01/06/98 |

Capins africanos podem reduzir aquecimento global

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Pesquisa do Centro Internacional para Agricultura Tropical (CIAT) em Cáli, Colômbia mostrou que capins africanos de raízes longas introduzidos nos Cerrados da América do Sul tropical têm um grande potencial para reduzir a velocidade da formação de gás carbônico (CO2), um dos principais gazes formadores do efeito estufa, na atmosfera da Terra.

Cientistas do CIAT chamam isto uma situação "ganha-ganha". Em primeiro lugar, quando usado como pasto pelo gado, os capins africanos ampliam a produção de carne e leite, porque eles são mais nutritivos que os capins nativos dos Cerrados. Pode-se criar até dez vezes mais gado numa mesma área, e eles crescem duas vezes mais rápido. No Brasil, cerca de 350 mil quilômetros de pastagens estão plantados com capins africanos. Em segundo lugar, estes capins têm capacidade para armazenar grandes quantias de carbono no solo. Isto implica em que eles podem reduzir a velocidade do aquecimento global, que é ligada à formação atmosférica de CO2.

As plantas, através da fotossíntese, capturam CO2 da atmosfera. Ao armazenar quantias grandes de carbono no solo, os capins africanos servem como reservatórios poderosos de carbono, de acordo com os pesquisadores do CIAT Myles Fisher e Richard Thomas. "Um hectare de pastagem cultivada pode armazenar até 15 toneladas de carbono por ano," afirma Fisher. Acrescenta que ainda não se sabe por quanto tempo um pasto plantado pode manter taxas altas de acumulação de carbono. "Isso é a quantia produzida por seis carros gastando gasolina durante um ano".

Estudos dos cientistas do CIAT e de colegas brasileiros da Embrapa Agrobiologia, uma Unidade Descentralizada da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, apontam para evidências crescentes de que a quantia de carbono "isolado," ou armazenado, por capins tropicais no solo é muito maior do que previamente imaginado. Os dados da Embrapa em pastagens cultivadas de Brachiaria humidicola na Bahia são bastante semelhantes aos nossos" afirma Fisher.

"Estas pesquisas sobre acumulação de carbono nos Cerrados da América do Sul são de importância global, " afirma Fisher. Considerando que pradaria tropicais cobrem quase 9 por cento da Terra, eles podem acumular uma importante quantidade de carbono atuando, então, como um freio biológico ao aquecimento global (caso haja interesse poderemos fornecer um artigo sobre o que é o efeito estufa). No Brasil, Colômbia, e Venezuela, os cerrados ocupam cerca de 2.5 milhões de quilômetros quadrados, uma área equivalente a um terço do tamanho do Canadá.

Outra vantagem ambiental das pastagens cultivadas é que os fazendeiros normalmente os protegem das queimadas. Em contraste, o cerrado nativo em muitas regiões tropicais é queimado todos os anos para estimular o crescimento de brotos novos tenros preferidos pelo gado. Infelizmente, uma grande parte do carbono das plantas sobre para a atmosfera na forma de fumaça, como CO2, minando o potencial destas áreas para armazenar carbono.

Cientistas do CIAT acreditam que os Governos que desejam contribuir para proteger a atmosfera terrestre poderiam dar incentivos para a introdução dos capins africanos de raízes longas e para um melhor manejo das pastagens. Por exemplo, esta iniciativa poderia contribuir para que os governos cumpram seus compromissos na Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

A convenção é um acordo internacional para estabilizar a concentração de gazes de efeito estufa na atmosfera em níveis que preveniriam a interferência do homem no sistema climático. Ela entrou em vigor em 1994 e foi ratificada por mais de 160 países. No mês de dezembro no Japão, a convenção deu um passo adiante com o Protocolo de Kyoto com o qual os países industrializados concordaram com o estabelecimento de metas de redução das emissões de gazes de efeito estufa, entre eles, o CO2.

Com o resultado de Kyoto, o comércio de serviços ecológicos, como o uso de licenças de carbono (onde um país compra capacidade de emissão de carbono de outro), pode se tornar uma prática internacional corrente. Como grande reservatórios de carbono, as pastagens de cerrados nas áreas tropicais poderiam ser um valioso item na pauta de exportação de muitos países em desenvolvimento.

A pesquisa do CIAT e da Embrapa levanta uma questão sobre o que pode ser feito a nível governamental para incentivar a capacidade das pastagens cultivadas tropicais de armazenar carbono.

A mistura de leguminosas forrageiras com os capins, por exemplo, são um catalisador notável para formação de carbono no solo. O trabalho do CIAT mostra que combinações de capim e essas forrageiras podem ampliar a capacidade de armazenamento de carbono no solo impulsionar armazenamento de carbono no solo em duas vezes e meia a cinco vezes a capacidade dos capins nativos. Na Colômbia, a adição da leguminosa forrageira Arachis pintoi aumentou o armazenamento de carbono em 7,8 toneladas por hectare por ano, comparando-se com um pasto nativo. Este resultado de pesquisa é importante porque a combinação de capins com essas forrageiras resulta em maiores ganhos de peso por animal e mantém o solo produtivo.

O papel do nitrogênio no solo, através do uso dessas forrageiras e fertilizantes, é apenas um dos vários tópicos que precisam de mais pesquisa, afirmam os cientistas do CIAT. A Embrapa Agrobiologia, a Universidade dos Andes, da Venezuela, e o Instituto MacAulay de Pesquisa de Uso do Solo, da Escócia, estão trabalhando com CIAT em um projeto de duração de quatro anos para examinar o papel do nitrogênio no armazenamento de carbono nos cerrados do Brasil, Colômbia e Venezuela. A pesquisa é apoiada por um empréstimo de 320 mil libras esterlinas do Departamento do Reino Unido de Desenvolvimento Internacional.

O CIAT é um dos 16 centros internacionais de pesquisas patrocinados pelo Grupo Consultivo em Pesquisa Agropecuária Internacional (CGIAR), uma associação de nações e agências internacionais que financiam pesquisas para o desenvolvimento.

Mais informações: Jornalista Roberto Penteado (MTb 220/DF) Fone: 061 348 4113 – 348 4379 Email: rpent@sede.embrapa.br

CIAT: Pesquisador Richard Thomas Fone: 572-445-0000, Ramal 3091 Email: r.thomas@cgnet.com

Embrapa Agrobiologia Fone: 021 682 1500 Email: agrob@cnps.embrapa.br  

Tema: A Embrapa\Cooperação Internacional 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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