Produtores rurais dos municípios de Porto Acre e Rio Branco, assistidos pelo projeto Balde Cheio, compartilharam experiências com integrantes da equipe local e com o engenheiro agrônomo João Rosseto Júnior, instrutor nos estados de Alagoas, Pernambuco, São Paulo, Rondônia e na Colômbia, durante visita técnica realizada nos dias 11 e 12 de agosto. A vinda ao Acre teve como objetivo conhecer o potencial produtivo de propriedades rurais parceiras e orientar procedimentos para alinhar a execução do projeto a objetivos e metas estabelecidos. Segundo Eduardo Mikte, professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) e coordenador local do Balde Cheio, sete propriedades participam do projeto no estado. O trabalho de assistência técnica para melhoria do nível tecnológico da atividade leiteira acontece em etapas, já que a transferência de tecnologias é um processo lento e individual. “A visita do instrutor proporciona uma visão macro das ações realizadas e possibilita visualizar aspectos que não conseguimos perceber no dia a dia. Além de funcionar como uma espécie de chancela dos procedimentos adotados na propriedade, essa avaliação conjunta ajuda a redirecionar ações para aspectos que precisam ser melhorados”, explica. A programação em Rio Branco incluiu, ainda, palestra sobre o tema “Manejo intensivo de pastagens”, realizada no auditório da Federação da Agricultura e Agropecuária do Estado do Acre (FAEAC). As atividades contaram também com a participação de técnicos da extensão rural, professores e alunos dos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária da Ufac e do curso de Zootecnia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac). Como medida de proteção, foram seguidos protocolos de segurança recomendados por órgãos oficiais de saúde na pandemia do coronavírus (distanciamento físico e uso de máscara e álcool em gel). Resultados e ajustes Uma das propriedades rurais visitadas, a Fazenda Buriti, localizada no município de Porto Acre, agrega uma empresa familiar que atua no mercado acreano desde 1994. O Laticínios Buriti abastece parte da demanda local com leite pasteurizado, iogurte, manteiga e diferentes tipos de queijo. Há um ano e meio aderiu ao Balde Cheio para melhorar a produção de leite e reduzir as aquisições do produto. Com um rebanho de 36 matrizes e uma produção diária de 300 litros de leite, a meta é chegar a 1.000 litros de leite/dia, em médio prazo, e a cinco mil litros/dia em um horizonte de cinco anos. Marcelo Oliveira, um dos proprietários da empresa, conta que a família sempre trabalhou com o comércio de laticínios e comprava 100% da matéria prima utilizada. A decisão de investir na produção de leite sem assistência técnica levou a erros e prejuízos na atividade, o que motivou a buscar de apoio do projeto. A partir da estrutura existente, apostou na intensificação de oito hectares de pastagem com uso de capim Mombaça, piqueteamento e pastejo rotacionado. Além disso, investiu no melhoramento genético do rebanho por meio da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), tecnologia que também poderá gerar renda para a família com a venda de bezerros melhorados. Como resultado, em 18 meses a produção já representa 5% do leite processado diariamente. “Acreditamos que estamos no caminho certo, mas o aprendizado é contínuo e ajustes são necessários para aumentar a capacidade produtiva a médio e longo prazo. Como o volume de água do açude fica baixo nessa época do ano, fomos orientados a reduzir pela metade o pasto irrigado e adequar o sistema de irrigação, para garantir um hectare e meio de pastagem de qualidade para o gado. Com o Balde Cheio aprendemos que quando o investimento é planejado e bem orientado as chances de sucesso aumentam”, diz Oliveira. O produtor Clilber Quintana Freitas, proprietário da Colônia Santo Antônio, também abriu as porteiras da sua propriedade, em Porto Acre, para mostrar a evolução da atividade leiteira desde que aderiu ao projeto, há um ano. As melhorias implementadas em três hectares de pastagem, incluindo adubação, divisão da área em piquetes e pastejo rotacionado, permitiram aumentar a capacidade produtiva do rebanho de 4 para 6,2 litros de leite por vaca/dia. “Hoje, com 45 vacas em lactação a produção na propriedade é 280 litros de leite/dia. Esse resultado já é muito bom, mas é possível melhorar com a irrigação da pastagem e os cuidados com adubação do solo. Quero chegar a 500 litros de leite/dia, mas será um passo de cada vez, dentro das minhas possibilidades. O grande diferencial desse projeto é que posso definir quando e como adotar cada tecnologia e consigo ver resultados palpáveis do investimento realizado” ressalta. Potencial para a atividade leiteira Na avaliação de Rosseto Júnior, o Acre tem potencial para crescer na atividade leiteira. A região apresenta condições climáticas favoráveis, com chuvas abundantes durante sete meses e as restrições hídricas podem ser supridas com irrigação. O uso orientado de tecnologias adequadas pode possibilita pasto de qualidade o ano todo. O Balde Cheio apresenta caminhos para avançar na atividade leiteira, mas é o produtor rural quem decide que tecnologias adotar e o momento da adoção, conforme a sua realidade e desejo de melhoria. “Visitamos propriedades rurais com diferentes perfis econômicos e observamos que o trabalho tem evoluído e os principais ajustes necessários envolvem questões relacionadas à dieta animal como manejo das pastagens e adubação e correção da acidez do solo. A equipe do projeto no estado ainda é pequena, mas tem conseguido quebrar paradigmas, convencendo os produtores rurais que é possível melhorar o padrão tecnológico da propriedade e aumentar a produção de leite. Esse processo envolve confiança e compromisso mútuo, cada um cumprindo o que ficou acordado”, destaca o instrutor. Estudos mostram que a orientação técnica é essencial para viabilizar a produção de leite na região, especialmente em pequenas e médias propriedades rurais. O planejamento de seca evita que problemas decorrentes da estiagem se repitam no verão seguinte e reduz riscos na atividade. “É importante que os produtores busquem apoio junto aos órgãos oficiais e outras iniciativas de assistências técnica, como o Balde Cheio, para avaliar a necessidade tecnológica da propriedade. Realizamos visitas quinzenais ou mensais e isso permite ao produtor acompanhar a evolução da atividade leiteira e promover as adequações necessárias na adoção da tecnologia”, reforça Mikte. Fortalecimento das ações O pesquisador Francisco Aloísio Cavalcante, novo ponto focal do projeto Balde Cheio na Embrapa Acre, também acompanhou a visita técnica às propriedades. A partir de setembro, o médico veterinário atuará no apoio às atividades de controle sanitário dos rebanhos leiteiros, incluindo a realização de exames clínicos e registros zootécnicos. O objetivo é fortalecer as ações desenvolvidas e melhorar este aspecto da produção por meio da adoção de práticas tecnológicas. “O manejo sanitário inicia com as anotações das ocorrências no rebanho e envolve uma série de procedimentos relacionados à sanidade animal. Essas medidas de controle são importantes para conhecer a situação produtiva, reprodutiva e sanitária do rebanho e facilitam a implementação de medidas para a prevenção e controle de doenças, redução de perdas na produção, garantia da qualidade do leite e segurança alimentar do consumidor”, enfatiza. Aprendizagem contínua Executado pela Embrapa e instituições parceiras, o projeto Balde Cheio tem ações em 14 estados, na capacitação continuada de técnicos da extensão rural e produtores envolvidos com pecuária leiteira. O objetivo é transferir, de forma gradativa e sustentável, tecnologias, práticas e processos agropecuários, zootécnicos e gerenciais para melhorar os sistemas de produção e a renda das famílias. Na metodologia Balde Cheio a propriedade funciona como um espaço para aprendizagem contínua de técnicos e produtores rurais. “Ao mesmo tempo em que possibilita a formação de novos profissionais, a ideia de “sala de aula ao ar livre” também beneficia estudantes de graduação e pós graduação. Muitos acadêmicos têm a oportunidade de participar de atividades de campo e adquirir conhecimentos sobre conceitos e alternativas viáveis para a atividade leiteira”, afirma Mikte, pontuando que quanto antes se inserirem nesse contexto prático, melhor será a formação para uma atuação futura nas propriedades.