04/11/19 |   Produção vegetal

Artigo - Quanto custa errar no manejo do pasto?

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Foto: Kadijah Suleiman

Kadijah Suleiman -

- Depende ...

- Não me enrola!

- Vai aí de uns R$ 500,00 a mais de R$ 3.000,00 por hectare, por ano. 

- Tá bom. Depende do quê?

- Do peso de abate dos seus animais, do sistema de pastejo, se usa adubação ou não. Quanto mais intensivo o seu sistema de produção, mais caro sai errar no manejo. Quanto melhor a estrada e o carro e mais veloz o motorista, mais feio é o desastre!

- De onde você tirou os quinhentos e os três mil reais?

- Posso te explicar, mas você vai precisar de uma calculadora pra me acompanhar...

- Tá na mão, que eu não corro da raia.

- ... e preciso explicar primeiro o que a gente chama de manejo correto das pastagens.

- Anda logo.

- Digamos que o manejo correto é aquele que leva a uma maior produção de carne por área, com maior lucro e menor impacto ambiental - sem degradar a pastagem nem o solo e com a menor emissão de gases que esquentam o planeta.

- Continua, porque isso é meio vago, meio filosófico demais.

- Você tem que manejar o capim dentro de alturas máximas e mínimas para cada cultivar e adubar as pastagens para repor o que foi extraído do solo pelo capim, comido pelo boi e levado embora para o frigorífico. 

- Mas até pouco tempo, eu achava que o certo era cumprir um tempo fixo de descanso depois do pastejo. Tipo Voisin.

- É que com o tempo fixo de descanso, com mais ou menos calor, chuva, adubo e luminosidade a planta pode não ter crescido o suficiente ou já passou do ponto. Tem que variar o período de descanso para sempre chegar na proporção correta de folhas e talos, que vai resultar em maior ganho de peso individual, em maior lotação e em maior número de ciclos de pastejo por ano. Ou seja, tem que entrar com o boi na altura certa do capim.

- E o que eu faço com uma calculadora?

- Vamos lá. Li num artigo da Embrapa que o capim-marandu superpastejado até chegar a 15 cm suportou uma lotação de 3,2 UA/ha e os novilhos ganharam 560 g/cabeça/dia. No final de um ano, multiplicando a lotação pelo ganho individual, deu uma produção de 428 kg de peso vivo por hectare. No manejo correto do pastejo contínuo, mantendo o capim o ano inteiro próximo de 30 cm deu uma lotação menor, 2,8 UA/ha. Mas os novilhos ganharam mais: 760 g/cabeça/dia, levando a produção anual para 485 kg/ha

- Quer dizer que o pastejo correto deu 57 kg de peso vivo a mais, por hectare e por ano? Isso são 2 arrobas a mais por hectare, todo ano!

- Isso mesmo! E o subpastejo também dá prejuízo. Para manter o marandu mais alto, a 45 cm, a lotação anual cai para 2,0 UA/ha, o que é pior, o ganho de peso diminui para 730g/cab./dia. Se você acha que com pasto alto, sobrando, o boi ganha mais, está enganado. O pasto alto fica passado, digere menos, o boi se alimenta mal e acaba ganhando menos peso. No final, com melhor lotação e menor ganho por animal a produção de carne cai para 344 kg/ha. São 141 kg/ha a menos, quase 5 arrobas a menos, por hectare, por ano.

- E quanto custa essa produção a menos? 

- Considerando um custo de produção diária de R $ 1,80/cab./dia e o preço de R$ 4,90 por quilo de peso vivo (R$ 145,00/@), a receita líquida para o pastejo correto é de R$ 4.425,00/ha/ ano contra R$ 3.280,00 no superpastejo e R$ 3.014,00 no subpastejo. 

Nesse caso, já estão embutidos: adubação de manutenção, depreciação das instalações e máquinas, mão de obra, taxas e outros insumos, como medicamentos e suplementos minerais.

- Caramba, então o pasto rapado me dá um prejuízo de mais de R $ 1.000 por hectare por ano! Dá mais de R $ 570.000,00 por ano nos meus 500 ha de braquiarão.

- Pois é, e se deixar o pasto passado o ano inteiro, o prejuízo é de quase R$ 1.500,00/ha, mais de R$ 700.000,00 nos seus 500 ha.

- E sem adubação anual de manutenção?

- Os custos caem por R$ 1,50/cab./ano, a lotação cai pela metade e o prejuízo só do manejo é de R$ 580,00 no superpastejo e R$ 840,00 no subpastejo. Comparado com o manejo correto e adubado, não adubar e subpastejar leva uma perda de R$ 2.820,00/ha/ano. Sem adubo e rapado o prejuízo é de R$ 2.560,00/ha. Um traulitada de quase R$ 1.300.000,00, todo ano, nos seus 500 ha! Tá bom pra você? 

- Viiiiche !!!!!

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Capim-marandu com adubação

Altura da pastagem

Lotação

Ganho de peso

* Duração do ciclo de acabamento

Lotação

Custo total

Receita

** Resultado / ciclo

 Resultado anual

*** Prejuízo

(cm)

(UA / ha)

g/cab/dia

(dias)

(cab/ha)

(R$ 1,80/cab/dia)

(R$ 4,90 /kg de PV)

(R$)

(365 dias)

(R$/ha/ano)

15

3,2

560

500

2,9

2.610,00

7.105,00

4.495,00

3.281,35

1.144,28

30

2,8

760

368

2,5

1.657,89

6.125,00

4.467,11

4.425,63

....

45

2

730

384

1,8

1.242,74

4.410,00

3.167,26

3.013,99

1.411,64

* Tempo para um bezerro de 220 kg ganhar 280 kg e atingir o peso de abate, 17 @ (500 kg): 280 kg dividido pelo ganho diário de peso.  ** Uma receita menos o custo total  *** Diferença entre os resultados do manejo a 30 cm e dos manejos a 15 ou 45cm.

 

Capim-marandu sem adubação

 

Altura da pastagem

Lotação

Ganho de peso

* Duração do ciclo de acabamento

Lotação

Custo total

Receita

** Resultado /ciclo

 Resultado anual

*** Prejuízo

(cm)

(UA/ha)

g/cab/dia

(dias)

(cab/ha)

(R$ 1,50/cab/dia)

(R$4,90/ kg de PV)

(R$)

(365 dias)

(R$/ha/ano)

15

1,6

560

500

1,5

1.125,00

3.675,00

2.550,00

1.861,50

582,18

30

1,4

760

368

1,3

718,42

3.185,00

2.466,58

2.443,68

....

45

1

730

384

0,9

517,81

2.205,00

1.687,19

1.605,54

838,13

 

 

Haroldo Pires de Queiroz

zootecnista, analista e difusor de tecnologida da Embrapa (Campo Grande-MS).

 

Embrapa Gado de Corte

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