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Novas variedades de banana resistem à Sigatoka Negra

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A Embrapa, Empresa vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, lançou oficialmente, no dia 03 de dezembro, no Campo Experimental de seu centro de pesquisa em Manaus, localizado na Rodovia AM-010, Km 29, as cultivares de bananeira "Caipira" e "Thap Maeo", resistentes à Sigatoka negra, cujas mudas começaram a ser produzidas em larga escala para combater a doença que leva à redução da produtividade e também do tamanho do fruto.

A sigatoka negra foi detectada há pouco mais de um ano em alguns bananais do Amazonas, nas regiões de Tabatinga e Benjamim Constant. "Ela é causada por um fungo e sua presença no bananal pode ocasionar perdas de até 100 por cento da produção", diz Zilton José Maciel Cordeiro, da equipe de pesquisadores responsáveis pelo projeto de pesquisa que desenvolveu as variedades resistentes à Sigatoka.

Cerca de 300 mil mudas de "Caipira", cultivadas pela biofábrica da Embrapa Mandioca e Fruticultura, na Bahia, foram vendidas este ano para o Amazonas e Acre, primeiros estados a registrarem a ocorrência da doença. "A estimativa para o ano que vem é de comercializarmos cerca de 1 milhão e 500 mil mudas de bananeiras resistentes", diz Hermínio Maia Filho, gerente da biofábrica.

Há notícias de que a Sigatoka negra possa ter infestado bananais em Rondônia e no Mato Grosso também. Por isso, o Ministério da Agricultura, através da Embrapa, vem promovendo uma série de treinamentos a extensionistas e produtores daquela Região, para que saibam identificar rapidamente o problema. Produtores do Ceará também pediram informações para os técnicos da Embrapa porque temem que a doença chegue ao estado.

Os treinamentos dados pela Embrapa Mandioca e Fruticultura foram solicitados pelas autoridades de defesa sanitária vegetal, também ligadas ao ministério da Agricultura, por causa velocidade com que a Sigatoka negra se espalha, desde que chegou ao país, no ano passado.

Com uma produção anual de seis milhões de toneladas, o Brasil tem 520 mil hectares plantados de banana. Menos de 1% desse total vai para exportação, ou seja, é uma cultura produzida quase que somente para consumo interno.

O receio se justifica, explica Cordeiro, porque a transmissão da Sigatoka negra é aérea. "O vento naturalmente transporta o fungo", diz. Ele se refere ao fungo Mycosphaerella fijiensis, que causa a doença. Depois de infestar as folhas, impede o desenvolvimento dos frutos. Para uma cultura de importância econômica e social como a banana, o resultado pode ser desastroso. O tamanho da fruta e seu vigor determinam a aceitação nos mercados. E são justamente essas duas qualidades as mais afetadas pela praga.

Como explica o especialista, é da folha que vem a energia para produzir. No caso da bananeira, são necessárias 15 ou 16 folhas para que a planta acumule boas reservas e os frutos cresçam bem. Mas se o fungo as ataca, deixa manchas negras que as debilitarão, provocando uma morte rápida das folhas. Um pé de banana que tenha sido infectado, não terá mais que cinco folhas.

Sem a quantidade de folhas suficiente para que a bananeira vegete normalmente, os frutos ficarão raquíticos. Isso acontece porque a planta não tem mais condições de armazenar energia, fazendo com que os cachos encham só pela metade. Num crescimento normal, a fruta se arredonda à medida que os cachos enchem. Com a invasão do fungo, os frutos ficarão cheios de quinas. Além disso, as bananas podem amadurecer ou amarelar ainda no campo, mesmo que os frutos estejam mal formados. "Não se paga bons preços no mercado por frutos assim", conclui Cordeiro. Por isso, nas áreas em que a doença já foi detectada, continuam sendo testados outros híbridos resistentes à Sigatoka negra.

Juntamente com técnicos da Embrapa Acre, em Rio Branco, e da Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus, a equipe de Cruz das Almas vem passando aos produtores alguns princípios básicos para ter uma plantação mais sadia: o primeiro passo é eliminar as folhas doentes. Outra dica é cultivar as bananeiras em áreas sombreadas. Ou seja, em consórcio com plantas mais altas que lhe façam sombra. Não há garantia de que a doença não se apresentará, mas a contaminação pode ser menos severa porque o fungo se desenvolve em boas condições de luz e umidade. "Nas plantas sombreadas reduz-se a concentração de orvalho", comenta o pesquisador. É verdade que, neste caso, o crescimento da planta será mais lento e ela demorará mais para produzir, mas é uma situação menos incômoda do que a infestação, garante Zilton.

Conforme Cordeiro, o cultivo em áreas de solos férteis também deve ser observado. "Nessas condições, as bananeiras se desenvolverão mais rápido e ficarão mais resistentes. Presume-se que sofrerão menos com doenças", acrescenta. Cordeiro explica que as plantas têm um mecanismo natural de defesa, que as permite resistir a doenças até certo ponto. Acontece que esse mecanismo está sendo afetado pela baixa fertilidade do solo. Por isso, acredita-se que o cultivo em áreas mais férteis torne as bananeiras mais resistentes ou, pelo menos, que a perda na produção seja menor.

Apesar dessas alternativas, com o uso de manejo adequado, não há motivos para otimismo. O próprio pesquisador é enfático e realista ao afirmar que não há como prevenir o mal. A Sigatoka negra vai avançar e, por isso, os pesquisadores procuram testar as variedades existentes atualmente e pretendem gerar outros materiais que apresentem resistência à doença.

Características

A 'Caipira', internacionalmente conhecida como 'Yangambi km 5', é uma variedade de banana de mesa, destacando-se pelo seu vigor vegetativo, resistência à sigatoka-negra, sigatoka-amarela e ao mal-do-Panamá, além de resistência à broca-do-rizoma, evidenciada pelos baixos índices registrados de infestação pela praga.

Foi avaliada em diversos ecossistemas brasileiros, mostrando boa adaptabilidade, e produtividade em torno de 25t/ha/ano sob boas condições de cultivo, mesmo na ausência de irrigação. Os frutos são em aparência e tamanho semelhantes aos de banana 'Maçã', com casca fina, média resistência ao despencamento, a polpa é de coloração bege, consistência macia e baixíssima acidez. A 'Caipira' pode ser plantada em espaçamentos variando de 3,0m x 2,0m a 3,0m x 3,0m, mantendo rigoroso controle da população, devido ao perfilhamento abundante, característico dessa variedade.

A Embrapa recomenda que o seu cultivo seja feito em solos de fertilidade média/alta, profundos, para que os seus atributos de resistência às doenças possam se expressar em toda a sua potencialidade.

Já a variedade 'Thap Maeo', é uma bananeira introduzida da Tailândia. Além de apresentar resistência à sigatoka-negra é também resistente à sigatoka-amarela e ao mal-do-Panamá, as três principais doenças que afetam a bananicultura mundial.

A variedade tem mostrado boa adaptação à maioria dos ecossistemas brasileiros onde se cultiva banana, com produção de até 35 t/ha/ano, quando cultivada em solos de boa fertilidade, sob condições de sequeiro. Os frutos são de tamanho semelhante aos de banana 'Maçã', casca bem amarela quando madura, não despenca, a polpa é de coloração creme, sabor ligeiramente ácido, devendo ser consumidos bem maduros.

Um aspecto importante é a rusticidade demonstrada em solos de baixa fertilidade, onde se pode obter produtividade em torno de 25 t/ha/ano. "Esta variedade será, sem dúvida, uma importante alternativa para a Amazônia, devido ao baixo nível de tecnologia utilizado pelos produtores e à alta suscetibilidade à sigatoka-negra, evidenciada pelas demais variedades cultivadas na região", diz Sebastião de Oliveira e Silva, pesquisador da Embrapa, responsável pelo processo de melhoramento genético da cultivar no Brasil.

Apesar de sua rusticidade, recomenda-se que o seu cultivo seja feito em solos profundos, bem drenados e corrigidos quimicamente com base em análise do solo, utilizando espaçamentos de 3,0m x 2,0m a 3,0m x 3,0m.

Mais informações: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tel.: (75) 721.2120 Visite a home page da Embrapa Mandioca e Fruticultura: http://www.cnpmf.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Frutas 

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