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Transformação digital na agropecuária está entre desafios da Embrapa para as próximas décadas

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Foto: Mac Mullin/Pexels

Mac Mullin/Pexels -

Projeções da  AgGateway indicam que, até 2028, o mercado global de agricultura digital atingirá  US$ 22,1 bilhões em termos de receita, numa agenda que é também social e ambiental. O poder transformador da agricultura digital implica o desafio de que seja uma ferramenta para atenuar efeitos negativos da concentração de riqueza, de acordo com o documento Visão de Futuro da Embrapa, que identifica as oito megatendências da agropecuária brasileira, e coloca o agrodigital e a sua transversatilidade com todas as outras, em especial: integração de conhecimento e de tecnologia,  sustentabilidade e adaptação à mudança do clima, vinculadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis (ODS).

A Embrapa não perde o bonde dessa história, porque já embarcou nele há 37 anos, quando as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) encontraram lugar permanente na pauta da Empresa. De forma visionária, já em 1985, a instituição criaria um núcleo dedicado ao tema que, cinco anos mais tarde, foi transformado no centro de pesquisa Informática Agropecuária, hoje Embrapa Agricultura Digital. 

“As equipes têm acompanhado e se antecipado às mudanças no mundo rural, provendo serviços digitais de qualidade,  que atendam às demandas e às necessidades do setor”, avalia Stanley Oliveira, chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital. Segundo ele, a crescente multidisciplinaridade do quadro técnico da unidade, viabiliza a atuação transversal no desenvolvimento de soluções voltadas às cadeias produtivas, beneficiando do pequeno ao grande empreendimento rural.

“À medida que as novas tecnologias evoluem, seus custos diminuem e o acesso para pequenos agricultores vai se democratizando”, diz Oliveira. Para ele, as inovações devem ser apresentadas como ferramentas para reduzir custos,  aumentar a produtividade e tornar a  jornada do agricultor mais leve. E destaca que “a transformação digital não depende apenas da introdução de tecnologias, porque a mudança de cultura implica na integração de pessoas aos processos”.

A unidade tem assegurado presença na temática também por meio do apoio à formação de profissionais para atuação na agricultura digital, uma demanda que deverá crescer até 400% em 2030,  segundo levantamento da AgGateway. Instalado no campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na cidade transformada em pólo de atração de jovens e empresas nascentes, o centro de pesquisa recebe estagiários e bolsistas em suas frentes de atuação junto ao setor produtivo. 

A partir da capacitação em tecnologias digitais, a unidade colabora ainda com a redução da lacuna existente entre os profissionais formados e a demanda real de mercado. Para o gestor, a capacitação é um esforço que implica na construção de “um arranjo sólido envolvendo governos, academia, setor produtivo e sociedade civil”, diz Oliveira. 

Ecossistema - O programa TechStart Agro Digital e o laboratório vivo para desenvolvimento e inovação aberta, AgNest, estão entre as ações voltadas a agtechs do ecossistema nacional que contribuem com a formação de profissionais para o agrodigital. A unidade atua junto às startups como facilitadora, aportando conhecimentos e articulando parcerias. 

O crescimento do mercado global de agricultura digital, da ordem de bilhões de dólares, torna o segmento atrativo a investidores e, por consequência, a empresas nascentes interessadas em alavancar seus negócios e contribuir para a resolução de problemas globais. Surgem, então, startups dedicadas a soluções sustentáveis, à educação e à  facilitação de crédito rural.

No comando do centro de pesquisa, Stanley Oliveira destaca o “senso de destino” que marca a trajetória da unidade desde os primórdios, com a fábrica de softwares, passando pela década da internet até a presente era do digital na agropecuária (confira detalhes no box). A atuação da unidade está assentada nos pilares do apoio às políticas públicas, à regulação de mercado e à tomada de decisão pública e privada. 

O centro conquista projeção nacional na coordenação e desenvolvimento de dados e metodologias de suporte ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) bem como no uso de novas ferramentas digitais em ações voltadas, por exemplo, à rastreabilidade e à detecção rápida de doenças. 

ZARC - O sistema indica o quê, onde e quando plantar com maiores chances de sucesso, permitindo que o setor produtivo planeje seus investimentos em níveis de risco economicamente viáveis. O atendimento às recomendações do Zarc é obrigatório para o agricultor acessar políticas públicas para crédito e seguro rural, como o Proagro e o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).  

De acordo com o Balanço Social da Embrapa, somente em 2021, sua adoção proporcionou uma economia superior a R$ 8,7 bilhões à produção agrícola brasileira. O valor equivale principalmente a prejuízos evitados pela adoção das recomendações indicadas, que, de outro modo, resultariam em indenizações securitárias. 

Entre as entregas recentes do programa, estão o desenvolvimento e disponibilização do aplicativo móvel Zarc Plantio Certo, que facilitou o acesso às informações do zoneamento. O aplicativo contabiliza 50 mil downloads e mais de 22 mil dispositivos (usuários) ativos. Acesse aqui a página do Zarc.

Desenvolvido pela Embrapa, o Zarc foi publicado pela primeira vez na safra de 1996, para a cultura do trigo. Atualmente, os estudos de zoneamento já contemplam mais de 40 culturas agrícolas, com a finalidade de melhorar a qualidade e a disponibilidade de dados e informações sobre riscos agroclimáticos no Brasil. A evolução metodológica e na infraestrutura computacional necessária para dar suporte ao zoneamento vem contribuindo para acelerar o seu aprimoramento.

Blocckchain  - O primeiro açúcar mascavo dotado de um sistema de rastreabilidade baseado em blockchain e colocado na prateleira dos supermercados ano passado é resultado do trabalho de três anos de uma equipe de especialistas da Unidade que desenvolveu o Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar) para produtos do setor de alimentos. Por meio de um QR Code estampado na embalagem, qualquer pessoa pode verificar as informações sobre a origem e o processo de fabricação do açúcar.

Em 2023, a tecnologia será expandida para o açúcar demerara e cachaças artesanais da Usina Granelli, parceria na validação do sistema, e estendidas a outras culturas agrícolas e diversos elos da cadeia produtiva, do campo à indústria. É o que prevê parceria entre Embrapa, Ferpall Tecnologia Ltda, e Associação Brasileira de Rastreabilidade de Alimentos (Abrarastro), que visa levar o software a produtos como carnes, café, ovos, peixe, frutas, verduras e legumes.Clique aqui para saber mais. 

Inteligência Artificial -  Em 2022, testes inéditos com equipamento que permite capturar e simular sinais cerebrais, para detecção de fitopatologias da soja em estágio inicial por meio de inteligência artificial (IA) também foram desenvolvidos por equipes da Embrapa Agricultura Digital. A ideia é conferir rapidez à tomada de decisão, reduzindo perdas em empreendimentos rurais e racionalizando o uso de recursos ambientais.

O experimento foi viabilizado pela parceria entre a Embrapa e as empresas Macnica DHW e InnerEye, esta última desenvolvedora do BrainTech. O equipamento captura sinais neurais de especialistas por meio de um capacete com eletrodos (foto), similar a um eletroencefalograma. A automatização da rotulagem tornou a etapa mais rápida e eficiente. A tecnologia pode ser embarcada em máquinas agrícolas, drones ou celulares, atendendo pequenas, médias e grandes propriedades. Clique aqui para saber mais.

Evolução da TI aplicada à agricultura - Nos primeiros 15 anos de trabalho da Embrapa Agricultura Digital, as tecnologias digitais eram focadas principalmente na recuperação e gestão da informação e no desenvolvimento de sistemas na esteira do início da popularização dos computadores pessoais (PC), que começaram a ter um uso mais intensivo nos projetos de pesquisa da Embrapa, especialmente na área de processamento digital de imagem e de dados. 

Nos anos 2000, com o crescimento da Internet no País, a tecnologia evoluiu para sistemas de monitoramento, análise de dados e suporte à decisão para a atividade agropecuária. Entre os destaques, estão o desenvolvimento do Sistema Interativo de Suporte ao Licenciamento Ambiental (Sisla), do Sistema para planejamento, previsão e monitoramento da produção agrícola (WebAgritec) e do Sistema de Monitoramento Agrometeorológico Agritempo, que oferece acesso a dados agrometeorológicos de todos os municípios brasileiros e completa 20 anos em 2023. 

É também nesse período que surgem as primeiras soluções digitais para aplicação no diagnóstico de doenças de plantas (Diagnose virtual). Na década seguinte, além da consolidação de sistemas para apoio a decisões públicas e privadas, como o TerraClass Amazônia e o Sistema de Análise Temporal da Vegetação (SATVeg), a computação científica cresce em importância para a bioinformática e a biotecnologia avançada aplicada à agricultura.

 Nos últimos anos, a evolução das TICs se beneficiou da oferta de banda larga e da criação de redes móveis, como 3G e 4G, que por meio dos smartphones possibilitou que a tecnologia chegasse à palma da mão do produtor rural. É quando surgem os aplicativos móveis e a Embrapa lança os apps Plantio Certo, Roda da Reprodução e Bioinsumos, além da plataforma de APIs agropecuárias, a AgroAPI Embrapa, voltada para empresas e startups desenvolvedoras de software. 

O momento atual é marcado pela integração das plataformas computacionais e por sistemas complexos, onde o avanço das pesquisas apontam para o desenvolvimento de aplicações baseadas em internet das coisas (IoT), blockchain, big data analytics, visão computacional e inteligência artificial, entre outras tecnologias que buscarão levar a agropecuária brasileira para um novo patamar de competitividade, resiliência, eficiência e sustentabilidade.

Valéria Costa (MTb. 15533/SP)
Embrapa Agricultura Digital

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Mais informações sobre o tema
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