02/10/20 |   Manejo de Recursos Hídricos

Instituições trabalham para reflorestar bacias de afluentes do rio Atibaia

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Foto: Ricardo Figueiredo

Ricardo Figueiredo - Rio Atibaia

Rio Atibaia

Ricardo Figueiredo, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP),  estuda a relação do uso do solo com a qualidade das águas das bacias hidrográficas. Ele enfatiza a importância da restauração florestal. 

Figueiredo tem acompanhado o programa “Conhecendo as Águas da APA”, resultado das ações desenvolvidas no Movimento Reviva o Rio Atibaia, que surgiu em 1997 com a proposta de sensibilizar e conscientizar a população sobre a importância dos patrimônios histórico-cultural, arquitetônico e ambiental existentes em local onde viria a ser a APA de Campinas. 

No Reviva é ressaltada a necessidade de se preservar os mananciais hídricos da região, em especial a bacia do rio Atibaia, um importante afluente que compõe as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), responsáveis pelo abastecimento de mais de 60 municípios com uma população de 5,5 milhões de habitantes.

“A água, no seu caminho, chega pela chuva, é estocada no subsolo e pode chegar mais ou menos rapidamente no curso d’água a depender do escoamento superficial. Uma gestão ambiental bem conduzida nas suas sub-bacias pode aumentar o potencial do Rio Atibaia para o abastecimento de nossas cidades. Devemos avaliar o que precisamos fazer para que se tenha maior produção e maior armazenamento de água para atender a demanda hídrica das nossas atividades", diz Ricardo.

O reflorestamento é importante em especial nas áreas de recarga dos aquíferos, pois favorece a infiltração e armazenamento da água no solo. Ele protege também a manutenção dos fluxos das nascentes, assim como as margens dos rios contra a erosão. “Observamos, em outros trabalhos, que isso não se dá num passe de mágica, não é imediatamente, mas é ao longo do tempo que esse reflorestamento ajuda a recuperar a vazão nesses pequenos rios, que por sua vez irão abastecer os maiores", salienta.

“Em conversa com a Jaguatibaia Associação de Proteção Ambiental, ficamos animados ao ver o potencial desses ribeirões de Sousas e Joaquim Egídio para aumentar o fluxo de água do Atibaia. São sub-bacias que não estão sendo aproveitadas em todo o seu potencial, mas já têm recebido ações de restauração, seguindo o que a legislação aponta, em suas Áreas de Preservação Permanente (APP) e nas áreas ripárias nas margens dos rios”, diz o pesquisador.

"E essa preocupação da produção e qualidade de água precisa permear todo o cotidiano das áreas rurais. Quando se tem um determinado tipo de vegetação ou a falta dela, isso influencia na qualidade da água que irá interagir com os solos até chegar ao curso de água. Precisamos ter a produção de alimentos, mas é necessário conduzir essa produção com a preservação do meio ambiente. E a Embrapa ajuda o produtor a ter esse tipo de atitude”.

No caso das sub-bacias do Atibaia, que são alvo do programa “Conhecendo as Águas da APA”, no trabalho de mensuração do potencial hídrico, ou seja, uma avaliação do quanto suas sub-bacias podem contribuir para as vazões do Atibaia, está se observando problemas relacionados principalmente com as áreas urbanizadas, pois apresentam qualidade de água nos ribeirões muito baixa comparadas com as áreas rurais, onde se tem atividades agrícolas ou de lazer, que também apresentam problemas.  

Conforme José Perdigão, engenheiro agrônomo, fundador e atual diretor presidente da Jaguatibaia Associação de Proteção Ambiental, um dos responsáveis pela regulamentação da APA de Campinas, trabalhar as ações individuais na população é um passo importante. "As pessoas em suas casas precisam ser conscientizadas, mas não podemos deixar o ônus pela possível falta de água apenas para elas. Não é apenas o consumo excessivo de água individual ou familiar a causa dos problemas, mas também temos um consumo expressivo nas atividades industriais e agrícolas, sendo que estas ainda apresentam imensas áreas degradadas, e não raro um uso inadequado de agrotóxicos".

Todas estas dificuldades ainda são agravadas pela reversão das águas da dessa bacia hidrográfica para a bacia do rio Tietê, através do Sistema Cantareira, para abastecer parte da população da Grande São Paulo, potencializando uma crise hídrica. Além do uso racional das águas e do investimento em restauração florestal em nessa bacia hidrográfica, há a necessidade da recuperação das águas dos rios Tietê e Pinheiros em São Paulo, que estão o ano todo “cheios de água”, mas hoje se comportam como canais de esgoto pela deficiência dos sistemas de tratamento. "Trabalhos de recuperação desses rios também são imprescindíveis para amenizar o quadro de déficit hídrico regional", diz Perdigão.

Atibaia

A água é captada em Sousas e distribuída para atender 95% da cidade de Campinas, enviadas das ETAS para as torneiras. Os outros 5% da demanda campineira vem do rio Capivari. No centro de controle operacional da Sanasa, Paulo Tínel, consultor técnico da Sanasa, explica que são monitoradas as águas do Atibaia, com análise de 25 parâmetros. "O rio Atibaia é considerado de classe 2 no período das chuvas, apto para consumo público. O tratamento de esgoto também contribui para a sua qualidade". O consultor considera a ação de reflorestamento no entorno do rio fundamental para a sua saúde, pois garante a contribuição dos afluentes, assegura a vida do ribeirão e incrementa a produção de água.

Dos 20 municípios que compõe a RMC, sete usam direta ou indiretamente as águas da bacia do rio Atibaia, seja para captação ou lançamento de esgoto doméstico, entre elas Americana, Campinas, Itatiba, Paulínia, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. A bacia do rio Atibaia faz parte do Sistema Cantareira desde 1974, que é administrado pela Sabesp e abastece mais de 8 milhões  de pessoas da grande São Paulo. 

Reviva o Rio Atibaia

Por sua importância, há 22 anos acontece o Movimento Reviva o Rio Atibaia, em Sousas, com ações de educação ambiental para todas as faixas etárias, recolha do lixo visível do rio, doações de mudas nativas para estimular a restauração florestal e divulgação do próprio trabalho da Jaguatibaia e parceiros. Uma das ações nascidas do Reviva é o monitoramento das águas, denominado “Conhecendo as Águas da APA de Campinas”, idealizado pela Jaguatibaia e executado com apoio das parcerias com a Unicamp e a Embrapa Meio Ambiente. 

A sub-bacia do Alto Ribeirão das Cabras está inserida na APA de Campinas, e possui área total de cerca de 22 mil ha, sendo o Ribeirão das Cabras seu principal curso d’água. Esse ribeirão atravessa propriedades onde se encontram predominantemente fazendas para criação de gado, matas de eucalipto, pequenas lavouras de café e loteamentos de pequenas chácaras. Historicamente, a mata foi dizimada no final do século 19 e início do 20, no auge da produção cafeeira, recuperando-se apenas parcialmente através da regeneração espontânea nas áreas com maior declividade e de difícil acesso, mas ainda apresenta cerca de 5 mil ha de APP degradados.

Conforme Perdigão, uma das áreas em que a associação promoveu a restauração florestal, estava há décadas completamente degradada, com predominância de pasto (gramíneas). “Isso não protegia o ribeirão, era uma área sujeita à erosão, que não contribuía para a infiltração da água da chuva no solo e com nascentes próximas já secando. Com mudas produzidas por nós, e por meio de parcerias, iniciamos a restauração dessa área, sem custo para o proprietário, fornecendo mudas, elaborando o projeto técnico aprovado pelos órgãos competentes, preparo do solo, plantio e manutenção por dois anos, com apenas uma obrigação para o proprietário: a de cercar a área para os animais não invadirem. Isso proporcionou um enorme ganho ambiental e foi reproduzido em inúmeras outras propriedades da região, priorizando áreas degradadas em Sousas e Joaquim Egídio e região do bairro Gargantilha para restauração e preservação do ribeirão das Cabras e outros afluentes do rio Atibaia", explica ele.

Quando a copa da árvore se forma, e recebe a chuva, a gota d’água chega bem mansa ao solo, pois bate nas folhas, escorre pelos ramos e tronco e encontra um solo macio, cheio de folhas, matéria orgânica que favorece a infiltração no solo, recarregando o lençol freático. Essa água do subsolo é a que corre para o ribeirão na época da seca, através dos “olhos d’água", ou seja, as nascentes, que dão sustento para a vida e toda a biodiversidade de uma determinada região. “O poder de contribuição para o rio Atibaia pelo ribeirão das Cabras e outras sub-bacias da região é enorme e estamos estudando sua dinâmica, para conhecermos e dimensionarmos seu verdadeiro potencial”, esclarece Perdigão.

“Desde a inauguração da Jaguatibaia, a maior preocupação foi com os recursos hídricos. A primeira grande ação foi o Movimento Reviva Rio Atibaia, em 1997. Com uma parceria com a SOS Mata Atlântica, implantamos nosso viveiro de mudas nativas, e assim, mais de 260 mil mudas foram produzidas e plantadas na região da APA de Campinas. No final de 2015, formalizamos nossa parceria com a Embrapa Meio Ambiente, onde reinstalamos nosso viveiro atual, em Jaguariúna", explica Perdigão.

A organização está estudando, além da qualidade e volume das águas, a ocorrência no entorno das sub-bacias estudadas, de peixes, microrganismos aquáticos, aves etc., enfim a biodiversidade do território da APA Campinas.

O estudo do potencial de contribuição hídrica do território da APA de Campinas para o rio Atibaia terá prosseguimento, realizando avaliações nas quatro sub-bacias pertencentes à APA, tanto em termos de quantidade e de qualidade de água. "Paralelamente, também teremos condições de definir de onde vêm as cargas poluidoras, buscando soluções ambientais desejadas", informa Perdigão.  

Veja reportagem da TV Câmara Campinas em  https://youtu.be/66E1s-RRkyk 

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

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