Helicoverpa armigera: perguntas e Respostas sobre o uso do Benzoato de Emamectina

O benzoato de emamectina é um inseticida que atua no controle de larvas de lepidópteros (lagartas), que são pragas de espécies agrícolas de interesse econômico.. O produto está regulamentado em 77 países, para uso em mais de 90 cultivos agrícolas em todo o mundo. No Brasil, seu uso emergencial, autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) nas regiões onde foi decretado estado de emergência sanitária, deve ser entendido como mais uma ferramenta na estratégia de manejo da Helicoverpa armigera. Essa é considerada uma praga polífaga, ou seja, ela se alimenta de várias culturas, portanto, é mais difícil de ser controlada, já que é abundante a oferta de alimentos durante todo o ano. A experiência da safra 2013/14 mostrou que a melhor forma de lidar com a nova praga é o Manejo Integrado de Pragas (MIP) de todo o sistema agrícola. A utilização de inseticidas, inclusive do benzoato de emamectina, de forma inadequada e como única estratégia de manejo pode agravar ainda mais o problema. Existem vários aspectos a serem considerados em relação ao uso do benzoato de emamectina. A seguir destacamos algumas questões técnicas frequentes a serem consideradas em relação a este produto:

1. A Embrapa é favorável à liberação do inseticida benzoato de emamectina para o controle de Helicoverpa armigera?

A Embrapa entende que o inseticida benzoato de emamectina pode ser mais uma opção de produto para o controle de Helicoverpa armigera. Porém, é preciso considerar que existem pelo menos outros 24 produtos registrados emergencialmente, pelo MAPA para o controle dessa praga. Estudos da Embrapa, realizados na cultura da soja, indicam que no mínimo cinco moléculas apresentam eficiência satisfatória quando aplicados em pulverização foliar nas doses de registro. Tais moléculas representam oito produtos registrados distribuídos em quatro diferentes grupos químicos (Diamidas, Pirazol, Oxadiazina e Diacilhidrazina), viabilizando a rotação de produtos com diferente modo de ação para evitar que se desenvolva populações de pragas tolerantes aos inseticidas, com o passar dos anos. Nas regiões onde o uso emergencial do benzoato de emamectina for autorizado, é muito importante que o produto seja usado corretamente para se evitar danos à saúde humana e ao meio ambiente. Ao definir sua estratégia de manejo, o produtor deve procurar sempre optar por produtos mais seguros ao homem e menos impactantes ao meio ambiente, deixando o benzoato de emamectina apenas para casos extremos

2. O inseticida benzoato de emamectina é de fato eficiente para o controle de Helicoverpa armigera?

O inseticida benzoato de emamectina não foi amplamente avaliado nas condições brasileiras, mas existem relatos de que vem sendo usado com eficiência para o controle de Helicoverpa armigera em outros países. Estudos realizados nesses países indicam que o desempenho de benzoato de emamectina se equivale ao de outros produtos, muitos dos quais já registrados no Brasil para o controle de Helicoverpa armigera, ou seja, é apenas mais um inseticida que pode auxiliar no manejo integrado da praga. Frequentemente, associa-se erroneamente, o nível toxicológico com a eficiência de controle do produto, contudo isso nem sempre ocorre. O fato do benzoato de emamectina apresentar severos riscos à saúde humana não significa que seja mais eficiente do que produtos menos tóxicos. É importante destacar que, em campo, o inseticida benzoato de emamectina pode atuar por contato, mas a via principal de contaminação da lagarta é por ingestão. Por isso é importante que seja usada a dose recomendada e o nível de controle para cada cultura. A pulverização deve ser realizada com uma tecnologia de aplicação que permita uma boa cobertura de todas as estruturas da planta, incluindo brotos novos e flores, onde a lagarta habitualmente inicia seu ataque. O agricultor deve ficar atento à seletividade aos agentes de controle biológico e aos custos de aplicação dos diferentes produtos disponíveis no mercado, para tomar a decisão sobre o melhor produto a ser utilizado.

3. Por que a liberação do benzoato de emamectina no MT só ocorreu após mais de um ano da detecção da Helicoverpa armigera no Brasil?

A ocorrência de Helicoverpa armigera no Brasil foi confirmada em maio de 2013, quando a Embrapa notificou oficialmente o MAPA. Isso possibilitou o início de diversas ações visando combater a praga, como o registro emergencial de produtos biológicos e químicos.  Antes de qualquer liberação de produtos importados, sem registro, foi priorizado o registro de produtos que já estavam no mercado brasileiro o que deu mais garantia ao agricultor sobre a disponibilidade de produtos para proteger a sua lavoura, com produtos já conhecidos quanto a sua toxicologia e impacto ambiental. Assim, desde os primeiros meses após a comunicação oficial da presença da praga no Brasil, o agricultor teve a sua disposição produtos eficientes registrados e para o controle da praga.

4. Como os agricultores dos estados onde o benzoato de emamectina não está autorizado farão para proteger seus cultivos do ataque de Helicoverpa armigera?

O produtor deverá utilizar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) que preconiza o uso das diversas estratégias de manejo, de forma integrada, dentre as quais o monitoramento, identificação, amostragem para conhecer o nível de população da praga, a tomada de decisão sobre como controlar a praga, que pode ser por meios culturais, biológicos, controle varietal com uso de variedades transgênicas e finalmente, controle químico. Além disso, existem atualmente, ao menos 24 produtos registrados emergencialmente pelo MAPA para o controle de Helicoverpa armigera, incluindo inseticidas químicos e biológicos. Muitos desses produtos são eficientes para o controle da praga, portanto possibilitam que, mesmo sem o benzoato de emamectina, o produtor consiga proteger a sua lavoura. Tão importante quanto o produto a ser usado é a estratégia de manejo a ser adotada, descrito acima, pois o uso excessivo de inseticidas pode favorecer a ocorrência de surtos de outras pragas, como a lagarta falsa-medideira, lagartas pretas (Spodoptera spp.) e ácaros, além de aumentar os riscos de desenvolvimento da resistência de pragas a inseticidas.

5. Afinal que produto o agricultor deve utilizar para combater a Helicoverpa armigera?

Caso realmente seja necessário uso de produto químico ou biológico, após realizado o monitoramento das pragas, o agricultor deve utilizar somente produtos registrados para a praga e para a cultura em questão, obedecendo a dose de bula. Vários casos de falhas de controle da praga ocorrem devido ao uso de produtos não registrados, adulterados ou clandestinos, doses ou formas de aplicação incorretas. É importante considerar que nem todos os produtos eficientes para o controle de outras lagartas são igualmente eficientes para o controle de Helicoverpa. Dentre os produtos registrados, há indicação, a partir de estudos, de que inseticidas dos grupos químicos das Diamidas, Pirazol, Oxadiazina e Diacilhidrazina apresentam bom desempenho para o controle de Helicoverpa armigera em soja. Dentre os produtos registrados, o agricultor deve usar preferencialmente os produtos menos tóxicos à saúde humana e os mais seletivos aos agentes de controle biológico; considerando que estes organismos auxiliam no controle natural de pragas, incluindo a própria Helicoverpa, por isso devem ser conservados. Dentre os produtos registrados para Helicoverpa existem pelo menos oito produtos biológicos a base de bactéria (Bt) e vírus (Baculovírus), os quais podem ter bom desempenho de controle desde que usados com os devidos cuidados. Ao longo do ciclo da cultura, o agricultor não deve usar sempre o mesmo produto, mas sim rotacionar inseticidas de diferentes grupos químicos para evitar que as populações de pragas se tornem resistentes com o passar dos anos. O agricultor deve realizar a primeira aplicação do ciclo da cultura apenas quando for atingido o nível de controle, ou seja, atrasando ao máximo a primeira aplicação, e utilizando preferencialmente os produtos mais seletivos aos agentes de controle biológico, deixando os menos seletivos, quando for o caso, para o final do ciclo.

8. É possível dizer que a Helicoverpa armigera já está resistente a inseticidas no Brasil?

Não existem estudos nas condições brasileiras que permitam afirmar a existência de populações de Helicoverpa armigera resistentes a qualquer inseticida, pois a constatação da praga no Brasil ainda é muito recente. Porém, há relatos de casos de resistência desta praga a inseticidas dos grupos dos Fosforados, Ciclodienos, Carbamatos e Piretroides, principalmente na Ásia e Oceania, em países como Índia, China e Austrália. O desenvolvimento da resistência de uma praga a um inseticida é algo que pode levar alguns anos e depende de vários fatores. Porém, para reduzir as chances do surgimento da resistência é necessário realizar aplicações apenas quando a praga atingir os níveis de controle, usando inseticidas de diferentes grupos químicos, de forma alternada, ao longo do ciclo da cultura e ao longo dos anos.

9. Qual a melhor estratégia a ser adotada no combate à Helicoverpa armigera?

Para proteger seus cultivos o agricultor deve, no mínimo uma vez por semana, realizar monitoramento por meio de amostragens na lavoura para conhecer a densidade populacional da praga e determinar qual estratégia do MIP deve ser usada e se é necessário realizar o controle. É importante considerar que as culturas apresentam tolerância ao ataque de pragas, ou seja, até certos níveis populacionais não há perdas de produtividade, pois as plantas são capazes de suportar o ataque e compensar a produção. Esses níveis populacionais são conhecidos tecnicamente como níveis de controle e indicam a densidade populacional a partir da qual medidas de controle são necessárias. A utilização da amostragem e dos níveis de controle tem reduzido o número de aplicações e os custos da lavoura sem perdas na produção. Isso tem sido constatado, na prática, em diversas regiões produtoras do país onde a Helicoverpa armigera ocorre. Em muitos desses casos o controle tem ocorrido naturalmente, pela ação de agentes de controle biológico (inimigos naturais das pragas) que causam elevada mortalidade da praga, reduzindo a sua densidade populacional sem a necessidade de uso de inseticidas. O uso racional de agrotóxicos ajuda a conservar os inimigos naturais e traz benefícios econômicos diretos para o agricultor e para o meio ambiente. 

10. Qual é o momento ideal para dar início ao controle da praga?

Os níveis de controle para a cultura da soja são 4 lagartas por metro de linha até o florescimento e 2 lagartas após. Em soja, a amostragem deve ser realizada semanalmente até o florescimento e duas vezes por semana a partir desta fase. Para amostragem de Helicoverpa em soja usando o método do pano-de-batida, com 1 metro de comprimento, precedido da vistoria dos ponteiros, flores e vagens, amostrando em diversos pontos bem distribuídos ao longo da lavoura. Na cultura do algodão, o período crítico ocorre desde o aparecimento dos primeiros botões florais até o surgimento dos primeiros capulhos, e o nível de controle é de 10% de plantas atacadas com lagartas pequenas. Detalhes sobre o nível de controle e o manejo integrado de Helicoverpa armigera em outras culturas pode ser consultado em www.cnpso.embrapa.br/caravana. Controlar a lagarta apenas quando o nível de controle é atingido permite proteger a lavoura do ataque da praga sem perdas de produtividade, com redução de custos e conservação de agentes de controle biológico.

11. Com a liberação, é possível que o benzoato de emamectina passe a ser utilizado em larga escala. Quais os impactos disso no meio ambiente, nos alimentos e na saúde humana?

A princípio espera-se que o produto seja utilizado como parte das estratégias do MIP, o que, em tese diminui a possibilidade de ser utilizado indiscriminadamente, em alta escala. O risco do produto está diretamente relacionado à sua correta utilização. Laudos toxicológicos indicam que este produto é muito tóxico para a saúde humana (como a maior parte dos agrotóxicos) e precisa ser manuseado com muito cuidado. O agricultor sempre deve usar equipamento de proteção individual (EPI) e respeitar as instruções de uso seguro de agrotóxicos. O risco à saúde humana foi um dos motivos para a não liberação deste produto, nos anos 2000, no Brasil. Em relação ao meio ambiente, um relatório da "European Food Safety Authority" (EFSA) indica que o benzoato de emamectina é prejudicial a organismos não-alvo, artrópodes benéficos, organismos aquáticos e abelhas, porém sua degradação é rápida o que reduz os riscos ambientais e os resíduos nos alimentos (www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/doc/2955.pdf). Na Europa, é recomendado que o produto não seja aplicado no período de floração da cultura para evitar danos às abelhas e outros polinizadores. Assim, é muito importante que o produto seja usado corretamente para se evitar danos à saúde e ao meio ambiente. Além disso, produtos mais seguros ao homem e menos impactantes ao meio ambiente devem ser priorizados para o manejo de pragas, reservando produtos como o benzoato de emamectina apenas para casos extremos.

12. Como as plantas Bt (tolerante a lagarta) podem auxiliar no manejo de Helicoverpa armigera? E como deve ser o manejo desta praga em cultivos Bt?

A soja Bt (Intacta), que produz a toxina Cry1Ac, possui pequena ação na Helicoverpa armigera, que é apenas de supressão de lagartas dos instares iniciais. Entretanto, as lagartas de Helicoverpa armigera dos instares finais não são eficientemente controladas pela soja Bt. É importante considerar, também, que existem outras espécies de lagartas e outras pragas que não são afetadas pela toxina da soja Bt, assim, mesmo utilizando esta tecnologia, é necessário que o agricultor faça o monitoramento da lavoura. O algodão Bt é menos efetivo que a soja Bt no controle de Helicoverpa armigera. No entanto, o algodão Bt é menos danificado pela lagarta do que o algodão não-Bt. Nesta cultura, o ataque ocorre principalmente nas estruturas reprodutivas, tais como botões florais, flores e maçãs. A utilização de cultivares de algodão de ciclo curto também pode auxiliar na redução da intensidade de ataque da praga. Em milho existem 9 eventos Bt (híbridos) que apresentam resistência diferenciada a Helicoverpa armigera, sendo alguns mais eficientes do que outros. Ao utilizar a tecnologia de plantas Bt, para que a lagarta não se torne resistente, ao longo do tempo, é fundamental usar áreas de refúgio estruturado com plantas não-Bt. O refúgio não deve estar a mais de 800 m de distância da área cultivada com plantas Bt. Nas áreas de refúgio sugere-se adotar estratégias de Manejo Integrado de Pragas (MIP), utilizando preferencialmente o controle biológico (exceto Bt) e inseticidas seletivos a inimigos naturais. Adicionalmente, como estratégia de manejo da resistência no sistema é indicado evitar o uso de cultivares transgênicas cujos eventos (variedades e híbridos) expressem as mesmas toxinas nas diferentes culturas, simultaneamente e sucessivamente. Não há inconveniente de se utilizar variedades transgênicas RR (resistentes a glifosato) nas áreas de refúgio.