22/12/20 |   Produção animal  Produção vegetal

Trigo no alvo da indústria de proteína animal

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Foto: João Pires

João Pires - Entidades avaliam que área com cereais de inverno possa aumentar até 300 mil hectares na próxima safra para abastecer mercado de proteína animal

Entidades avaliam que área com cereais de inverno possa aumentar até 300 mil hectares na próxima safra para abastecer mercado de proteína animal

Encontro reuniu indústria e setor produtivo para discutir o uso de cereais de inverno na produção de carne, leite e ovos

Um encontro virtual reuniu diversos setores do complexo agroindustrial de proteína animal no dia 15/12. O objetivo foi discutir as iniciativas que têm sido desenvolvidas visando suprir a indústria com cereais de inverno na composição das rações. A reunião foi mediada pela Embrapa e ABPA.

Valdecir Folador é criador de suínos em Barão do Cotegipe, RS. Nesta safra, ele fez a compra direta de 210 toneladas de grãos como trigo, cevada e triticale, que vão compor 10% dos cereais na formulação da ração. Esta é segunda vez que o produtor faz uso dos cereais de inverno na alimentação dos animais. A primeira vez foi em 2015, quando o preço do milho subiu muito, agora foi a escassez de milho no mercado que incentivou o produtor: “Mesmo com preços semelhantes, os grãos de inverno eu fui buscar aqui perto, enquanto que o milho veio do Mato Grosso e com problemas de qualidade”, afirma Valdecir lembrando que, apesar da cotação em alta, os cereais de inverno deverão reduzir entre 5 a 10% o custo final da ração, já que, além de substituir parte do milho, o alto teor de fibras permite reduzir também o volumoso de soja. “Só não comprei mais trigo porque não encontrei, senão a concentração de cereais de inverno poderia ser ainda maior, chegando a 50%”, avalia. A dieta dos suínos na granja é acompanhada pelo nutricionista e os cereais de inverno têm mantido o desempenho e a conversão alimentar na substituição do milho.

Em 2020, a produção de milho no Brasil esteve próxima a 103 milhões de toneladas (t), com consumo estimado em 68,7 milhões de t e exportações acima de 34 milhões de t (CONAB), além de abastecer o mercado de etanol que consome quase 8 milhões de t. Os números não fecharam e foi preciso importar milho. A escassez de milho e o aumento da demanda de trigo no mercado interno afetou a indústria de proteína animal que continuou crescendo. De acordo com o Presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, as exportações de suínos cresceram 40% e o consumo de aves cresceu 6% no mercado interno, seguido do consumo de ovos que cresceu 9% entre os brasileiros. “O trigo foi rapidamente absorvido pelos moinhos e a oferta de milho enfrentou problemas climáticos”, avalia Santin.

“O cenário para o milho não deverá mudar tão cedo”, lamenta o presidente da Fecoagro/RS Paulo Pires. “Mesmo sabendo da importância do milho para a sustentabilidade agronômica do sistema, acredito que o produtor não vai aumentar a área de milho no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Neste ano a quebra na região noroeste do RS chegou a 100%, afetando também as áreas com irrigação que perderam 40% da produção. Nossa saída depende do aumento na área de inverno, com culturas capazes de gerar renda. O RS estava reduzindo 100 mil hectares de trigo a cada ano por falta de mercado. Se houver destino que agregue valor ao cereal de inverno, com certeza o produtor vai abraçar essa oportunidade”.

No leite, a Região Sul responde por 33% da produção brasileira. Segundo o Centro de Inteligência do Leite, em 2019 PR, RS e SC produziram 11,6 bilhões de litros. Projeções no setor indicam que a Região Sul deverá produzir mais da metade de todo o leite brasileiro até 2025. A produção depende tanto de grãos de verão para a elaboração de silagem, rações e concentrados, quanto dos cereais de inverno para forragens.

Para Francisco Turra, presidente do conselho consultivo da ABPA, é possível aumentar a área com cereais de inverno em mais 300 mil hectares na Região Sul já no próximo ano, superando 2,5 milhões de hectares. “Este trabalho vai movimentar diversas cadeias no setor produtivo, na indústria de máquinas e insumos, na alimentação, além de proteger o solo que fica descoberto no inverno, gerando renda em diferentes níveis da sociedade. Contamos com tecnologia da Embrapa, apoio do poder político federal e estadual, e disposição do setor produtivo e industrial para acelerar o processo”.

Para os representantes da indústria de proteína animal a viabilidade econômica do projeto é o próximo passo a ser definido: “Nos preocupa como planejar a produção com estas oscilações na oferta de milho. Sofremos com as oscilações do clima e do mercado que impactaram nossa competitividade, mas apesar das dificuldades, novos empreendedores estão apostando na Região Sul. Precisamos agir rapidamente para manter o abastecimento na produção de alimentos. A viabilidade econômica da produção de trigo precisa estar bem definida neste projeto para garantir a longevidade da parceria com o produtor”, avalia o presidente da ASGAV (Associação Gaúcha de Avicultura), José Eduardo dos Santos.

Rogério Kerber, do SIPS (Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos) avalia que é preciso desencadear ações para abastecer o mercado ainda na próxima safra: “Temos espaço para produzir, tecnologia para utilizar e mercado para comprar. Resta agora definir o nível de remuneração do produtor e o comprometimento da indústria em absorver a produção”.

Conhecimento em pesquisa e assistência técnica

O uso de cereais de inverno na composição de ração para suínos e aves é objeto de estudo na Embrapa desde 1987. Nos últimos anos, pesquisadores da Embrapa Trigo e da Embrapa Suínos e Aves desenvolvem pesquisas visando mapear a variabilidade nutricional dos cereais de inverno com o objetivo de montar uma base de dados que ficará à disposição do setor produtivo. A Embrapa também trabalha no desenvolvimento de novas cultivares, específicas para a alimentação animal, e na avaliação da equivalência econômica dos cereais de inverno em substituição ao milho na composição de rações.

Em Santa Catarina, a assistência técnica e extensão rural está sendo preparada para atender este novo cenário, através da Epagri e das cooperativas. De acordo com o Secretário de Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural de SC, Ricardo de Gouvêa, o programa Troca-Troca que é utilizado para fomentar o cultivo do milho, também deverá incluir os cereais de inverno, especialmente o trigo.

“O que une RS, SC e PR, em diálogos negociais de convergência, é a necessária competência competitiva para acessar o mercado de proteína animal com cereais de inverno de qualidade, gerando renda e bem estar no sul do Brasil”, conclui o Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, lembrando que a tecnologia está disponível, cabe agora a movimentação da indústria com o setor produtivo para definir o melhor plano de negócios.

Joseani Antunes (MTb 9693/RS)
Embrapa Trigo

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