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Comunidade desenvolve estudo pioneiro na Amazônia

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No Seringal São Salvador, há 6 horas subindo o rio Moa a partir do município de Mâncio Lima, 76 famílias discutem a melhor forma de aproveitar os recursos naturais de forma sustentável, numa área próxima ao Parque Nacional da Serra do Divisor. A experiência pode ser a resposta para modelos de assentamentos sustentáveis na Amazônia e tende a provocar reflexos nos métodos de distribuição e uso da terra na região.

Os estudos envolvem a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e instituições do Estado do Acre como a Pesacre, a prefeitura de Mâncio Lima, o Incra, o governo do Estado, o Ibama, o SOS Amazônia e conta com o apoio financeiro do Banco Mundial, por meio do Prodetab, e da W. Alton Jones Foundation.

Pela abrangência do projeto, que busca alternativas econômicas e respostas para melhorar a renda e a qualidade de vida das populações rurais, contribuindo para o desenvolvimento econômico regional e a conservação dos recursos naturais, o Banco Mundial está investindo quase R$ 350 mil no processo de planejamento participativo deste projeto de reforma agrária, que deverá estar concluído até o final do próximo ano.

Em visita ao Brasil, o consultor do Banco Mundial, Derek Byerlee, esteve na Embrapa Acre ( Rio Branco - AC) para avaliar os trabalhos do Seringal São Salvador. "Nunca vi nada tão abrangente e o projeto tem possibilidades de trazer grandes soluções para novos modelos de assentamento sustentáveis na Amazônia", afirmou.

Os primeiros levantamentos sócio, econômicos e ambientais, feitos pelo Pesacre com apoio do Incra, SOS Amazônia e técnicos da prefeitura, mostram que mais da metade da população tem menos de 17 anos e o índice de analfabetismo ultrapassa os 50%. A água consumida não recebe tratamento, fato que contribui para agravar os problemas de doenças e as principais atividades econômicas limitam-se a produção de farinha, criação de pequenos animais e cultivo de arroz e milho.

Apesar da abundância de lagos, igarapés e rios, onde eram comuns tambaquis e tucunarés, a comunidade padece com a pesca predatória feita por pessoas que levam tudo que conseguem para mercados de Cruzeiro do Sul, deixando as famílias do seringal quase sem alternativa de alimento. A comunidade está preocupada com capacidade de suporte dos recursos naturais disponíveis, uma vez que muitos dos seus filhos, em breve, estarão formando novas famílias.

Outro detalhe é a intenção, já manifestada por muitas famílias que hoje vivem no Parque Nacional da Serra do Divisor, de se mudarem para o São Salvador, tendo como perspectiva a titularidade definitiva da terra.

Na avaliação de José Luiz Cosmo, um dos representantes da comunidade, as pesquisas estão trazendo novo ânimo para as famílias que viveram até agora no isolamento e que tinham perspectivas de vida incertas. "Só quem vive na mata sabe como é que é duro", afirmou Cosmo.

Os habitantes do Seringal São Salvador descendem de desbravadores que entraram na mata atrás das seringueiras nos tempos em que a borracha era conhecida como ouro negro.

O enfraquecimento desta economia dificultou a vida dos colonos e os obriga a buscar alternativas para uma vida digna na floresta. A partir das pesquisas e do cruzamento de informações será possível a estas famílias desenharem o seu futuro.

Jornalista Soraya Pereira Embrapa Acre Fone: (68) 224 3931 ou (68) 922 4533 Email: sac@cpafac.embrapa.br  

Tema: Ecossistema\Trópico Úmido 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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