24/04/23 |   Estudos socioeconômicos e ambientais

Ameaças ao Rio São Francisco e à laguna Mundaú são tema de palestra

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Foto: Luciana Fernandes

Luciana Fernandes - O professor da Ufal Emerson Soares foi o convidado do Alimentos.com Ciência do dia 19/4

O professor da Ufal Emerson Soares foi o convidado do Alimentos.com Ciência do dia 19/4

As ameaças que colocam em risco a sobrevivência do Rio São Francisco e da laguna Mundaú, localizada na zona periurbana de Maceió, foram tema do evento Alimentos.com Ciência do dia 19/4, evento mensal promovido pela Embrapa Alimentos e Territórios com discussões alinhadas à temática de atuação do centro de pesquisa. O convidado foi o pós-doutor em ciências aquáticas e professor associado da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Emerson Soares. Soares apresentou uma análise detalhada dos principais contaminantes presentes no Rio São Francisco e na laguna Mundaú, destacando os reflexos que o problema ambiental causa à saúde da população ribeirinha.

Rio São Francisco - Os dados relacionados ao rio São Francisco foram coletados no âmbito do projeto Expedições Científicas do Baixo São Francisco, coordenado por Soares, que reúne um total de 27 instituições de todo o Brasil e prefeituras de 10 municípios (sete de Alagoas e três de Sergipe). À bordo de quatro embarcações, sendo três de grande porte, uma equipe multidisciplinar coleta dados, faz análises e promove ações de educação em saúde e educação ambiental.

O professor relatou que nos cinco anos em que a expedição vem ocorrendo, foram observados muitos pontos negativos do ponto de vista da contaminação, sendo os principais a falta de saneamento básico, a poluição, o desmatamento, o assoreamento do rio, o uso indiscriminado de pesticidas e agroquímicos na agricultura, a erosão, as mudanças hidrodinâmicas e a exploração do petróleo. “Somente na expedição de 2021 foram encontrados 14 tipos de agroquímicos presentes nas águas do São Francisco, além de microplásticos”, disse. 

A bacia do São Francisco tem 2.830 km de extensão e abrange 505 municípios em quatro subregiões (alto, médio, submédio e baixo São Francisco). “Tudo  o que acontece no rio é consequência do que acontece no alto São Francisco, localizado em Minas Gerais. Os estados de Alagoas e Sergipe concentram somente 6% da bacia”, explicou o professor.

Tamanha é a importância do Velho Chico para a economia dos municípios que o circundam que existem nove hidrelétricas ao longo de seu curso, cujas águas são utilizadas para a geração de energia elétrica e também em atividades de pesca, aquicultura, agricultura, irrigação, abastecimento, turismo, mineração, navegação e sua própria função ecossistêmica.

Como principais consequências dos inúmeros problemas ambientais detectados pela expedição, Soares destacou a escassez hídrica, o aumento da salinidade e a diminuição da vazão do rio causada pela retenção das águas pelas hidrelétricas, problemas que geram como consequência o aumento dos níveis de contaminantes.

Impactos na saúde - Os contaminantes também geram grandes impactos na saúde da população. A expedição realizou no último ano cerca de cinco mil exames bioquímicos em cerca de 500 pacientes, incluindo exames de saúde bucal em crianças e adolescentes e um projeto intitulado “Envelhecimento e qualidade de vida da comunidade ribeirinha do São Francisco”, que atendeu 132 idosos. 

“Naqueles ambientes que estão mais impactados, com pior qualidade de água, observamos que, em pleno século XXI, as populações têm maior índice de esquistossomose, problema que já deveria ter sido erradicado no nosso País”, observa Soares. “A má qualidade da água também sobrecarrega os sistemas de saúde dos municípios, que já são precários. Tudo decorre do mesmo problema que é a falta de saneamento básico”, conclui.

Além dos atendimentos em saúde, a equipe da expedição também realiza um trabalho de educação ambiental com o objetivo de conscientizar as populações ribeirinhas sobre a importância de preservar o rio. “As expedições científicas são molas propulsoras de projetos. Os dados científicos coletados devem estar atrelados à políticas públicas que promovam água limpa e alimentos às populações ribeirinhas”, defendeu Soares. 

VI Expedição - A 6ª Expedição Científica do Baixo São Francisco já tem data marcada. Acontecerá de 21 a 30 de novembro de 2023, com 36 áreas de pesquisa e cerca de 70 pesquisadores a bordo.  A viagem irá percorrer 250 Km do Baixo São Francisco, do município de Piranhas à Foz, contemplando municípios de Alagoas e Sergipe. 

Campanha #virecarranca - Soares explicou que a campanha surgiu para engajar mais pessoas na preservação do rio São Francisco. Para este ano, está prevista a realização de uma série de eventos presenciais e on-line. O próximo será no dia 3 de junho, Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, em quatro eventos simultâneos espalhados pela bacia.  Para saber mais sobre a campanha acesse www.virecarranca.com.br

Laguna Mundaú - Nos chamados “tempos áureos”, entre os anos de 2014 e 2015, os pescadores da laguna Mundaú, localizada na zona periurbana de Maceió, chegavam a extrair cerca de 6 mil toneladas de sururu por ano. A iguaria culinária, patrimônio imaterial de Alagoas, é responsável diretamente pela sobrevivência e alimentação de cerca de 3 mil pessoas que vivem ao redor da laguna. Mas problemas ambientais (salinidade, assoreamento e contaminantes) e o surgimento de uma espécie invasora conhecida como “sururu branco” reduziram a pesca para pouco mais de 50 toneladas de sururus no ano passado.

“O bivalve branco é uma espécie exótica que apareceu no ambiente e veio provavelmente nas águas de lastro de algum navio vindo do Caribe. Essa espécie está tomando conta do complexo lagunar, dominando atualmente dois terços do ambiente e competindo com o sururu nativo”, explicou Soares. 

Com área total de 27 Km², o chamado Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba envolve duas lagunas, Mundaú e Manguaba. O termo “laguna” vem da geomorfologia e significa uma depressão formada por água salobra ou salgada, localizada na borda litorânea, que se comunica com o mar através de um canal. “É uma laguna muito importante do ponto de vista econômico mas que vem passando por processos ambientais gravíssimos do ponto de vista de contaminantes”, disse. 

Na palestra, o professor da Ufal trouxe dados colhidos pelo projeto LagunaViva, que monitora 17 pontos da laguna Mundaú. Segundo ele, atualmente existem pelo menos três fontes de esgoto, principalmente da cidade de Maceió, que são jogados diretamente nas águas da laguna. “No ano passado e neste ano houve uma significativa mortandade de peixes e encontramos cerca de sete componentes que causaram esse problema, entre os quais agroquímicos, raticidas e metais pesados”, contou.

O professor criticou as políticas públicas descontinuadas de despoluição da laguna e fez um apelo: "Precisamos de políticas mais efetivas, robustas e concretas de forma que a gente consiga ter um plano de gestão e administração desses recursos e ao mesmo tempo tratar os efluentes e fiscalizar, para trazer a vida à lagoa que, infelizmente, passa por problemas muito graves nos últimos três anos”. 

Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Alimentos e Territórios

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