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Seminário discute políticas para o desenvolvimento da pecuária

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Agência de Notícias - Embrapa - Seminário discute políticas para o desenvolvimento da pecuária

Seminário discute políticas para o desenvolvimento da pecuária

O terceiro e último painel do Seminário Brasileiro sobre Produção Animal, principal evento da 49ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, realizada em Brasília (DF), tratou, nessa quinta-feira (26), da pecuária e as políticas públicas para o desenvolvimento. Mais uma vez, o encontro foi marcado por representantes dos setores público e privado.

O primeiro palestrante foi o pesquisador da Embrapa Eliseu Alves, assessor do presidente da Empresa, Pedro Arraes. Com base nos dados do Censo Agropecuário 2006 e dos censos populacionais realizados pelo IBGE, ele fez uma radiografia da agropecuária brasileira, demonstrando que a incorporação de tecnologias pelo setor rural é a principal explicação para o expressivo aumento da produtividade do barateamento dos produtos da cesta básica desde a década de 1970. Por outro lado, é o principal fator à grande concentração de renda: dos 4,4 milhões de estabelecimentos rurais do País, apenas 500 mil são responsáveis por toda a renda bruta obtida no campo. "Isso quer dizer que uma parte muito pequena da população está participando da grande aventura de abastecer o País e o mundo".

Ele apresentou dados sobre a geração de renda bruta pelas diferentes faixas de renda das propriedades e o êxodo rural. Sobre a pobreza rural, o pesquisador explicou que a simples distribuição de terras soluciona o problema – a concentração da renda, conforme os dados, não tem relação com o tamanho das propriedades. Entre os estabelecimentos mais pobres, 57% estão no Nordeste, mas as maiores taxas de migração estão no Sul e no Sudeste, devido ao apelo da riqueza das cidades, segundo Alves.  "Somente a tecnologia poderá resolver o problema. Nosso desafio é gerar e difundir tecnologias e modernizar a agricultura familiar", disse.

Setor privado
Uma experiência de atores dos setores privados para a sustentabilidade da pecuária foi apresentada pelo presidente do conselho executivo do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Eduardo Bastos. Ele observou que se o País dobrasse a lotação animal nas pastagens, seria possível a liberação de 85 milhões de hectares para outras culturas.

Criado em 2007, o GTPS é a maior associação multistakeholder do mundo voltada à pecuária, reunindo mais de 60 empresas e entidades – a própria Embrapa participa como observadora. A ideia é trabalhar todos os atores da cadeia e buscar soluções de consenso, ajudando a "pavimentar" o caminho da sustentabilidade com o uso dos princípios e critérios existentes e aceitos – entre eles, as Boas Práticas Agropecuárias, da Embrapa. Os membros se comprometem a produzir e a financiar a produção com o desmatamento zero, desde que sejam criadas condições e formas de compensação.

Entre os projetos do grupo, está o de recuperação de pastagens degradadas por meio do uso incremental de tecnologias, em atendimento a metas do Plano Nacional sobre Mudanças do Clima. O projeto vai desde a produção de um manual de boas práticas, a identificação dos municípios prioritários e o treinamento dos técnicos à formação de grupos de trocas de experiências. "Temos o desafio de alcançar o público que não é assistido", afirmou.

Políticas de C&T
O professor Paulo Sérgio Beirão, diretor da área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq, abordou o fomento à pesquisa em Zootecnia e pecuária pela instituição, que em 2011 teve orçamento total de R$ 1,5 bilhões e financiou 32 mil das 160 mil propostas submetidas. Ele destacou o fomento às parcerias para o desenvolvimento de pesquisas e o estímulo aos pesquisadores para que se envolvam com os problemas da atualidade. Segundo Beirão, 15% de todo o recurso do CNPq é dedicado ao atendimento das ciências agrárias.

O diretor do CNPq apontou o crescimento da capacidade brasileira de produção de conhecimento: se em 1985 o País contribuía com 0,5% do total mundial, em 2009 a participação foi de 2,7%. Nas ciências agrárias, a participação é ainda mais expressiva: 10%. "Isso mostra que estamos conseguindo nos recuperar do atraso em relação ao restante do mundo, e que não há antagonismo entre a produção científica e o desenvolvimento da área agropecuária", explicou.

Mas apesar de ser o 13º no ranking mundial de produção científica, o Brasil é apenas o 47º em inovação. Segundo Beirão, o desafio é agregar mais valor aos produtos gerados e exportados. Ele apontou a diferença entre o preço médio da tonelada de mercadorias exportadas para a China, US$ 162, e o valor pago pela tonelada de artigos importados daquele país, US$ 3 mil. Além disso, o número de pesquisadores por milhão de habitantes ainda está abaixo da média mundial. "O desafio é transformar Ciência & Tecnologia em um dos eixos estruturantes de nosso desenvolvimento. É preciso investir na formação de pessoal altamente qualificado, ter foco nos grandes desafios nacionais e promover pesquisa & desenvolvimento empresarial", afirmou.

Pesquisa pública
A palestra final foi proferida pelo presidente da Embrapa, Pedro Arraes. Ele abordou o papel da pesquisa pública no desenvolvimento da agropecuária brasileira. Ao falar da evolução da agropecuária brasileira nas últimas décadas, Arraes destacou não apenas ativos como a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano, a ocupação do campo e o aumento das exportações, mas também passivos como a desigualdade social, a exaustão do uso dos recursos naturais e a dificuldade dos produtores de incorporar novas tecnologias.

Pedro Arraes lembrou que o Brasil terá a responsabilidade de suprir 40% da demanda mundial por alimentos, mas ainda enfrenta uma série de gargalos, como insegurança jurídica, baixa eficiência de insumos e dificuldade de construção de uma imagem positiva do setor rural perante a sociedade. Além disso, o investimento em pesquisa & desenvolvimento na área agropecuária representa menos de 0,2% do PIB.

Para os futuros profissionais, Arraes aconselhou atenção para a necessidade de se buscar interdisciplinaridade e transversalidade para o conhecimento tecnológico em ciências agrárias, além dos pilares social, econômico e ambiental da sustentabilidade e do domínio de idiomas, da biotecnologia e das tecnologias de informação e comunicação, que vão impactar os setores produtivos. "É importante que vocês questionem permanentemente, pois é de onde surgem os debates e se quebram paradigmas", recomendou.

O presidente da Embrapa falou sobre o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, coordenado pela Empresa, o Sistema Embrapa de Gestão, as ações de cooperação científica, técnica e para negócios e de algumas tecnologias a serem transferidas. Ele apontou a necessidade de organização de um grande programa de conservação de recursos genéticos animais e vegetais. "É um desafio para o Brasil, não apenas para a Embrapa", explicou.

A respeito do futuro da agropecuária, Arraes disse que o setor cumprirá papéis que vão além da produção de alimentos, energia e fibras, passando a gerar biomassa, materiais e química, bem como o provimento de serviços ambientais. Para ele, além da manutenção da competitividade e da necessidade de aumentar a sustentabilidade da produção, os desafios presentes e futuros são melhorar a imagem pública do setor, o fortalecimento da agricultura familiar, o uso sustentável de florestas e a cooperação entre as diferentes regiões do mundo, entre outros.

Por fim, ele destacou a necessidade de transferência da inovação e de integração entre pesquisa, transferência de tecnologia e assistência técnica e extensão rural para que haja uma grande rede capaz de oferecer soluções para a agropecuária brasileira. "São desafios enormes que abrem oportunidades para os jovens", disse.
 
Breno Lobato – jornalista (MTb 9417-MG)
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