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Encontro traça mapa da soja no Brasil

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Numa das sessões mais concorridas da 23ª Reunião de Pesquisa de Soja, promovida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, pesquisadores de todo o país fizeram um balanço da safra 2000/2001, mostrando o desenvolvimento da cultura nos estados que compõem a região Central do Brasil. Representantes de instituições de pesquisa de diferentes regiões brasileiras relataram a evolução e o desempenho da cultura em 14 estados brasileiros, traçando um mapa da cultura no país.

"Os trabalhos apresentados indicaram duas realidades bem distintas no decorrer da safra passada. No sul, as chuvas em doses adequadas permitiram um aumento da produtividade média. Nos outros estados, o veranico, na fase de formação e enchimento dos grãos, impediu que se atingisse as melhores médias", destaca Alexandre José Cattelan, presidente da comissão organizadora da Reunião.

No Mato Grosso, apesar das condições climáticas não terem sido ideais, a produtividade média da região foi de 2.999 kg/ha e a produção total, superior a oito milhões de toneladas. O alto nível técnico dos produtores e os investimentos dos empresários na industrialização do grão também foram aspectos que contribuíram para a consolidação do estado como maior produtor brasileiro de soja.

O alto custo de transporte na região, no entanto, ainda é um fator que limita a rentabilidade do produtor mato-grossense. "Existe uma grande expectativa em torno da melhoria da malha viária da região, que minimizaria os custos com o transporte, aumentando a competitividade dos produtores", destaca Camilo Plácido Vieira, coordenador da Unidade de Execução de Pesquisa (UEP) da Embrapa no Mato Grosso. A implantação do transporte intermodal irá ligar os três principais corredores de produção do Estado aos maiores portos da região Norte do País.

Já o Paraná comemora um aumento de produção de 17,62% em relação à safra passada e o recorde de produtividade nacional de 3.049 kg por hectare. Além disso, a safra este ano foi bastante homogênea, com índices de produtividade equilibrados entre região oeste (tradicionalmente mais produtiva) e Norte. "Outro destaque da safra foi a consolidação do sistema de transferência de tecnologia, Treino&Visita, desenvolvido em parceria entre Embrapa Soja (Londrina/PR), Emater e IAPAR", avalia Fernando Adegas, técnico da Emater-PR. A metodologia, usada há cinco anos no Paraná, tem sido responsável pela melhoria da qualidade técnica da assistência técnica e do próprio produtor rural. Os aspectos negativos da safra 2000/01 foram os problemas de compactação do solo, acamamento da soja em regiões frias e o replantio em virtude de problemas na instalação da lavoura.

No Distrito Federal, que já foi um dos principais produtores de semente do Brasil, houve significativa ocorrência de doenças de final de ciclo, como a podridão vermelha da raiz. Um dos aspectos positivos foi conscientização dos produtores quanto à adoção de práticas ecológicas, como o plantio direto. Na última safra, a adoção da técnica ficou entre 60% e 70% da área plantada, que é de 350 mil hectares. "A reorganização dos produtores de semente em busca da máxima qualidade na germinação, vigor e pureza, é um fator que ainda não se reflete em números, mas indica uma recuperação do setor na região", afirma Plínio Itamar de Souza, pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF).

O crescimento da área com plantio direto também foi o destaque do estado de Goiás, que detém o maior potencial de esmagamento do país. "Cerca de 90% dos produtores já adotam essa prática", destaca José Nunes Junior, pesquisador do CTPA. A expansão do nematóide de cisto no estado é um fator preocupante. "Estamos desenvolvendo um trabalho intenso de monitoramento da praga e orientação dos produtores", afirma.

A organização dos produtores rurais e o interesse por tecnologias foram aspectos interessantes levantados durante o balanço da safra em Minas Gerais. A ampliação em 8% da área poderia ter sido maior, mas a falta de financiamento impediu essa evolução. "O Estado tem um potencial de expansão de 2,6 milhões de hectares", avalia José Rodrigues Vieira, técnico da Emater. Segundo Vieira, o plantio direto já é adotado por cerca de 65% dos empresários rurais, que também fazem a rotação e sucessão soja-milho-sorgo-milheto. O programa de redução de perdas na colheita, iniciado na safra 98/99, quando a perda média era de 120 kg/ha, reduziu para 72 kg/ha a perda média do Estado. O técnico também destaca as restrições sobre soja transgênica na região. "As indústrias moageiras estão firmando contrato com produtores para compra de soja não transgênica e as prefeituras também iniciaram campanhas contra o plantio transgênico", afirma.

Em São Paulo, o que se percebe é o descuido de alguns produtores com a adoção de tecnologias importantes. Segundo Nelson Braga, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas, a semeadura em densidade errada provocou o acamamento da soja em várias regiões. "Também notamos o abandono da inoculação e do monitoramento da nodulação da soja por alguns produtores", destaca.

Na Bahia, cuja produção do grão se concentra na região Oeste, houve um aumento de 10% da área em relação a safra 99/2000, porém o veranico prejudicou a produtividade média do Estado, que caiu para 2.040 kg/ha. "Nessa safra, um dos principais pontos positivos foi o aumento da área de algodão, que se consolidou como alternativa na rotação soja-milho", destaca Marcus Aurélio Lopes, pesquisador da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário (EBDA).

A região Norte, onde a soja começa a ser plantada em regiões de cerrado, também foi tema das apresentações. Em Rondônia, apesar do clima favorável e da distribuição regular de chuvas, o alto preço do calcário e do frete para insumos aliado à falta de garantias para crédito, ainda são os principais empecilhos para a expansão da cultura. Já em Roraima, começam a surgir as primeiras cooperativas de produtores. "É uma região onde a terra é muito barata, o que tem seduzido produtores do Centro-Sul do Brasil. No entanto, como a realidade da região é bem diferente, muitos encontram dificuldades em produzir nos primeiros anos", revela Daniel Gianluppi, pesquisador da Embrapa Roraima (Boa Vista/RR). Como é a região de mais baixa latitude onde se planta soja no Brasil, muitas tecnologias ainda precisam ser adaptadas. Também há limitações na negociação para aquisição de insumos em virtude da falta de produção em escala.

O relato dos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí revelou uma evolução da área plantada, que, segundo Dirceu Kepler, pesquisador da Embrapa Soja, tem crescido em média 20% ao ano. "O Maranhão, por exemplo, é uma região onde a soja produz muito bem. No entanto, a rotação ainda não é praticada devido a falta de mercado para outras culturas", observa. Segundo o pesquisador, a aplicação de produtos químicos ainda é alta, já que não há a adoção do Manejo Integrado de Pragas.

Jornalista: Carina Gomes (MTb 3914-PR) Embrapa Soja Telefone: (43) 9995-7817 E-mail: carina@cnpso.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Grãos\Soja 

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