consumidor pode verificar também se o leite não tem cheiro de acidez ou rançoso, porque, por ser um produto perecível, pode deteriorar se a conservação, após o tratamento térmico, não é correta”, complementa Maria Aparecida.

Outra pergunta feita às duas pesquisadoras foi se um leite de qualidade é, necessariamente, mais caro e se exige investimentos diferentes. “Para produzir um leite de qualidade há necessidade de alguns investimentos. As medidas de higiene recomendadas para a ordenha incluem a desinfecção dos tetos antes e depois da ordenha. Para isso, é necessária a aquisição de desinfetantes próprios, isto é, adequados para essa finalidade”, respondeu a pesquisadora de Juiz de Fora.

“Outra prática importante para o controle da mastite é o tratamento à secagem da vaca (terapia da vaca seca), que também requer a aquisição dos produtos adequados. Mas essas práticas trazem retorno econômico ao produtor, pois é mais econômico prevenir a mastite do que precisar tratá-la”, continuou Maria Aparecida.

Para ela, tão ou mais importante que os investimentos são os cuidados diários e constantes com a higiene da ordenha, a manutenção de estábulos e sala de ordenha limpos, a limpeza dos utensílios usados para colocar o leite e a refrigeração imediata a 4 graus centígrados após a ordenha.

Maria Edi diz que a aplicação de boas práticas em todo o sistema de produção contribui para controlar ou corrigir fatores que interferem na qualidade do leite, sejam nutricionais, sanitários, reprodutivos e higiênicos, ou também a rotina de ordenha, o resfriamento e o transporte do leite. “Nem sempre é mais caro, porém, exige dedicação e comprometimento por parte do produtor para que todo o processo esteja devidamente controlado.” Segundo a pesquisadora de Pelotas, dependendo das necessidades de correções, haverá sim a necessidade de alguns investimentos.

Maria Aparecida falou ainda sobre os critérios de qualidade para os queijos e explica o que é um queijo de qualidade. “A matéria-prima de qualidade é muito importante para obtenção de um bom queijo. No queijo, concentram-se os elementos do leite (por exemplo, gastam-se em média 10 kg de leite para 1 kg de queijo), e quando a matéria-prima não tem qualidade, evidencia-se mais facilmente a concentração de sabores e odores indesejáveis”, explica.

Segundo a pesquisadora de Minas Gerais, quando o queijo apresenta cheiro, mesmo leve, de estábulo, isso é uma indicação de que o estábulo não estava limpo. “Os odores do ambiente do estábulo passam para o leite e daí podem se acentuar no queijo. Mas no caso do queijo, além da qualidade da matéria-prima, são de importância também as bactérias láticas (microrganismos benéficos) que farão a sua fermentação.”

Ela afirma que durante o período de maturação, essas bactérias vão transformar os elementos do queijo em substâncias que vão conferir suas características organolépticas. Estas conferem sabores e odores especiais, que os tornam muito apreciados. Nos queijos artesanais, esses microrganismos estão presentes no leite (ou no pingo, que é usado para inoculação), mas em outros casos, são adicionadas culturas especiais. “Outro aspecto importante da qualidade do queijo, é o processo de produção e maturação, que deve ser cuidadoso e com muita atenção à higiene para que o resultado final seja satisfatório”, finaliza Maria Aparecida.

Leite orgânico
A Embrapa Pecuária Sudeste, a SIN (Secretaria de Inovação e Negócios) da Embrapa e a Fazenda Nata da Serra têm capacitado produtores e técnicos para a produção de leite orgânico. Não se trata, necessariamente, de um leite de melhor qualidade que o convencional, mas de um produto criado a partir de outro conceito, dirigido a um nicho de mercado preocupado com a sustentabilidade.

O curso de pecuária leiteira orgânica terá seu terceiro módulo nos dias 31 de agosto e 1º de setembro, sexta e sábado. No total, são cinco módulos e o final está previsto para outubro. Nesta etapa, os instrutores serão o pesquisador Artur Chinelato e o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, André Novo, além do proprietário da Nata da Serra, Ricardo Schiavinato.

Veja, neste vídeo, como foi o segundo módulo, realizado na fazenda Canchim, em São Carlos.

Ana Maio (Mtb 21.928)
Embrapa Pecuária Sudeste

Contatos para a imprensa

Telefone: + 55 (16) 3411-5734

Colaboração: Cristiane Fragalle
Embrapa Pecuária Sudeste

Contatos para a imprensa

Telefone: + 55 (16) 3411-5704

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Galeria de imagens