11/03/16 |   Agricultura familiar  Comunicação  Convivência com a Seca

Oficinas de Comunicação fortalecem o desenvolvimento local nos Territórios da Cidadania

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Foto: José Roque de Jesus

José Roque de Jesus - Embrapa leva participantes das oficinas para conhecer umd os projetos atendidos pelo Plano Brasil Sem Miséria

Embrapa leva participantes das oficinas para conhecer umd os projetos atendidos pelo Plano Brasil Sem Miséria

"O desenvolvimento acontece quando os moradores são os autores, os protagonistas da produção agrícola, das suas riquezas, os construtores dos seus valores", afirma o agricultor Manoel Belarmino dos Santos, ou simplesmente, "Seu" Belarmino, como é conhecido em Poço Redondo, município próximo a Canindé de São Francisco (SE), local famoso por sua proximidade com a Foz do Rio São Francisco, e onde também muitos agricultores tiveram que sair de suas residências para dar lugar à Usina Hidrelétrica do Xingó. Terras que um dia foram percorridas e exploradas pelo bando de  Lampião e Maria Bonita, na era do Cangaço.

Em Canindé e região, as principais atividades econômicas são agricultura, pecuária - produção de caprinos e ovinos, principalmente -, e a avicultura, além da atividade turística gerada pela Usina do Xingó. A região é parte do Território Alto Sertão Sergipano, onde são necessárias estratégias tecnológicas para melhor convivência com o Semiárido. Por isso, desde 2012 é beneficiada por  ações do Plano Brasil Sem Miséria (PBSM): política pública do Governo Federal, que teve início em 2012 e visa superar a situação de extrema pobreza via articulação de programas, políticas e ações para o público rural, como garantia de renda e de acesso a serviços públicos e de inclusão produtiva para as populações rurais de baixa renda.

E Belarmino tem um sonho. Que suas sementes continuem passando de geração para geração, garantindo, assim, alimento "limpo", como ele mesmo diz, para as famílias da região. Assim como o agricultor, Josefa Santos de Jesus consegue associar sua arte de cantoria com o trabalho na agricultura, pois quando canta celebra a colheita, fruto de um plantio cultivado com sementes crioulas.

Em comum, os dois agricultores são sergipanos e guardiões de sementes crioulas. E ambos integram o Projeto de Formação Continuada em Comunicação Territorial desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). O projeto tem como um de seus objetivos fortalecer a comunicação nos Territórios da Cidadania, transformando agricultores, extensionistas, radialistas e demais lideranças comunitárias em protagonistas da comunicação, especialmente naqueles territórios onde a Embrapa atua compartilhando suas tecnologias, mediante, por exemplo, ações de apoio ao Plano Brasil Sem Miséria.

"Compreendemos que a comunicação é prioridade para a convivência com o Semiárido, e é tão importante quanto a água, a produção agrícola, as sementes e demais outros temas, para enfrentarmos uma realidade tão desigual", destaca Daniela Bento, comunicadora popular da Sociedade de Apoio Socioambientalista e Cultural (Sasac), organização não governamental com sede em Simão Dias (SE), cuja missão é apoiar os agricultores em processos de transição agroecológica em suas culturas.

Outro objetivo do Projeto de Formação Continuada é levar, aos agricultores contemplados por ações do PBSM, informações sobre as tecnologias que a Embrapa vem implementando em parceria com a extensão rural e os agricultores beneficiados. E os primeiros resultados disso já começam a ganhar visibilidade.

O radialista de Major Isidoro (SE), Ib Heber Pita, da Rádio Comunitária Sertãozinho FM - emissora parceira do Prosa Rural, o programa de rádio da Embrapa -, participou da primeira oficina de Comunicação Comunitária para Convivência com o Semiárido, realizada pela Embrapa e a ASA, em Igaci (AL), em julho de 2015. Ele e outros 40 participantes do evento tiveram a oportunidade de conhecer as ações do Plano Brasil Sem Miséria (PBSM) no Território Agreste Alagoano (AL); as tecnologias que estão sendo desenvolvidas pela Empresa, e também pela ASA, junto aos agricultores do Semiárido; bem como de refletir sobre como a comunicação pode contribuir para os processos de desenvolvimento local sustentável.

Como desdobramento dessa primeira etapa de formação continuada, Ib, que também é agricultor agroecológico, passou a integrar a Rede de Comunicadores do Semiárido de Alagoas e Sergipe, atualmente disponível pela plataforma whatsapp, assim como a interagir com outros atores da rede. Por meio da plataforma virtual, ele recebe informações sobre tecnologias disponibilizadas pela Embrapa para o Semiárido brasileiro, ao mesmo tempo em que fornece, para o grupo, notícias sobre sua comunidade.

"O que se pretende com esse Projeto de Formação Continuada é empoderar os atores locais, sejam eles agricultores, técnicos da extensão rural, comunicadores populares, pesquisadores ou representantes de sindicatos rurais, para que, a partir daí, seja possível realizar uma comunicação dialógica, cujo objetivo maior é o desenvolvimento local sustentável. Nesse contexto, a Embrapa pode contribuir ofertando suas tecnologias e informações técnico-científicas", destaca Selma Lúcia Lira Beltrão, líder do projeto e gerente-geral da Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, DF).

Para o pesquisador, Fernando Fleury Curado, da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE), as oficinas de comunicação favorecem a socialização de experiências e o intercâmbio de conhecimentos da pesquisa com a extensão e a agricultura familiar. Curado, que é um dos responsáveis pela execução dos projetos de inclusão produtiva rural no território Agreste Alagoano, acredita que os processos de comunicação beneficiam a articulação da Embrapa com outras instituições que também desenvolvem tecnologias importantes para o Semiárido.

A participação do radialista Ib Heber Pita no Curso de Criação de Galinhas em Sistemas Agroecológicos – iniciativa desenvolvida pela Embrapa em parceria com organizações locais de Alagoas, em Igaci (AL) –, sinaliza que essa articulação já começou. Além de ser produtor agroecológico, Ib é radialista e integra o Instituto Eco Sertãozinho, em Major Isidoro. Durante o curso, que durou dois dias, em agosto de 2015, ele não só compartilhou sua experiência de agricultor como também realizou a cobertura do evento, postando fotos na internet e divulgando o trabalho.

Agência de Comunicação – No Território Alto Oeste Potiguar (RN), uma Agência de Comunicação Comunitária atua divulgando (em página do Facebook que disponibiliza notícias sobre o território) informações sobre as atividades desenvolvidas nos municípios da região. Criada em 2015, essa agência é mais um dos desdobramentos das ações de comunicação comunitária que a Embrapa vem desenvolvendo naquela região, sob a coordenação da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza/CE).

A Agência é um espaço que favorece a troca de informações entre a Embrapa e a comunidade, incluindo extensionistas, agricultores, blogueiros, comunicadores, universidades, pesquisadores, prefeituras, secretarias municipais, representantes de sindicatos, conselhos locais, etc. A página já recebeu mais de 1.600 visitas, desde a sua criação em 2015.

Notícias relativas ao diagnóstico rural participativo sobre a apicultura, realizado pela Embrapa Agroindústria Tropical no município de Marcelino Vieira (RN); resultado do edital que selecionou entidades para receber Minibibliotecas da Embrapa e acervos do Projeto Arca das Letras do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); indicação de publicações da Embrapa disponibilizadas para download, entre outras informações, podem ser conferidas na Agência. E mais recentemente, a Embrapa tomou conhecimento da infestação de lagartas a juazeiros (árvore típica do Nordeste) por meio da Rede de Comunicadores do Alto Oeste Potiguar. Um extensionsita da região do Alto Oeste Potiguar postou imagens na rede e apresentou o problema.

Um pouco da história - Em 2012, nas primeiras oficinas de comunicação realizadas pela Embrapa Informação Tecnológica, em Recife (PE) e em Salvador (BA), para radialistas parceiros do Prosa Rural e atuantes nos Territórios da Cidadania, identificou-se, por meio de entrevistas com participantes e da análise de questionários de avaliação aplicados, que os comunicadores locais desconheciam, ou conheciam de forma bastante superficial, tanto o PBSM quanto o papel da Embrapa nos 14 Territórios da Cidadania localizados na região Nordeste e no norte de Minas Gerais. A pesquisa permitiu verificar, ainda, o fato de comunicadores de rádios comunitárias ou comerciais não terem percepção de que poderiam contribuir como agentes mobilizadores para o desenvolvimento local, e, logo, para uma melhor divulgação do plano e das tecnologias que a Embrapa vinha desenvolvendo com os parceiros nos territórios da cidadania.

Assim, em 2014, nasceu o projeto que propunha ações de formação continuada em comunicação territorial, as quais foram coordenadas pela Embrapa Informação Tecnológica (DF) e contaram com a participação de nove Unidades da Embrapa, oito delas do Nordeste e uma de Minas Gerais. Até o momento, o projeto realizou dez oficinas, que contemplaram um total de 244 comunicadores dos territórios Alto Oeste Potiguar (RN); Agreste Alagoano (AL); Alto Sertão Sergipano (SE); Cariri (CE); Inhamuns-Crateús (CE); Serra-Geral (MG); Piemonte Norte de Itapicuru (BA) e Sertão do Araripe (PE).  "E como um dos resultados, estamos conseguindo nos comunicar melhor com a nossa rede de parceiros, bem como fortalecer ainda mais o papel do Prosa Rural como um programa de rádio voltado para a agricultura familiar no Brasil", destaca Selma Beltrão.

Prosa Rural - Transmitido, atualmente, por mais de 1.800 rádios parceiras, o Prosa Rural é também um forte elo na Rede de Comunicadores do Semiárido brasileiro. Só no Nordeste, 623 rádios, em sua maioria comunitária, divulgam esse programa.

Uma das colaboradoras do Prosa Rural é a rádio Amanhecer FM, de Canindé de São Francisco. Há mais de seis anos no ar, a rádio veicula o Prosa Rural de segunda a sábado, na programação "Amanhecer no Sertão", que começa às 6h. "A rádio comunitária tem um papel fundamental no processo de conhecimento das comunidades rurais. Nós temos aqui alguns programas que contribuem muito para a divulgação de tecnologias simples, que podem ajudar o sertanejo a melhorar suas condições de vida. Um deles é o Prosa Rural, da Embrapa, e o outro o Riquezas da Caatinga, da ASA. Quando, por algum motivo, deixamos de veicular um deles, há uma cobrança muito grande do produtor rural", relata Bruno Balbino, jornalista e um dos responsáveis pela emissora. Ele acredita no rádio e nas programações regionais como espaço de resgate da identidade cultural. "Então, essas oficinas vêm a fortalecer o nosso trabalho com os agricultores familiares, principalmente porque tivemos a oportunidade, durante o curso, de conhecer as propriedades rurais e compreendermos melhor a realidade desses agricultores, bem como a importância da pesquisa e da extensão rural", finaliza.

Maria Clara Guaraldo (MTb 5027/MG)
Embrapa Informação Tecnológica

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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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