21/08/15 |   Agroecologia e produção orgânica

No Ano Internacional dos Solos, destaque para o manejo do solo nos sistemas agroecológicos

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Foto: Agostinho Didonet

Agostinho Didonet -

Por Flávia Alcântara

Pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão

O Ano Internacional dos Solos é uma iniciativa da ONU (Organização das Nações Unidas) para mobilizar a sociedade sobre a importância dos solos e sobre os perigos que envolvem sua degradação, principalmente frente ao dilema de produzir alimento em um mundo onde grande parte dos solos já está degradada, inclusive, pelo uso agrícola inapropriado.

Os chineses têm um provérbio muito antigo que diz: "o solo é a mãe de todas as coisas". Durante muito tempo, no entanto, encaramos o solo como um mero substrato, algo praticamente inerte e com apenas uma entrada (fertilizantes, preferencialmente sintéticos, e sementes) e uma saída (parte colhida das plantas). A boa notícia é que nas últimas décadas, após a constatação de degradação em boa parte dos solos do mundo, percebeu-se a complexidade e o valor desse recurso e entendeu-se que o raciocínio "matemático", baseado em uma entrada e uma saída, era muito raso para algo tão complexo.

Paralelamente, as agriculturas ditas alternativas já vinham desde a década de 1930 enfatizando o cuidado com o solo, bem como a importância da matéria orgânica como recurso chave para a manutenção de sua fertilidade plena. A agricultura orgânica, esquematizada pelo britânico Albert Howard em seu livro Um Testamento Agrícola, escrito em 1939, preconizava métodos de "manejo do solo pela natureza", por meio do uso de adubação verde e de métodos de compostagem e reciclagem de materiais para incorporação de matéria orgânica ao solo.

De lá para cá, a Ciência do Solo evoluiu muito no conhecimento sobre a "caixa preta" que é a matéria orgânica. Já podemos avaliar com certa precisão sua composição química, pois, mesmo guardadas as variações de material, os métodos de análise avançaram muitíssimo. Em adição, já se tornou um consenso que a fertilidade do solo não se trata apenas de um conjunto de atributos e parâmetros químicos, mas sim de uma complexa trama de interações entre atributos químicos, físicos e biológicos.

A Agroecologia é a ciência que subsidia todas as formas alternativas de agricultura, que, por sua vez, seguem, em maior ou menor grau, os princípios agroeocológicos. Dentre esses princípios está a valorização do solo como um dos pilares da manutenção da Vida, juntamente com a água e com a agrobiodiversidade. Quando um desses pilares é, de alguma forma, deteriorado, dá-se o empobrecimento e a insustentabilidade de um ambiente e, consequentemente, dos seres humanos que dele dependem. Por isso, a manutenção e a melhoria da fertilidade do solo são uma das prioridades da pesquisa em Agroecologia.

Nos sistemas agroecológicos, o manejo do solo prioriza práticas de rotação, sucessão e consórcio de culturas que adicionem matéria orgânica ao solo, por meio do uso de plantas de cobertura ou adubos verdes, associando-se essas práticas ao uso de fertilizantes orgânicos, ou mesmo organominerais, que forneçam nutrientes de forma adequada aos cultivos.

A matéria orgânica proveniente de plantas de cobertura e adubos verdes atuará principalmente como condicionadora do solo, mas também fornecendo nutrientes; já os fertilizantes orgânicos ou organominerais, têm um importante papel como fonte de nutrientes, mas simultaneamente colaboram para o condicionamento do solo, pois também adicionam matéria orgânica ao solo. É justamente esta junção, aliada à visão do solo como elo de uma cadeia onde estão também os microrganismos, as plantas, os animais, o ser humano, a água e o ar, que faz com que o manejo dos solos nos sistemas agroecológicos permita que se produzam alimentos, ao mesmo tempo em que se cuida do solo, mantendo-o fértil e saudável para as futuras gerações.

A Agroecologia vem ao encontro das preocupações da ONU e da sociedade, ressaltadas neste Ano Internacional dos Solos e, com certeza, pode contribuir muito para que se alcance uma produção de alimentos que siga seu curso sem degradar o solo, sem destruí-lo; mas, ao contrário, reparando-o, reconstruindo sua fertilidade, respeitando-o como a "mãe de todas as coisas" e, assim, permitindo a continuidade da Vida.

Rodrigo Peixoto (1.077 MTb/GO)
Embrapa Arroz e Feijão

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