Nematoide

Conteúdo atualizado em: 24/01/2024

Autor

Adriane Wendland Ferreira - Embrapa Arroz e Feijão

Murillo Lobo Junior - Embrapa Arroz e Feijão

 

As características de cada ecorregião do Brasil e as infestações do solo por nematoides fitoparasitas estão entre os principais fatores que interferem na produtividade e na qualidade dos grãos do feijoeiro. Os nematoides mais nocivos ao feijoeiro são os nematóides das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica),  e os nematoides das lesões (Pratylenchus brachyurus). Contudo, danos causados por outros nematoides também são relatados: nematoide do cisto da soja, Heterodera glycines,  Meloidogyne paranaenses, Pratylenchus jaehni, M. enterolobii, sin., M. mayaguensis. O nematoide da haste verde da soja (anteriormente denominado soja louca II), Aphelenchoides besseyi, também é relatado em feijão.

A utilização de cultivares resistentes é a estratégia mais eficiente para controlar a população do nematoides, além de ser a mais adequada para o produtor. No entanto, poucos genótipos de feijoeiro que podem servir como fontes de resistência foram identificados no Brasil.

Nematoide das galhas (Meloidogyne spp.)

O feijão-comum é atacado por espécies como Meloidogyne javanica e Meloidogyne incógnita, espécies amplamente disseminadas nas principais regiões produtoras da cultura, com danos mais evidentes em regiões ou épocas de plantio com temperatura mais elevada. Solos arenosos, mal drenados, compactados e com baixo teor de matéria orgânica, favorecem a sua proliferação

Sintomas: Os principais sintomas dos nematoides ocorrem no sistema radicular que se torna malformado, com engrossamento ou dilatações das raízes, formando as galhas (Figura 1) que são a manifestação mais conhecida da doença. A formação das galhas nas raízes é acompanhada pelo amarelecimento das folhas, o crescimento reduzido das plantas e a murcha nas horas mais quentes do dia. Os sintomas podem ser agravados no caso de ocorrerem interações entre o nematoide e F. oxysporum f.sp. phaseoli, agente causal da murcha de Fusarium.

Manejo: A principal medida é a utilização de cultivares resistentes. Além disso, há outras medidas que contribuem para reduzir a infestação do solo, como a rotação de culturas, principalmente com gramíneas e com plantas antagonistas às espécies de Meloidogyne spp., como crotalária e algumas variedades de milheto. O “alqueive” - revolvimento do solo na época seca, para expor os ovos à ação dessecante do sol também auxilia na desinfestação do solo. Deve-se planejar atentamente o uso de outras espécies cultivadas no sistema de produção para que não favorecerem a proliferação do nematoide e, da mesma forma, deve ser feito o controle de plantas daninhas hospedeiras.

Fotos: Adriane Wendland

Figura 1. Sintomas de nematóide das galhas em plantas e raízes de feijão-comum..

 

Nematoide das lesões (Pratylenchus spp.)

Pratylenchus brachyurus é o nematoide mais frequente nos sistemas produtivos de culturas anuais, nas principais regiões brasileiras produtoras de feijão- comum. Este patógeno pode ocorrer naturalmente em vegetação nativa, e sua expansão tem sido favorecida pela intensificação de cultivos anuais. Não há estimativa clara de perdas na produtividade do feijoeiro para P. brachyurus, mas como o patógeno afeta várias culturas de importância como soja e milho, seu manejo deve considerar o sistema produtivo como um todo. Em geral, os solos mais infestados e os maiores danos causados pelo nematoide das lesões ocorrem em solos arenosos, com temperaturas acima de 25ºC.

Sintomas: O nematoide das lesões causa ferimentos que tipicamente originam lesões escuras sobre as raízes (Figura 2), apesar deste escurecimento nem sempre ser evidente. O nematoide das lesões entra e sai várias vezes nas raízes atacadas, causando a destruição de parte do sistema radicular das plantas, levando à menor eficiência do uso de nutrientes e ao subdesenvolvimento das plantas atacadas e estande irregular. Estas lesões também favorecem a entrada de outros patógenos, como espécies de Fusarium e R. solani.

Manejo: A principal medida é a utilização de cultivares resistentes de feijão- comum e de outras espécies cultivadas nos sistemas produtivos. Na ausência de cultivares resistentes, deve-se optar sempre por aquelas que tenham o fator de reprodução do nematoide mais baixo. Esta escolha pode ser difícil pois espécies como soja, milho e sorgo são hospedeiras, dificultando a rotação de culturas. Plantas de cobertura antagonistas aos nematoides das galhas também podem ser utilizadas para manejo de Pratylenchus, como crotalárias (Crotalaria spectabilis, C. breviflora) e algumas variedades de milheto. Práticas culturais que favoreçam a proliferação de inimigos naturais dos nematoides e permitam o enraizamento rápido e profundo das raízes são importantes para evitar danos e perdas na produtividade de grãos da cultura.

Fotos: Claudemir Gaia de Lima
Figura 2. Sintomas de nematoide das lesões em raízes de feijão-comum.

 

Nematoide do cisto (Heterodera glycines)

O nematoide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines (Figura 3), foi detectado pela primeira vez no Brasil em 1991 e está presente em todos os estados brasileiros onde se produz soja. Sua disseminação ocorre, principalmente, pelo transporte de solo infestado e está associado também à cultura do feijão, mas não há muitos estudos avaliando a sua capacidade de provocar perdas nessa cultura. Além do dano direto ao sistema radicular da planta, os ferimentos provocados podem ainda facilitar a infecção por fungos fitopatogênicos presentes no solo. Dessa forma, mesmo que estejam abaixo do nível de dano, os nematoides podem comprometer a produtividade e a qualidade dos grãos de forma indireta.

Sintomas: O nematoide do cisto penetra nas raízes e dificulta a absorção de água e nutrientes, causando a redução de porte e número de vagens, clorose e baixa produtividade da cultura. Ocorre em reboleiras e, em muitos casos, as plantas morrem. O sistema radicular fica reduzido e infectado por minúsculas fêmeas do nematoide com formato de limão ligeiramente alongado, de coloração branca a ligeiramente amarela.

Manejo: A limpeza de máquinas e implementos, a utilização de sementes beneficiadas, sem partículas de solo previnem a infestação em novas áreas de produção. As estratégias de controle incluem a rotação de culturas, o manejo do solo (manter nível adequado de matéria orgânica, calagem e adubação e evitar compactação do solo) e principalmente a adoção de cultivares resistentes.

Foto: Murillo Lobo Junior
Figura 3. Cistos de Heterodera glycines em raízes de feijão-comum.

 

A Figura 4 apresenta a reação de feijão-comum aos principais nematoides que incidem na cultura, obtido pelo índice de fêmeas (Heterodera glycines), fator relativo de reprodução (Pratylenchus brachyurus, Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica) em 81 genótipos de feijão.

 

Figura 4. Reação de feijoeiro comum aos principais nematoides que incidem na cultura, obtido pelo índice de fêmeas (Heterodera glycines), fator relativo de reprodução (Pratylenchus brachyurus, Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica) em 81 genótipos de feijão. S: Suscetível; MR: Moderadamente Resistente; R: Resistente. (Fonte: Pesq. Agropec. Trop., Goiânia, v. 53, e74717, 2023).

 

Um ponto importante para enfatizar é que as galhas formadas por nematoides devem ser diferenciadas dos nódulos de Rhizobium (Figura5) no feijoeiro (formado por bactérias benéficas, fixadoras de nitrogênio). Os nódulos de Rhizobium se destacam facilmente das raízes, com as quais se ligam apenas lateralmente.

Foto: Ana Paula Santos Oliveira
Figura 5. Nódulos de Rhizobium spp em raízes do feijão-comum.