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Pesquisa estuda neosporose bovina e busca parceiros

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A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, está iniciando uma pesquisa sobre neosporose e conta com o apoio de pecuaristas e médicos-veterinários para coletar material de análise (fetos abortados). Em rebanhos controlados, com manejo sanitário adequado e rigoroso, a causa de abortos inexplicáveis pode estar ligada à neosporose.

A doença começou a ser estudada há 12 anos e figura entre as principais causas de abortos em gado leiteiro e de corte nos Estados Unidos, Holanda e Nova Zelândia. Segundo estimativas do pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Renato Andreotti, o prejuízo que a indústria leiteira norte-americana tem anualmente com as perdas decorrentes da neosporose gira em torno de 35 milhões de dólares. No Estado da Califórnia, de acordo com pesquisas do National Animal Health Monitoring System (NAHMS), o percentual de fetos abortados com a presença da Neospora caninum (o parasito) fica entre 18% e 45% no rebanho leiteiro, mas a incidência da neosporose ainda é desconhecida lá, uma vez que a simples presença de anticorpos contra o parasito não significa, necessariamente, a incidência da doença.

No Brasil, o único laboratório que faz o diagnóstico de neosporose é o do Instituto Biológico de São Paulo, vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado, mas os exames são caros, uma vez que os kits utilizados no diagnóstico são importados dos Estados Unidos e cada amostra (um único teste) custa em torno de 25 reais. O Neospora caninum - morfologicamente similar ao Toxoplasma gondii (parasito causador da toxoplasmose - o tem no cão o seu hospedeiro definitivo, reproduzindo-se no seu intestino. Ao defecar na pastagem, água ou cocho, o cão espalha fezes com ovos do parasito (oocistos). A pastagem, água ou ração contaminada, depois, é ingerida pelo gado.

A pesquisa da Embrapa Gado de Corte consiste em levantar os casos da doença no rebanho brasileiro de corte, fazer o isolamento do agente transmissor e desenvolver um método de diagnóstico da neosporose, além de disponibilizar informações para combater a enfermidade. Em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria de Saúde de Campo Grande, a unidade da Embrapa irá estudar o ciclo de vida do Neospora caninum por meio de exames com três tipos de cães: os de fazenda, os domiciliares e os de rua. A pesquisa pode verificar se há possibilidade desse parasito transmitir doença ao homem, apesar de não existir, até então, qualquer relato no mundo inteiro de caso similar.

O pesquisador responsável pelo estudo, Renato Andreotti, pede a pecuaristas e médicos-veterinários que façam contato com a Unidade da Embrapa de Campo Grande, MS, para fornecer os fetos abortados com ou sem diagnóstico de neosporose. "Em rebanhos controlados de animais de alto valor zootécnico, problemas reprodutivos sem explicação aparente podem ter ligação com a incidência da neosporose ou não. Nós vamos pesquisar estes casos", alerta Andreotti. O telefone para contato com a Embrapa Gado de Corte é o (67) 768-2169 e o e-mail: andreott@cnpgc.embrapa.br.

Prevenção

As vacas ingerem os ovos do parasito da neosporose por meio da água ou de alimentos contaminados. A infecção é passada ao feto pela placenta. Uma vez que surtos de abortos causados por neosporose podem ocorrer em rebanhos bovinos alimentados com rações misturadas no local, uma medida preventiva seria proteger os alimentos e a água do gado contra a contaminação com fezes de cães, bem como a remoção dos fetos abortados e restos de placenta existentes na pastagem.

Como as vacas prenhes, no terço final da gestação (de novembro a janeiro), em caso de estação de monta para gado de corte no Brasil Central, devem enfrentar dificuldades alimentares em campo, elas passam a ter menos resistência contra a neosporose e maior probabilidade de abortar a cria. É necessário, defende o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, que o produtor se preocupe em garantir o bom estado nutricional das vacas prenhes para reduzir os riscos de aborto entre animais contaminados por Neospora. Andreotti orienta que, em rebanhos controlados, deva-se somente introduzir animais soronegativos. Já é comercializada, nos Estados Unidos, uma vacina que tem por objetivo ajudar a reduzir os abortos causados por Neospora, embora não exista sistema de proteção eficiente contra o agente causador da doença.

"Mesmo sendo as informações sobre a ocorrência de neosporose no Brasil ainda incipientes, o produtor deve avaliar, à medida que a competitividade aumenta, o efeito das perdas decorrentes dessa doença sobre a rentabilidade do sistema", alerta Andreotti. Ele conclui: " nos sistemas que possuem um bom controle sanitário e ainda apresentem casos de aborto, após dois meses de gestação, sem um diagnóstico comprovado, deve-se ter a preocupação de verificar se a neosporose não está contribuindo para esse prejuízo".

Jornalista: Thea Tavares Embrapa Gado de Corte Fone/Fax: (67) 763-2700 E-mail: thea@cnpgc.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Pecuária e Pastagens\Gado de Corte 

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