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Seminário mostra como a pesquisa influenciou economia brasileira

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O progresso do setor agropecuário por meio da aplicação de novas técnicas e tecnologias determina aumentos importantes na renda dos demais setores e aumento da qualidade de vida, resulta em aumento das exportações do país e em redução das importações e trouxe, nos últimos 25 anos, uma redução real de 5,25% ao ano nos preços dos produtos agrícolas para os consumidores, aumentando desta forma o poder de compra dos menores salários pagos à maior parcela da população brasileira.

Estas foram conclusões de três estudos realizados por renomados economistas brasileiros, a pedido da Embrapa, sobre o impacto da mudança tecnológica do setor agropecuário na economia brasileira, apresentados em seminário realizado em 29 de maio no auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados. O objetivo, segundo o presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal, foi analisar em profundidade os últimos 25 a 30 anos e proporcionar à sociedade subsídios para tomar decisões quanto ao que fazer com os seus recursos.

O evento foi aberto pelo ministro da Agricultura e do Abastecimento, Marcus Vinicius Pratini de Morais que previu, neste ano, apesar da aftosa, exportações de carne da ordem de US$ 2,6 bilhões, gerando, apenas na região Sul, no setor de suínos e aves, mais 145 mil empregos diretos. O deputado Luis Carlos Heinze, presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural, disse que apesar de o Brasil ter dobrado sua produção agrícola nos últimos anos, graças aos investimentos em tecnologia agropecuária, o que mais chama atenção não é a safra de 94 milhões de toneladas e sim o fato de que temos ainda a maior fronteira agrícola a ser explorada no mundo e condições para produzir o dobro, o triplo, para alimentar o País e o mundo.

Agricultura e progresso social

O seminário consistiu de três painéis e uma mesa redonda. No primeiro painel, o economista Regis Bonelli, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), apresentou um estudo sobre os impactos de longo prazo do crescimento da agropecuária brasileira em indicadores de desempenho econômico - especificamente a geração de tenda, crescimento populacional e desenvolvimento humano/condições de vida - em espaços geoeconômicos selecionados.

Segundo Bonelli, a preocupação central foi com o processo de inclusão social que deve acompanhar o desenvolvimento econômico e social e a inter-relação deste fenômeno com a arrecadação de impostos e outras receitas correntes nas áreas selecionadas para o estudo. O constatado pelo pesquisador em 23 municípios ou conjunto de municípios selecionados foi um crescimento geral e agropecuário "elevadíssimo". Os municípios que registraram os maiores ganhos de produtividade agrícola e progresso social entre 1975 e 1996 foram Barreiras (BA - 18.9% anuais), o conjunto formado por Conceição do Araguaia, Marabá e Redenção (PA - 11,6% anuais), Irecê (BA - 9,9% anuais), a região sul do Piauí (9,6% anuais), Balsas e Riachão (MA - 9,5% anuais), Fraiburgo e São Joaquim (SC - 8,9% anuais), Rio Verde (GO - 8,3% anuais) e Rondonópolis (MT - 7,4% anuais).

O secretário de Política Agrícola do Ministério da Fazenda, Evandro Fazendeiro de Miranda, afirmou que as conclusões do estudo de Bonelli colocam a questão agrícola como tema estratégico nas Políticas Públicas brasileiras.

No segundo painel, o economista Antonio Salazar Pessoa Brandão, da Universidade Santa Úrsula, disse que a forte associação observada entre o crescimento da produtividade no campo e o crescimento das exportações é "um fenômeno extremamente importante" e deve ser levado em conta no estabelecimento de prioridades de política agrícola e no estabelecimento de prioridades para a pesquisa agropecuária.

Contribuição para a cidadania

O terceiro painel tratou dos impactos da mudança tecnológica do setor agropecuário brasileiro no abastecimento, tema do estudo dos economistas José Roberto Mendonça de Barros e Juarez Alexandre Baldini Rizzieri, da USP. Eles constataram, entre 1975 e 2000, uma queda real de preços de 5,25% ao ano, de uma cesta básica de produtos agrícolas composta por leite, carne bovina, frango, arroz, feijão, tomate, laranja, cebola, batata, banana, açúcar, alface, café, cenoura, mamão, ovo e óleo de soja.

Os economistas monitoraram o salário médio de um pedreiro, em São Paulo, e verificaram que sua remuneração registrou um crescimento médio, em relação ao item alimento, de 7,56% ao ano, a partir de 1986, quando começaram a entrar no mercado, consistentes resultados da pesquisa agropecuária. Para Mendonça de Barros, a "importância desta queda de preços para o Brasil e seu impacto nos salários mais modestos é extremamente importante" revelando a contribuição fundamental da pesquisa agropecuária brasileira do ponto de vista da cidadania.

O economista Juarez Rizzieri acrescentou os resultados apurados pelo trabalho demonstram "a enorme contribuição que a agricultura tem dado ao Plano Real - alimentos de boa qualidade e mais baratos - permitindo que milhões de brasileiros em estado de pobreza absoluta possam sobreviver".

O jornalista Rolf Kuntz, do jornal O Estado de S. Paulo, disse que a agricultura brasileira não teve década perdida nos anos 80 pois os ganhos registrados nos anos 90 foram resultados de investimentos nos anos 80. Ele afirmou que estes resultados garantiram, inclusive, que nas crises dos anos 90 não fossem registradas fome - um grande contraste com a crise e a grande fome de 1982/83.

A Embrapa, acrescentou Kuntz, é um sobrevivente de uma ampla devastação promovida pelos Estados na Pesquisa Agropecuária, resultado de uma visão equivocada que prevaleceu e ainda prevalece no Governo, que "não se dá conta das funções primordiais do Estado na economia, do que é realmente importante e do que o mercado não consegue fazer".

O senador Jonas Pinheiro, PFL-MT, lembrou que a CPI da Dívida Agrária levantou em 1991 uma dívida de US$ 21 bilhões cuja sombra ainda continua a pairar sobre o agricultor brasileiro - justamente aquele agente econômico que o estudo demonstrou, contribuiu decisivamente para o bem estar do brasileiro. Pinheiro acrescentou que a Embrapa é uma empresa estratégica para o agronegócio brasileiro. Este mesmo que como sublinhou o ministro da Agricultura, Pratini de Morais, continua sendo a base de sustentação da economia brasileira.

Novos desafios

O seminário foi encerrado com uma mesa redonda que debateu os novos desafios do setor agropecuário brasileiro e como as instituições de Ciência e Tecnologia podem contribuir. A mesa foi presidida pelo presidente do Conselho de Administração da Embrapa e secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Márcio Fortes de Almeida. Ele lembrou que o evento teve origem em um pedido do Conselho no sentido que a Embrapa pesquisasse os impactos das tecnologias desenvolvidas pela pesquisa agropecuária e transferidas à sociedade sobre a economia brasileira.

O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Carlos Américo Pacheco, disse que o sistema de fomento da ciência e tecnologia agropecuária deverá receber um reforço no financiamento de sua pesquisa com a criação de fundos para a Biotecnologia e para o Agronegócio. Já o presidente da Sadia, Luiz Fernando Furlan, lembrou a necessidade de construir marcas brasileiras para agregar maior valor à produção agropecuária nacional.

O pesquisador da Embrapa, Eliseu Alves, alertou para o fato de que se não acontecerem medidas rápidas para combater a pobreza que atinge hoje a 4,5 milhões de estabelecimentos agrícolas brasileiros, englobando a 12 a 15 milhões de pessoas, dentro de muito pouco tempo estes brasileiros poderão abandonar o campo e passar a viver nas periferias das cidades. Por fim, o presidente do Grupo Sendas, Arthur Antonio Sendas, lembrou que a demanda por produtos da agricultura orgânica aumentou 48% no período de janeiro a abril deste ano, em comparação com o ano passado. Para Sendas, esta deve ser uma das prioridades do agronegócio brasileiro já que, em todo o País, há necessidade de orientação técnica, financiamentos e logística para aumentar a produção local de produtos naturais. Ele garantiu, inclusive, a parceria do setor de supermercados na empreitada.

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Jornalista: Robinson Cipriano (MTb 2057/88-DF) Embrapa Sede Telefone: (61) 448-4113 e 448-4012 - Fax: (61) 348-4860 E-mail: robinson@sede.embrapa.br  

Tema: A Embrapa\Eventos 

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