05/10/21 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Produção animal  ILPF

Estudo registra melhores índices de precocidade sexual de novilhas em sistemas integrados

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Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria - Melhores condições térmicas geradas pela sombra das árvores influenciaram o crescimento nas novilhas

Melhores condições térmicas geradas pela sombra das árvores influenciaram o crescimento nas novilhas

  • Novilhas em sistemas de integração lavoura-pecuária ganharam mais peso e tiveram maior espessura de gordura da garupa.

  • Em sistemas silvipastoris, novilhas apresentaram maior concentração sérica do fator de crescimento IGF-I.

  • Conforto térmico (proporcionado pela sombra) e disponibilidade de pastagem de melhor qualidade foram determinantes para melhoria nos indicadores de precocidade sexual.

  • Pesquisa foi realizada em experimento de longa duração na Embrapa Agrossilvipastoril, em parceria com as associações de criadores Acrimat e Acrinorte.

  • Bezerros nascidos em sistemas integrados apresentaram cerca de dez quilos a mais, em média, em comparação aos filhotes de vacas que ficaram somente em pastagem.

Sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) podem acelerar a precocidade sexual de novilhas nelore. A conclusão é de uma pesquisa realizada em Sinop (MT), pela Embrapa Agrossilvipastoril, e traz contribuições importantes para pecuaristas que trabalham com sistema de cria.

De acordo com o estudo, coordenado pelo pesquisador Luciano Lopes, nos sistemas ILPF, as melhores condições térmicas geradas pela sombra das árvores influenciaram a concentração sérica do fator de crescimento IGF-I nas novilhas. Já os sistemas ILP, com pastagem precedida por dois anos de lavouras de soja, resultaram em maior ganho de peso e influenciaram na espessura da gordura da garupa. Todas essas características são indicadores de precocidade sexual em bovinos.

“Quanto mais rápido o animal entrar em produção, melhor. É interessante a novilha parir o quanto antes e manter um parto por ano após a maturidade. Quanto mais cedo inicia esse ciclo, mais bezerros ela pode gerar. A precocidade depende de alguns fatores genéticos, da raça, mas o ambiente e a pastagem também podem contribuir para acelerar isso”, explica Lopes.

A pesquisa foi realizada em um experimento de longa duração instalado na Embrapa Agrossilvipastoril e contou com parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), que financiou parte das despesas de custeio e de mão de obra, e com a Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte), que viabilizou os animais. Os dados coletados fizeram parte da dissertação de mestrado da médica-veterinária Kássila Fernanda Bertogna, da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Sinop (UFMT).

Para a pesquisa, foram usadas 48 novilhas nelores, de 14 a 16 meses de idade, cedidas por quatro produtores associados à Acrinorte. Elas foram divididas em quatro tratamentos. Um com pecuária convencional, outro em sistema ILP com dois anos de lavoura e dois anos de pastagem, e dois sistemas silvipastoris, sendo um com linhas simples de eucaliptos (clone H13) distantes 37m entre si e outro com linhas triplas de eucaliptos com renque de 30 metros. Em todas as áreas foi usada a forrageira Brachiaria brizantha cv. Marandu e o manejo e adubação do pasto foi o mesmo. 

De acordo com o pesquisador, ao mostrar que as novilhas da raça nelore apresentam melhores indicadores de precocidade sexual quando criadas em um sistema integrado, a pesquisa traz uma nova perspectiva de manejo nas propriedades de cria, sobretudo aquelas localizadas em regiões mais quentes do Brasil.

“É interessante que o produtor tenha em sua fazenda configurações diferentes de sistemas e que possa manejar categorias diferentes, ou subcategorias. Após a desmama, ILP é mais indicada para ganho de peso. Para o animal que se inicia na fase de reprodução, o sistema silvipastoril parece ser mais interessante, estimulando melhor a parte hormonal”, recomenda o pesquisador.

Bezerros são maiores em sistemas integrados

Outro levantamento feito na pesquisa foi o peso dos bezerros no nascimento. De acordo com os dados coletados, os bezerros nascidos das novilhas dos sistemas silvipastoris e da integração lavoura-pecuária tiveram peso médio sem diferença estatística, entre 34,5 e 35,8kg. Já os bezerros das vacas que ficaram na pastagem em sistema exclusivo nasceram menores, com peso médio de 25,4kg.

Lopes explica que não é possível atribuir o resultado a apenas um fator, como o menor peso das vacas na pastagem exclusiva. Para ele, a soma dos fatores climáticos, fisiológicos e corporais foi responsável pela diferença. O menor peso dos bezerros ao nascerem vai se refletir no peso ao desmame e no tempo de engorda. 

Entendendo os resultados

A precocidade sexual de uma novilha depende de fatores genéticos, da raça e da nutrição. O peso do animal é um dos principais indicadores para dar início à ciclagem e ovulação. A concentração hormonal também é outro ponto relevante. Dessa forma, nessa pesquisa foram avaliados o ganho de peso diário, a taxa de gordura na garupa (P8), a concentração sérica de IGF-I e o diâmetro folicular.

Na avaliação do diâmetro folicular não houve diferença entre os quatro tratamentos. No ganho de peso e taxa de gordura na garupa, o sistema de integração lavoura-pecuária se sobressaiu. O ganho de peso diário na ILP foi de 482g, contra 340g da ILPF com renques simples, 303g da ILPF com renques triplos e 288g da pecuária exclusiva. Já a taxa de gordura na garupa ficou em 6,53mm na ILPF, contra 5,79mm na ILPFt, 5,51mm na ILPFs e 4,8mm na pecuária exclusiva.

Devido aos altos custos das análises hormonais, a pesquisa avaliou apenas o fator de crescimento IGF-I. Nesse caso, a ILPF com linhas tripas e maior disponibilidade de sombra para as novilhas obteve maior índice, com 555 ng/ml. O sistema silvipastoril com linhas simples, ainda com presença de sombra, teve índice médio de 498 ng/ml. Os dois sistemas sem árvores ficaram estatisticamente abaixo, com 484ng/ml na ILP e 464ng/ml na pecuária exclusiva.

De acordo com os pesquisadores, a diferença na concentração de IGF-I pode ser explicada pelas condições térmicas em cada tratamento. Mensurações de temperatura e umidade feitas em globo negro mostraram que, de maneira geral, nenhum dos sistemas apresentou condições ideais para o desenvolvimento dos animais, devido ao calor na região no período de avaliação (abril a novembro). Porém, nos tratamentos com árvore as condições eram menos severas. Da mesma forma, a carga térmica radiante, outro indicador de conforto térmico, também mostrou melhores condições para as novilhas nos sistemas com presença de árvores.

“Com base na literatura, sabemos que o conforto térmico traz melhor resposta hormonal. Os resultados que tivemos sobre a concentração de IGF-I corroboram isso. Sendo assim, ter um sistema com árvores pode beneficiar as novilhas antes da inseminação e nos primeiros dias após a inseminação”, afirma Luciano Lopes.

Outros resultados 

Instalada há dez anos, essa base experimental tem sido objeto de diferentes estudos de pesquisadores da Embrapa e de instituições parceiras. Na parte animal, primeiramente foram desenvolvidas pesquisas sobre ganho de peso em machos da raça nelore, mostrando que os sistemas integrados aumentam a produtividade, porém, a diferença de ganho fica menor na medida em que se aumentam a entrada de nutrientes na pastagem e a suplementação da alimentação. 

Também já foram desenvolvidas pesquisas sobre a sanidade animal e forragicultura. Novos resultados sairão nos próximos meses com indicadores sobre resposta imune de novilhas nelore em diferentes sistemas e sobre a ocorrência de verminoses. 

Além dos estudos com animais, pesquisadores de diferentes especialidades avaliam desempenho da lavoura, a integração entre os componentes, a dinâmica de água e solo, ocorrência de pragas, emissões de gases de efeito estufa, microbiologia do solo, entre outros. 

 

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Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril

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