01/09/98 |

Novas técnicas são mostradas em evento sobre agricultura familiar

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"Tecnologias e Desenvolvimento Sustentável". Em torno dessas duas questões cruciais para a agricultura brasileira que aconteceu nos dias 10, 11 e 12, no Centro de Convenções, em Salvador (BA), o 2º Salão Nordestino da Agricultura Familiar, evento organizado pelo recém-criado Banco Nacional da Agricultura Familiar (BNAF).

Com uma vasta programação para os três turnos, o Salão teve exposições de tecnologias, ciclos de palestras, seminários regionais, mostra de produtos e jornada de negócios. No âmbito específico de tecnologia para agricultura, a Embrapa Mandioca e Fruticultura, sediada em Cruz das Almas (BA) montou stands para oferecer ao público-visitante informações detalhadas sobre novas técnicas para produção de mudas de fruteiras tropicais, enfocando as culturas da banana, manga, abacaxi e citros.

No caso da banana, os especialistas da Embrapa desenvolveram técnicas de propagação por fracionamento do rizoma. "Uma vez que o sistema de propagação convencional a partir da separação de brotos do rizoma-mãe permite a obtenção de número reduzido de mudas transplantáveis, a Embrapa Mandioca e Fruticultura tem utilizado a técnica baseada no fracionamento do rizoma, indicada para qualquer variedade de banana", diz o pesquisador Domingo Haroldo Reinhardt. Quanto à produção de mudas, o método de fracionamento do rizoma permite a obtenção de pelo menos o dobro do número de mudas geradas pelo método convencional, em tempo mais curto.

Para a propagação do abacaxizeiro usam-se, normalmente, as mudas convencionais disponíveis em plantios comerciais, sendo o tipo mais comum as mudas filhotes (ou mudas de cacho), que são brotações do pedúnculo (haste) do fruto. "No entanto, estas mudas são muitas vezes portadoras de pragas (cochonilha do abacaxi) e doenças, sobretudo, da fusariose ou gomose que pode causar perdas muito elevadas nos plantios", alerta o pesquisador. A forma mais segura de se evitar ou, pelo menos, reduzir drasticamente a incidência desta doença, é o uso de mudas produzidas em viveiros a partir de pedaços do talo (caule) das plantas.

Já a produção da muda de manga é feita por sementeira e viveiro. Na sementeira, são produzidos os porta-enxertos, por semeadura direta das sementes em sacos plásticos ou semeadura indireta, onde as sementes são semeadas em canteiros para posterior transplantio. Para a produção de mudas de qualidade, o viveiro deve ter as condições mínimas de sanidade e condições favoráveis para o crescimento da muda. "Geralmente viveiristas profissionais possuem viveiros com sombrite de 50% de sombra, suportado com postes de cimento devido a sua durabilidade. Contudo, existem muitas opções para a confecção de viveiros de boa qualidade a custos reduzidos. Deve-se levar em consideração na construção do viveiro a proximidade de uma boa fonte de água para irrigação das plantinhas, além da durabilidade e preço" explica o agrônomo.

Para a citricultura os técnicos da Embrapa estão enfatizando os cuidados na origem da borbulha: "As borbulhas devem ser originárias de plantas matrizes sadias, vigorosas, de alta produtividade, com frutos característicos da cultivar, ou na falta dessas, de plantas com as mesmas características descritas acima, existentes em pomares também sadios e produtivos", adianta Haroldo.

Segundo os especialistas, as borbulhas podem ser de dois tipos, de ramos roliços ou angulosos, oferecendo o mesmo desenvolvimento e qualidade da muda. Depois de cortados e desfolhados, os ramos são envolvidos em pano ou papel jornal umedecido e guardados em local fresco ou em caixas com camadas de pó-de-serra ou areia lavada úmidos. Se for necessário um maior tempo de armazenagem, envolver os ramos do modo descrito acima e guardá-los em geladeira, dentro de sacos plásticos bem fechados.

Impactos econômicos

Viveiros de apenas um hectare podem dar retornos econômicos de R$ 5 a 15 mil por ano, a depender do tipo de mudas produzidas. Por exemplo, podem ser produzidos cerca de 37.500 enxertos de citros, num período de 16 meses, os quais, se vendidos ao preço atual de R$ 0,80, podem dar uma renda bruta de R$ 30.000 e uma renda líquida de R$ 17.500 (ou R$ 13.000 por ano). No caso do abacaxi, podem ser obtidas cerca de 400.000 mudas dentro de 10 meses após o plantio, que, sendo vendidas ao preço de R$ 35 o milheiro, resultam numa renda bruta de R$ 14.000 e uma renda líquida de cerca de R$ 7.000 (ou R$ 8.400 por ano).

Famílias podem cuidar de viveiros de vários hectares sem o uso de mão-de-obra contratada. Pequenos produtores na Bahia (Cruz das Almas, Rio Real) e em Sergipe (Lagarto, Boquim) têm conseguido manter as suas famílias com a produção de mudas cítricas, atividade muitas vezes exercida ao lado com o cultivo de mandioca, laranja, fumo e culturas de subsistência (feijão, milho, amendoim).

Riscos

Como em qualquer outra atividade existem também riscos envolvidos na produção de mudas de fruteiras tropicais. Apesar da disponibilidade de técnicas para o seu controle, certas pragas e doenças podem incidir fortemente no viveiro, aumentando o custo de produção das mudas e prejudicando a sua qualidade e consequentemente a sua venda. No caso da banana e do abacaxi, os métodos propostos (fracionamento do rizoma e do talo, respectivamente) reduzem o risco de introdução de doenças e pragas.

Apesar da excelente demanda atual por material de plantio, podem ocorrer períodos de menor procura e maior oferta de mudas, causando redução de preços e/ou demora na sua comercialização, o que pode afetar a sua qualidade, uma vez que as mudas continuam a crescer, podendo passar do tamanho e da idade adequados para o seu uso em plantios. Este risco é, no entanto, relativamente pequeno, pois a muda não é perecível e pode, muitas vezes, ser aceita apresentando uma faixa de tamanho bastante ampla.

"Seja como for, o risco pode ser consideravelmente reduzido pela capacitação e treinamento do viveirista. Quanto maiores forem os conhecimentos e a experiência do produtor, menores serão os riscos de não se obter produtividade e qualidade adequadas", finaliza.

As unidades de Petrolina, Fortaleza, Sobral e o CTAA do Rio de Janeiro, também mostraram trabalhos no Salão.

Mais informações: Embrapa Mandioca e Fruticultura Jornalista Dalmo Oliveira Tel.: 075 721.2120 (ramal 197) Fax: 075 721.1118  

Tema: Atividades Temáticas\Agricultura Familiar 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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