16/11/21 |   Geotecnologia

Uma horta para aprender

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Foto: Vivian Chies

Vivian Chies - Horta da EMEF Ângela Cury Zakia, no distrito de Sousas, em Campinas, SP

Horta da EMEF Ângela Cury Zakia, no distrito de Sousas, em Campinas, SP

Na lousa digital, a “professora visitante” mostra uma foto aérea de um prédio diferente, redondo, quase uma nave espacial. Conta que ali é a sede da Embrapa Territorial, onde trabalha. Uma nova imagem mostra um ponto bem conhecido de Campinas, SP, a Torre do Castelo, monumento bem próximo ao prédio redondo, um ponto de referência. Mais uma foto, tirada de uma das janelas da torre, mostra, em primeiro plano, a cidade cheia de prédios e, ao fundo, montanhas cobertas de verde. “Eu moro ali!”, diz logo uma criança, aluna do 2º ano do Ensino Fundamental.

Ali, é a Serra da Cabras, onde fica o distrito de Sousas e a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)  Ângela Cury Zakia, local dessa “aula” da pesquisadora Cristina Criscuolo, da Embrapa Territorial, em 12 de novembro. Ela é autora dos dois volumes do Atlas Escolar da Região Metropolitana de Campinas, utilizado no Programa Pesquisa e Conhecimento na Escola (PESCO), fruto da parceria do centro de pesquisa com a Prefeitura Municipal.

O atlas foi elaborado juntamente com professores da rede municipal de ensino para mostrar a presença da agricultura na Região Metropolitana de Campinas, e a relação dela com a vida de quem nela vive. “Olha ali a minha professora”, reconhece outra criança, quando vê as fotos da construção da publicação que ela mesma usa, na escola, projetada na lousa digital por Cristina.

A pesquisadora mostrou também diferentes paisagens e produtos agropecuários da região: 

- Eu já espremi o leite da vaca”, grita um aluninho. 
- Dá pra fazer bolo, biscoito, queijo”, diz outra criança.
- Eu amo comer, a melhor coisa do muuundo é comer!!!, mais um comentário animado

Cristina mostra outro produto, que pode ser transformado não só em alimentos, mas também em combustível para os carros:

- Meu pai tem uma plantação de cana-de-açúcar”
- O meu também tem!
- Nossa, eu aaaamo rapadura!

Uma das estudantes foi preparada para aula e levou dois pedaços de cana-de-açúcar do quintal para mostrar aos colegas que não conheciam. “As pessoas da cidade não param para pensar na agricultura; por isso, fizemos o atlas”, conta Cristina aos alunos do 5º ano da EMEF  ngela Cury Zakia, a primeira escola que visitou em 2005, quando começou o trabalho no PESCO.

A instituição de ensino de Sousas foi além da observação no livro e levou a agricultura para dentro da escola. “Vocês reconhecem essa horta?”, pergunta Cristina ao mostrar a última foto. “A gente é que fez!”, diz logo um dos alunos. “E vocês levam a gente lá pra conhecer?”, pede a visitante.

Na horta, os alunos têm muitas perguntas para o engenheiro florestal Bruno Scarazatti, analista da Embrapa Territorial. A primeira foi: “Como as plantas nascem e ficam grandes?” Bruno explica que, assim como nós, seres humanos, as plantas precisam de alimentos, de nutrientes, e, portanto, de um solo sadio. Os estudantes não perdem tempo e logo mostram duas garrafas pet, com “terras” de tonalidades diferentes, que retiraram dos canteiros. Foi a deixa para uma pequena aula sobre como a cor revela a saúde do solo e até os nutrientes das plantas. 

 

Como começou

A ideia de um horta na escola é antiga, mas os projetos começavam e paravam porque dependiam da iniciativa de um único professor. Até que, em 2019, ela passou a integrar as atividades do PESCO. A professora Eliane Lucy Marcelino conta que, a partir do atlas, eles estudaram com os alunos o espaço geográfico da região de Campinas e o tipo de agricultura que existe na região. “O atlas ajudou bastante os alunos a entenderem que Sousas e Joaquim Egídio fazem parte de Campinas”, avalia. Por serem distritos relativamente distantes do centro, alguns não têm clareza de que integram o município.

Também a partir do atlas, os estudantes exploraram a fruticultura em Valinhos e Vinhedo, o plantio de cana-de-açúcar em Paulínia e a silvicultura, que conhecem de perto, porque há um cultivo de eucalipto bem próximo à escola. No período em que a pandemia de coronavírus exigiu aulas virtuais, os estudantes seguiram o trabalho, observando a região “do alto”. “Um trabalho com imagens de satélite foi feito para que eles pudessem ter noção de outras hortas, em outros espaços. Na época, eles viajaram, foram conhecer as plantações nos vinhedo na Itália…”

As sementes e o processo de germinação e as características do solo são alguns dos temas estudados com a horta. Matemática e acessibilidade também foram assuntos abordados. Os professores desafiaram alunos do então 5º ano a debruçarem-se sobre as medidas do local e desenharem um projeto para a horta, prevendo espaço suficiente para cadeirantes circularem por lá. O projeto da Yamni ganhou a disputa e deu origem ao formato da horta. “Nossa, é meu orgulho”, diz a estudante. Ela e outros colegas do 6º e 7º ano foram à escola no turno contrário ao que estudam, para filmar a interação com o pessoal da Embrapa e mostrar ao restante da turma.

 

Horta contra o estresse

A professora Gisane Dinnouti conta que a horta, nesse período, virou um espaço para “desestressar”. A visita de Cristina e Bruno aconteceu na primeira semana de retorno às aulas 100% virtuais, após meses de escolas fechadas, aulas virtuais e turmas reduzidas. “Os alunos querem ir pra lá, querem tomar sol, querem estar juntos, porque eles estão desacostumados a ficar tanto tempo dentro de uma sala de aula, sentados numa cadeira”, observa.

Para a professora Gisane, “trabalhar com a horta é uma alegria, é um projeto que renova, que dá vontade”. Ela completa: “A escola é um lugar de convívio e de saberes na prática, de vivenciar. A escola é um lugar para ter experiência e a horta pode ser esse lugar”.

Vivian Chies (MTb 42.643/SP)
Embrapa Territorial

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