01/07/96 |

Brasil dá mais incentivo ao trigo

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A triticultura brasileira começou o ano de 1996 com uma notícia inusitada. Pela primeira vez, nos últimos dez anos, o governo federal está mostrando interesse em estabelecer uma política agrícola para o setor.

O chefe da Embrapa Trigo (CNPT - Passo Fundo, RS), Benami Bacaltchuk, lembra que o início do plantio de trigo no Mato Grosso do Sul, usualmente, se dá a partir da primeira quinzena de março enquanto que as normas de financiamento, de comercialização, de Proagro e de preços mínimos, eram divulgados somente após o mês de junho. Este ano, além de apresentar as normas em fevereiro, o governo expressou o desejo de aumentar a área plantada em, pelo menos, duas vezes a de 1995 (1.033.000 ha) destinando R$340 milhões para financiar a nova safra. Em 1987, o Brasil produziu 6,2 milhões de toneladas de trigo, o que prova a viabilidade técnica da cultura no país. A safra do ano passado atingiu 1,7 milhões de toneladas exigindo a importação de 6,2 milhões de toneladas.

Historicamente, no mundo, os países produtores de trigo praticavam alguma forma de subsídio. Hoje, a política dos países exportadores é não interferir no preço de mercado. No entanto eles já assinalaram que garantirão uma renda mínima aos produtores, caso este preço seja muito baixo. "No Brasil", segundo Benami, "o conhecimento desse fato deveria ser um estímulo à triticultura nacional, pois somos capazes de produzir trigo a preços inferiores aos do mercado internacional."

Pesquisa Preparada

Os problemas que ocorrem com a produção de trigo não são causados pela falta de tecnologia revela o pesquisador Pedro Scheeren, líder do Projeto Melhoramento Genético de Trigo para o Brasil. Até o momento a Embrapa já lançou 65 cultivares de trigo para cultivo no Brasil, diversas delas em parceria com outras Unidades de Pesquisa e com instituições pertencentes ao Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária. Atualmente, no Rio Grande do Sul estão em recomendação dez cultivares lançadas pela CNPT, representando 80% da disponibilidade de sementes para o plantio da safra de 1996.

Na Reunião Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo realizada em março deste ano, a Embrapa lançou duas novas cultivares de trigo, denominadas Embrapa 49 e Embrapa 52. Estas variedades são de qualidade panificativa superior, com ótimo potencial produtivo. Para o pesquisador Pedro Scheeren, essas duas cultivares representam a possibilidade de o triticultor gaúcho diversificar as cultivares de trigo com qualidade industrial superior, tendo mais opções de plantio e mais segurança de boas colheitas.

As grandes deficiências na produção do trigo estão nas etapas de pós-colheita que são realizadas sem técnica adequada, reduzindo a qualidade do produto. A pesquisadora Eliana Guarienti recomenda que o trigo seja colhido com umidade próxima de 13% e que as cultivares com classes comerciais diferentes não sejam misturadas no armazém. A secagem é outra etapa fundamental. A temperatura da massa de grãos não deve exceder a 60º. Acima desta temperatura o glúten é parcialmente destruído e pode inviabilizar a fabricação de pães e outros produtos.

No armazenamento são perdidos até 20% dos grãos produzidos. A falta de controle de insetos e de ratos reduz quantitativa e qualitativamente o lote de trigo. Isso leva o produto a ser classificado como abaixo do padrão, reduzindo seu valor comercial e, até mesmo, desclassificando-o para o uso na alimentação humana. Se o produtor e o armazenador tomarem todas as providências para conservar bem o grão de trigo, terão, com certeza, seu produto valorizado comercialmente, explica Eliana Guarienti.

As tecnologias disponíveis para a cultura de trigo, tais como cultivares produtivas e de qualidade industrial superior, práticas de cultivo, controle de pragas, doenças e pragas daninhas, técnicas de colheita e de armazenamento, oferecem condições de recuperar a capacidade produtiva e competitiva do triticultor.

Veja as características de cada uma das variedades lançadas pela Embrapa Trigo:

Embrapa 49

É resultado de um cruzamento realizado em 1986. Possui hábito ereto, ciclo curto, estatura de planta média, é aristada e tem resistência ao crestamento. Os testes de resistência à doenças realizados à campo mostram que é moderadamente resistente à ferrugem da folha, resistente à ferrugem do colmo, suscetível ao vírus do mosaico do trigo e moderadamente resistente ao oídio.

Produtividade: Em 53 ensaios conduzidos de 1993 a 1995, em todas as regiões tritícolas do RS, rendeu 6% a mais do que a média das testemunhas, atingindo produtividade média de 2.704 kg/ha.

Embrapa 52

É resultado de cruzamento realizado em 1980. Possui hábito semi-ereto, ciclo curto, estatura de planta média, aristas e apresenta boa resistência ao crestamento e ao acamamento. Apresenta resistência, no campo, ao oídio, ao vírus do mosaico do trigo, às diversas raças de ferrugem do colmo, tem moderada resistência à ferrugem da folha e suscetibilidade ao carvão.

Produtividade: Em 53 ensaios realizados em todas as regiões tritícolas do RS, a cultivar Embrapa 52 rendeu 2.883 kg/ha, 13% a mais do que a média das cultivares testemunhas no mesmo local.

Zoneamento Agroclimático

Os riscos são inerentes à produção agrícola, principalmente, o clima. Com o zoneamento agroclimático para a cultura do trigo no Rio Grande do Sul, a Embrapa Trigo fornece ao produtor um suporte à tomada de decisão sobre a época de plantio do cereal. O resultado desse trabalho, explica o pesquisador Gilberto Cunha, também será usado como suporte à implementação da política agrícola para a cultura na safra deste ano. Assim, haverá condições de melhor planejamento para a agricultura, tanto em nível maior de adesões políticas como no planejamento operacional da lavoura.

A cultura do trigo no RS tem dois inimigos climáticos: a ocorrência de geadas no espigamento e o excesso de chuvas na colheita. O zoneamento agroclimático define, para cada município do Estado, o momento adequado de semear, procurando escapar desses dois problemas do clima, permitindo-se produzir com maiores margens de segurança e rendimento.

Para realizar o zoneamento agroclimático, Cunha utilizou a integração de modelos de simulação de crescimento e desenvolvimento de plantas, além de técnicas de sistema de informações geográficas para o mapeamento final da cultura. A base climática utillizada variou de 15 a 30 anos de observações diárias, em 36 locais característicos de diferentes regiões. O novo zoneamento fará parte das recomendações técnicas para a cultura, fornecendo subsídios para uma triticultura mais segura e produtiva. Mais informações na Embrapa Trigo, Fone: (054) 311 3444, Fax: 311 3617 - Passo Fundo - RS.  

Tema: Produtos Agropecuários\Grãos\Trigo 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/