A Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ) comunica e lamenta o falecimento do grande especialista em fertilidade do solo, Alfredo Scheid Lopes, que ocorreu no último sábado (23/05). O corpo foi sepultado na manhã de domingo (24/05) em cerimônia reservada apenas a familiares próximos. O Professor emérito do Departamento de Ciência do Solo, da UFLA (Universidade Federal de Lavras - MG), foi vítima de um câncer aos 82 anos. Era conhecido por alunos e colegas de trabalho como "Alfredão", não apenas porque chamava atenção pela estatura, mas também pelo carisma e carinho que sempre dispensou a todos os que o rodeavam. Um dos grandes destaques de sua carreira foram os estudos sobre a correção do solo na região do Cerrado brasileiro, o que contribuiu para torná-la a grande produtora de grãos do país. A constatação de que era possível e necessário o estabelecimento de estratégias de manejo da fertilidade dos solos no bioma, veio durante o mestrado em Ciências do Solo, na Universidade da Carolina do Norte (EUA) para onde transportou 518 amostras correspondendo a mais de 1,5 tonelada de terra, coletada em quatro meses em 60 municípios dos estados de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal. Estudo completo que ficou conhecido pelo pioneirismo na verificação do grau de “infertilidade” dos solos dessa região. O estudo teve continuidade e aprofundamento durante o doutorado, de 1975 a 1977, na mesma universidade, com o resultado publicado em periódicos nacionais e internacionais de referência na época. Vinícius Benites, pesquisador da Embrapa Solos e um dos coordenadores da Rede FertBrasil, convidou o professor Alfredo para ser membro do Comitê Assessor Externo da Rede: “Convidamos o Alfredão para fazer parte, juntamente com o Bernardo Van Raij e com o Godofredo Cesar Vitti. Eles representavam, cada um por sua instituição, a base do conhecimento em fertilidade do solo no Brasil. O Alfredão já estava se aposentando mas tivemos uma conversa muito proveitosa em 2013, durante o Congresso Brasileiro Ciência do Solo, em Florianópolis, onde de forma bastante elegante colocou sua opinião sobre as prioridades de pesquisa que deveriam ser exploradas pela FertBrasil”. Durante este mesmo congresso, o Prof. Alfredo foi homenageado com o Prêmio Pesquisador Sênior do Instituto Internacional de Nutrição de Plantas (IPNI). A premiação representa o reconhecimento aos pesquisadores do país que contribuem para o desenvolvimento e promoção da informação científica sobre o manejo responsável dos nutrientes das plantas. Em um discurso muito emocionado ao receber o prêmio, Alfredão dedicou o prêmio à família e à UFLA. “Sempre transformei desafios em oportunidades. O magistério e a ciência do solo são profissões de fé na continuidade da produção de alimentos com sustentabilidade ambiental e é essa a profissão de fé que espero de meus alunos. Meus alunos são a razão da minha existência”, concluiu emocionando a plateia. Para Benites, “Alfredão teve uma enorme importância na definição das recomendações da adubação para a abertura do Cerrado, o que foi fundamental para a transformação agrícola brasileira a partir dos anos 80. A tese de doutorado dele continua sendo a principal referência quando se fala em fertilidade de solos no cerrado brasileiro.” O Professor Alfredo também esteve presente no XVI Congresso Mundial de Fertilizantes, organizado pela Embrapa Solos, no Rio de Janeiro, em 2014. Nessa oportunidade o pesquisador José Carlos Polidoro, líder da Rede FertBrasil na época, também conversou com Alfredão “Ele me olhou, analisou e disse: ‘você sabe o tamanho de sua responsabilidade com a história daquele lugar, onde fizemos as primeiras reuniões e criamos o primeiro Guia de Fertilidade do Solo’. Ali, eu me inspirei em ser um líder da Embrapa na ciência do solo”. Mesmo aposentado, o professor continuou ativo e realizando trabalhos importantes na área. Em 2016, foi convidado pela renomada revista Advances in Agronomy para fazer uma releitura de sua dissertação de mestrado, desenvolvida há 40 anos. Em 2017, traduziu dois livros da área e lançou a quarta edição do Guia de Fertilidade do Solo. Toda a sua produção científica está disponibilizada em um site. Na página apresentou seus hobbies, como música e artesanato, conquistas no esporte e histórias curiosas que se divertia ao contar. É o caso do dia em que enfrentou Pelé, em 1957, pelo Fabril Esporte Clube de Lavras, história que, em janeiro deste ano, foi relatada no Programa Globo Esporte MG. “Era a primeira vez que o Pelé jogava pelo Santos em Minas Gerais. Perdemos de 7 a 2, com quatro gols do Pelé. Meus amigos me perguntam se eu ainda estou procurando o jogador. Mas pelo menos consegui fazer os dois gols do meu time”. Em sua última entrevista, divulgada pela Yara Brasil, defendeu que se um programa de governo recuperasse um terço das áreas de pastagens degradas do Brasil, seria possível produzir 120 milhões a mais de grãos sem desmatar uma única árvore da floresta amazônica construindo, ainda, um marketing positivo do Brasil para qualquer país do mundo que defende princípios ambientais sólidos. Para Lúcia Anjos, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Alfredo foi “um cientista na plena acepção da palavra”. Alfredão foi inovador, mesmo quando essa palavra nem era conhecida. Estimado por seus alunos, deixou muitos herdeiros, filhos, netos e até bisnetos, atualmente nas mais diversas universidades e instituições de pesquisa deste país. E ainda era um poeta e seresteiro! Suas lições não serão esquecidas, Mestre, Professor Alfredo!”