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Embrapa Semi-Árido dimensiona degradação nos solos da Paraíba

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O Estado da Paraíba precisa enfrentar um sério problema: 63% do seu território (3.562.400 ha) está em franco processo de degradação. E o pior: nesta área encontram-se solos férteis. Complicam ainda mais esse quadro as crises que enfrentam, desde a década de 80, as culturas do algodão e sisal - principais produtos agrícolas do Estado. Isto torna ainda mais difícil uma solução que impeça o prolongamento do processo de degradação e assegure uma renda para a população.

O pesquisador Robério Ferreira dos Santos, da Área de Economia da Embrapa Algodão, com sede em Campina Grande-PB, diz que a situação é complicada. O biólogo George Fotius, da Orstom - instituição francesa que atua no Brasil em cooperação com a Embrapa Semi-Árido, sediada em Petrolina-PE, é taxativo: a recuperação das terras da Paraíba é muito difícil. Ambos concordam que, se algo for feito, deve-se agir com rapidez.

Via satélite

Fotius é um observador privilegiado da degradação das terras da Paraíba. Há 13 anos no Brasil, ele é um dos membros da equipe multidisciplinar formada por pesquisadores da Embrapa e Orstom que elaborou o Zoneamento Agroecológico do Nordeste - ZANE - um trabalho inédito que estudou em 1,6 milhão de quilômetros quadrados, solo, relevo, clima, recursos hídricos, densidade ocupacional e sistemas de produção da região. A confecção do Zoneamento contou com uma colaboração providencial vinda do céu: as imagens processadas pelo satélite Landsat TM.

A visão da Paraíba é preocupante: apenas o alto da Serra da Borborema e áreas intocadas pela exploração agropecuária dentro de latifúndios mancham o mapa com vegetação nativa. O Zoneamento Agroecológico estabelece a evolução da degradação em quatro graus diferentes. No caso da Paraíba, em 37,36% (2.106.100 ha) ela já é considerada Extremamente Forte; em 12,28% (692.500 ha), os registros indicam-na como Muito Forte; em 5,29% (298.500 ha), a ocorrência é Forte; nos 8,62% restantes (429.300 ha) é Moderada.

Um pouco das conseqüências desse processo, Fotius explica estar nas cercas das propriedades de várias regiões do Estado: os moirões, em geral, têm 4-5 centímetros de diâmetro. Nos campos da Paraíba, as árvores estão escassas, especialmente aquelas de madeira nobre como aroeira, baraúna, pau d'arco etc.

Alta densidade

A degradação das terras da Paraíba tem um agravante em relação aos outros Estados do Nordeste. Em toda a extensão do Estado, a ocupação é quase uniforme, por cidades, tornando-a densamente povoada. Quem observa um mapa político da região Nordeste percebe claramente. Na Bahia e Pernambuco, as cidades escasseiam quando se vai do litoral para as caatingas. Na Paraíba, apenas nos sertões do Curimatá e de Cabeceiras, observam-se vazios de ocupação. Cabeceiras é a região que menos chove em todo o Brasil. A densidade ocupacional aumenta a pressão sobre o meio ambiente.

O economista Robério Ferreira dos Santos, da Embrapa Algodão, revela que o desmatamento já intenso da vegetação nativa, aumenta cada vez mais para alimentar com madeira das caatingas os fornos das padarias. Este processo acaba expulsando o povo do seu lugar, que sai à busca de alternativas de sobrevivências. Segundo Fotius, em termos percentuais, os paraibanos são o maior contingente de migrantes que chegam ao submédio São Francisco, embalados por sonhos de emprego nas áreas irrigadas instaladas no pólo Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Enfrentam uma vida terrível.

Força da Caatinga

Não há dúvida: ambiente degradado e miséria andam juntos; quanto maior o primeiro, pior o segundo. No Nordeste, já são vinte milhões os hectares em processo de degradação (12% da área total da região). A Paraíba ocupa o primeiro lugar nesse ranking tenebroso. O Ceará vem em segundo lugar, com 52,51% (2.501.300 ha). Em terceiro lugar está o Rio Grande do Norte, com 35,94% (1.905.200 ha). Pernambuco, com 25,49% (2.505.300 ha), é o quarto. Abaixo dos 15% estão Sergipe, com 12,29% (271.200 ha), Piauí, 5,96% (1.496.100 ha), Bahia, 5,11% (2.861.800 ha) e, por fim, Alagoas, 3,26% (90.400 ha).

No dia 14 de maio, o Chefe geral da Embrapa Semi-Árido, Manoel Abilio de Queiróz, proferiu palestra sobre o "Processo de Desertificação no Semi-Árido do Nordeste", na Comissão de Políticas Públicas de Desenvolvimento do Nordeste, no Senado Federal. Uma das conclusões: apesar dos vinte milhões de hectares afetados é viável a reversão do processo desde que haja vontade política para viabilização de novos modelos de desenvolvimento.

É preciso esclarecer que a desertificação da caatinga nordestina nunca chegará assemelhar-se a algo como o Deserto do Saara. As condições climáticas e de solo semi-árido brasileiro o impedem de chegar àquele ponto. A capacidade de recomposição da caatinga é muito forte. Fotius explica que deixando os solos degradados livres de uso, logo começa a florescer uma cobertura vegetal que o protege de processos erosivos, por exemplo. Em alguns locais do Estado esta cobertura já começa a aparecer. Claro que sem a diversidade da vegetação nativa. Em outros, a paisagem está sendo tomada por pastagens para a criação de gado.

Sistema agroflorestal

A opção pela pecuária como alternativa econômica é um fenômeno de todo o Nordeste. A criação de boi tem se mostrado mais viável que a agricultura dependente de chuva. Na Paraíba, a oeste da Serra da Borborema, no entanto, os plantios têm-se circunscrito aos vales do sertão. A disseminação da pecuária precisa ser feita de forma equilibrada para evitar o superpastejo das áreas de criação com uma quantidade de animais acima de capacidade de suporte dos pastos da área.

O economista Robério Ferreira explica que a curto e médio prazo inexiste um produto vegetal que volte a recobrir os solos paraibanos, protegendo-os de processos de degradação. Ele, no entanto, fala entusiasmado de uma visita que fez a três propriedades de pequenos proprietários no município de Bom Jardim. Numa delas, de meio hectare, contou nada mais do que 44 espécies plantadas. Isto, numa área que há três anos apresentava os sinais típicos de degradação. Você enfia um facão no solo, diz o pesquisador, e ele penetra numa terra macia, sem nenhum sinal de adensamento. Nas três propriedades não existe monocultura. Mas, a área é ocupada com o máximo de plantas possível. O objetivo é proteger o solo e gerar alguma renda para o produtor.

As três propriedades fazem parte, há três anos, de uma experiência conjunta de 25 agricultores familiares coordenados por uma organização não governamental, a Sabiá. Robério diz que os resultados têm sido tão significativos que a dona do meio hectare que visitou já pensa em trazer de volta de São Paulo o marido e os quatro filhos para trabalharem em outros três que possui. Na palestra que fez para os senadores, Manoel Abilio de Queiróz disse que, no Nordeste, a agricultura familiar deve ter prioridade nos programas de desenvolvimento sustentáveis.

Mais informações: Marcelino Ribeiro Área de Comunicação Social Embrapa Semi-Árido Fone/Fax: (081) 862 1711 - Ramal 234  

Tema: Fatores e Insumos\Qualidade Ambiental 

Mais informações sobre o tema
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