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Embrapa e BID definem cooperação técnica para cenários de mudanças climáticas e de pós-pandemia da COVID-19

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Foto: Dalmo Oliveira

Dalmo Oliveira - Aspecto da ruralidade brasileira no Semiárido alagoano

Aspecto da ruralidade brasileira no Semiárido alagoano

A iniciativa vai fomentar ações de apoio ao turismo dentro do conceito de paisagens alimentares

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) acaba de firmar cooperação técnica (CT) com a Embrapa Alimentos e Territórios, cujo objetivo central é a definição de um marco estratégico para o desenvolvimento do turismo em paisagens alimentares rurais em três estados do Nordeste (Alagoas, Sergipe e Pernambuco). O projeto deve oferecer suporte tecnológico e visibilidade social para produtores e produtos agroalimentares a partir dos nexos entre biodiversidade-agricultura-ambiente-turismo.

Segundo João Flávio Veloso, chefe-geral do centro de pesquisa da estatal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, localizado em Maceió (AL), as tratativas com o BID foram iniciadas há mais de dois anos. “As estratégias de potencialização do segmento turístico em paisagens alimentares e o modelo de governança obtidos por este termo de cooperação contribuirão para a valorização dos territórios e de seus patrimônios alimentares, favorecendo uma maior resiliência desses setores produtivos envolvidos frente aos impactos climáticos e aos riscos relacionados com a saúde e à segurança de todos os envolvidos, no pós-pandemia”, destaca.

Ele diz que a produção documental oriunda do projeto servirá de orientação para a realização de iniciativas similares em outras regiões do País. "O projeto terá uma duração de 24 meses tão logo a primeira parcela dos recursos seja liberada. Os trabalhos serão realizados em conjunto com uma série de parceiros estratégicos, a exemplo do Instituto Federal de Alagoas, representando a Academia, além de estruturas dos governos estaduais envolvidos e a FAPED, como executora dos recursos financeiros", acrescenta o executivo da estatal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Diferencial inovativo

O projeto foi elaborado, passo a passo, contando com acompanhamento técnico do próprio BID. A ideia é que os objetivos estabelecidos possam atender algumas das áreas prioritárias de intervenção do banco, como inclusão socioprodutiva e equidade, produtividade e inovação e integração econômica, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental. 

"O diferencial do projeto está na proposição de soluções alinhadas à multifuncionalidade da agricultura e às questões sensíveis, como mudanças climáticas e estratégias para retomada das atividades econômicas no pós-pandemia da COVID-19. As soluções apresentadas pela Embrapa e parceiros devem ser pautadas em fatores como a mudança de comportamento dos turistas e o posicionamento do setor frente às emergências globais relacionadas, principalmente, à saúde e às alterações climáticas", detalha o pesquisador e chefe-adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Embrapa Alimentos e Territórios, Ricardo Elesbão.

"Nos primeiros estágios de recuperação do setor haverá uma menor movimentação turística, com turistas preferindo áreas mais próximas de seus locais de residência, menos massificadas, mais seguras, e com experiências e hábitos alimentares mais saudáveis. Novos valores e mentalidades estão emergindo no processo de pós-pandemia, como a busca por (re)conexões afetivas, consciência ao consumir, com destaque para o consumo seguro, com mais saúde e qualidade de vida, e até mesmo, repensar as dinâmicas nas metrópoles, dentre outros", avalia Elesbão.

A Embrapa aposta ainda num crescente protagonismo dos públicos consumidores em relação a produtos mais sustentáveis, fenômeno que deverá continuar crescendo. "O projeto, então, vai investir no fortalecimento dos nexos entre alimento-território-gastronomia, resultando em alterações importantes nos meios de produção, para que se adéquem às novas demandas, cada vez mais exigentes, por produtos desenvolvidos com essa preocupação coletiva", diz Ricardo.

Só para se ter noção da importância do setor turístico, em 2018 ele alcançou um dos maiores índices de crescimento econômico em nível global, movimentando 1,4 bilhão de turistas e mais de US$1,7 trilhão globalmente em 2018. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), em 2020, o setor poderá ter sofrido perdas entre US$ 910 bilhões e US$ 1,2 trilhões em receitas, colocando em risco entre 100 e 120 milhões de empregos diretos. 

“As paisagens alimentares possibilitam o turismo de experiência em que a culinária, a história, a tradição, o território, os ingredientes e os sistemas agrícolas que os produzem compõem um cenário único, rico de singularidades, permitindo aos consumidores encontrarem produtos diferenciados”, diz o coordenador do projeto Aluísio Goulart. 

“As relações econômicas que acabam se constituindo neste contexto permitem o surgimento e crescimento de outros segmentos, além da agricultura, como aqueles relacionados à gastronomia, cozinha regional e socialização em torno da alimentação. Desta forma, os aspectos exclusivos, autênticos e singulares que tornam os produtos diferenciados representam uma oportunidade para a diversificação da atividade rural e geração de emprego e renda no campo e nas cidades, o que pode ser materializado, por exemplo, por meio de roteiros gastronômicos”, acrescenta.

É com essa lógica que o projeto foi concebido para possibilitar ao turista vivenciar experiências relacionadas às tradições, culturas e modos de vida e de produção. Um modelo de turismo que possa incentivar a conservação e a manutenção da biodiversidade.

Defender esse tipo de diversidade agroalimentar e biológica, para os pesquisadores envolvidos na cooperação fomentada pelo BID, deverá, direta e indiretamente, contribuir em processos de mitigação dos impactos danosos atuais produzidos pelas mudanças do clima, através da diminuição de emissões de CO2, por exemplo. 

"O desenvolvimento do turismo sustentável, no âmbito das paisagens alimentares rurais, associado aos seus patrimônios gastronômicos, espaços rurais e tradições, permitirá ainda promover e fortalecer a inclusão social, ao oferecer alternativas de emprego e diversificação das fontes de renda para a população do meio rural, que é impactada com mais força se comparada com a de áreas turísticas urbanas, já estabelecidas", afirma Goulart.

Ele lembra também que, investir na relação turismo e experiência rural consiste em uma poderosa estratégia de desenvolvimento e posicionamento de um destino. "Trata-se de uma estratégia que tem sido enfatizada pela Organização Mundial do Turismo (OMT), dentro das ações de retomada do setor nos médio e longo prazos", acrescenta.

A cooperação entre Embrapa e BID visa, dessa forma, desenvolver e implementar estratégias e ações para a retomada do setor do turismo Nordestino, a partir de novos produtos turísticos inseridos em roteiros gastronômicos estruturados com uma abordagem territorial e a participação ativa de atores integrantes de paisagens alimentares nos Estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 

Ganha-ganha

Do ponto de vista do BID, esse tipo de projeto e de parceria se alinha à necessidade de apoio às regiões menos desenvolvidas do país para a mitigação de impactos e recuperação econômica pós-pandemia da COVID-19, de especial valor agregado em setores altamente afetados, como é o caso do setor do turismo. 

Os proponentes consideram que o turismo é reconhecido como um caminho para o desenvolvimento sustentável e está entre as grandes discussões do setor, reunindo o engajamento de estudiosos, empresários, associações, ONGs, autoridades e viajantes do mundo todo. Desde 2015, que a ONU reconheceu o turismo sustentável como ferramenta estratégica para redução da pobreza, proteção da biodiversidade e desenvolvimento das comunidades.

A cooperação técnica é algo que ganha incremento estratégico nesse momento desafiador global, promovendo a melhoria da competitividade econômica por meio da delimitação de políticas setoriais específicas em turismo. O projeto reforça as relações entre as instituições, tendo por base a reputação da Embrapa no campo científico e de geração de conhecimento, atendendo uma das linhas de financiamento do banco.

"É uma linha de difícil acesso, porque ela é não-reembolsável. O banco tem enxergado neste tipo de cooperação técnica a oportunidade de geração e transferência de conhecimento, a partir da elaboração de diagnósticos e estudos setoriais para um único país ou para iniciativas mais regionais. Trata-se de um modelo de promoção do desenvolvimento a partir do que há de mais sólido, que é o conhecimento gerado pela ciência, em que todos ganham: o banco, a Embrapa, a sociedade e as gerações futuras", avalia João Flávio Veloso.

A Embrapa é uma empresa pública ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sendo referência mundial em agricultura no clima tropical, e traz em sua agenda de pesquisa, desenvolvimento e inovação uma extensa e abrangente temática para valorização da agrobiodiversidade, tanto em escala empresarial, quanto familiar. 

Em 2018, criou o seu mais novo centro nacional de pesquisa dedicado à temática Alimentos e Territórios, baseado em Alagoas, estado do Nordeste brasileiro, uma região que tem, historicamente, recebido apoio do BID para fomento de ações de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida, com foco na redução da pobreza e desigualdade social por meio do apoio financeiro e técnico.

 

Editado em 01/10/2023 para correção de pontuação e verbo duplicado. (Mariana Medeiros)

Dalmo Oliveira (0859 | MTE-PB)
Embrapa Alimentos e Territórios

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Tradução para inglês: Leandra Moura, supervisionada por Mariana Medeiros (13044/DF)
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