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MS ganhará Centro de Tecnologia do Couro

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Nesta quinta-feira, dia 13 de setembro, às 10h, será assentada em terreno da Embrapa Gado de Corte (BR 262, Km.4, saída para Aquidauana - Campo Grande/MS) a pedra fundamental de construção do Centro de Tecnologia do Couro de Mato Grosso do Sul (CTC-MS). Para este lançamento, estão previstas as presenças do vice-governador e secretário de Estado da Produção, Moacir Kohl; do presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos/MCT), Mauro Marcondes Rodrigues; do presidente do Conselho Gestor do CTC-MS, Jaime Verruck; do chefe-geral da Embrapa Gado de Corte, Antonio Batista Sancevero; do assessor do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Seixas Lourenço; e do representante do Ministério da Integração Nacional, Waldir Miranda de Brito.

A área em que será construído o CTC-MS possui três hectares e a obra contará com recursos da Finep, na ordem de R$ 1,8 milhão. Contando com o tempo de elaboração e aprovação do projeto técnico do Centro - em torno de 60 dias - e a duração da obra, estimada em aproximadamente de 20 meses, o CTC-MS deverá estar concluído até o final de 2003.

A implantação do Centro de Tecnologia do Couro de Mato Grosso do Sul deverá apoiar as atividades industriais na capacitação de profissionais, na pesquisa e no desenvolvimento de processos e de produtos, no tratamento de efluentes e na prestação de serviços técnicos especializados. Embora o Estado de Mato Grosso do Sul possua o maior rebanho bovino do País, seja beneficiado por uma localização geográfica estratégica (faz fronteira com os estados brasileiros mais desenvolvidos e com alguns países do Mercosul) e seja um dos maiores produtores de couro, a maior parte do couro do Estado é beneficiada somente até a fase Wet Blue, de baixa remuneração (U$ 40.0 no câmbio para exportação).

Os idealizadores do CTC-MS revelam que embora o maior produtor brasileiro de calçados de couro bovino ainda seja o Rio Grande do Sul, 80% do couro importado pelas indústrias calçadistas brasileiras vem dos vizinhos Uruguai e Argentina – são mais de nove mil toneladas de peles ao ano. A região Centro-Oeste, por sua vez, tem a maior concentração bovina do Brasil (52 milhões de cabeças de gado, ou seja, 33,6% do rebanho nacional) e, conseqüentemente, a maior oferta de peles, com potencial para se tornar o maior fornecedor de matéria-prima para os pólos calçadistas brasileiros – Rio Grande do Sul e São Paulo.

A produção do Centro-Oeste, a exemplo do resto da Brasil, peca, hoje, pela qualidade do produto, devido a descuidos na cadeia produtiva e ao clima propício à maior incidência de parasitos lesivos ao couro. Ela responde por apenas 0,58% da produção brasileira que chega às indústrias calçadistas, contra 37,62% de peles para calçados da região Sul, que soma 16,58% do rebanho bovino nacional. A qualidade da matéria-prima brasileira estará entre os objetos iniciais de estudo do CTC-MS, bem como das ações do seu conselho gestor.

O projeto afunila a análise econômica sobre o estado de Mato Grosso do Sul, que tem o maior rebanho bovino - com 25,6 milhões de cabeças – e é o primeiro nos números de abate – quase 4 milhões de animais por ano. A Itália inteira produz, por ano, 4 milhões de peles e couros, ou seja, só a produção de Mato Grosso do Sul é capaz de suprir todo o mercado italiano.

Da produção anual brasileira de 32 milhões de couros bovinos, segundo o sistema de classificação norte-americano, 8,56% são classificados como Tipos 1 e 2 (alta qualidade); 25,34%, Tipo 3; 30,55%, Tipo 4; 19,61%, Tipo 5; 10,70% é do Tipo 6 e 5,24% é "refugo", ou seja, sem classificação. Os Estados Unidos produzem 36 milhões de couro ao ano, mas 85% de sua produção é classificada como Tipo 1.

O pesquisador da Alberto Gomes, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, alerta que, segundo levantamento feito junto a alguns curtumes de Mato Grosso do Sul, não existe couro de primeira, segunda e terceira categorias no Estado. "Alguns donos de grandes curtumes locais apontam, inclusive, a escassez de couros enquadrados como sendo de quarta categoria", adverte o pesquisador, que associa o fato aos problemas ocorridos ao longo da cadeia produtiva, especialmente no campo.

Os idealizadores do CTC-MS estimam a perda do Estado em cerca de R$ 280 mil por dia. De um total de 15 mil animais abatidos por dia em Mato Grosso do Sul (média), apenas 8 mil são aproveitados na industrialização. O prejuízo diário é de 7 mil couros que se, beneficiados, poderiam custar U$ 40.0 a mais cada um, visto que o couro acabado vale exatamente o dobro do "wet blue".

O Estado possui, também, cerca de 33 frigoríficos em atividade, com capacidade para abater 15 mil cabeças ao dia ou realizar quase 5 milhões de abates por ano. O crescimento produtivo é percebido na comparação entre os números atuais e os dados de 1998, quando o estado abateu 3,6 milhões de cabeça de gado de corte. De acordo com a Secretaria de Estado da Produção e Desenvolvimento (Seprodes), atualmente, em Mato Grosso do Sul, existem 8 curtumes instalados e em funcionamento e outros 5 em processo de instalação, que somam uma capacidade de processamento de 4 milhões de peles por ano, com perspectiva de atingir a marca de 6 milhões de peles nos próximos três anos. Couros de bovinos, de acordo com dados da Seprodes, já ocupam o sétimo lugar no "ranking" de exportações do Estado (4,71% de participação). Os curtumes, por sua vez, correspondem a apenas 1,57% das indústrias estaduais, enquanto que toda a atividade industrial sul-mato-grossense contribui apenas com 3,35% da arrecadação de ICMS.

"Há uma tendência de crescimento da produção pecuária de Mato Grosso do Sul". A opinião é do representante da Embrapa Edson Espíndola, que aponta o controle da febre aftosa e a aptdão das empresas estaduais para a exportação de carne como um dos fatores favoráveis a esse incremento. Segundo dados do Instituto de Defesa Animal de Mato Grosso do Sul (IAGRO), no ano de 2000 foram vacinadas 25,6 milhões de cabeças de gado contra a doença. Ele aponta, também, como vantagem, a presença, em Campo Grande, da Embrapa Gado de Corte, geradora de tecnologias em recuperação e melhoramento das pastagens, em prevenção e manejo sanitário do rebanho e promotora de programas de valorização da cadeia e da carne bovina – é o caso do Programa Embrapa Carne de Qualidade.

Espíndola esclarece que a Embrapa ainda não possui pesquisas direcionadas especificamente para couro e peles. Existem apenas estudos e projetos sobre o controle de parasitas, que abordam a temática da qualidade do couro. "O CTC-MS nos permitirá desenvolver trabalhos de aperfeiçoamento desse subproduto animal", afirma. A Embrapa irá realizar seminários técnicos sobre couros e peles ainda este ano, reunindo pesquisadores de instituições que trabalhem com produção animal.

A proposta do CTC-MS é trabalhar não só com couros bovinos, mas, também, com peles de outras espécies animais, como jacarés, peixes, cervos, ovelhas, aves, suínos, entre outras. "O CTC-MS será uma espécie de curtume-modelo. Além de curtir o couro, seguindo e ditando orientações, ele irá pesquisar sua qualidade", completa Espíndola. "Em constantes debates realizados pelo Sindicouro-MS, o que se conclui é que os principais pontos de estrangulamento que dificultam a expansão do setor coureiro no Estado são a má qualidade da matéria-prima, a falta de mão-de-obra qualificada e a pouca apropriação tecnológica por parte da indústria.

Com relação à qualidade da matéria-prima, a conclusão a que se chega é que o setor de produção (fazenda) é responsável por 60% dos defeitos apresentados no couro. Destes 60%, 40% por causa da incidência de ectoparasitas (carrapatos, berne, moscas etc); 10% por marcações com ferro em locais inadequados e 10% por ferimentos de arame farpado, galhos e espinhos. Em seguida aos problemas no campo, estão outros 10% de defeitos causados por transporte inadequado, 15% por esfola mal feita durante os abates e 15% de defeitos oriundos da má conservação do couro in natura.

Edson Espíndola lembra que, no Brasil, a preocupação dos pecuaristas é quase que totalmente direcionada ao corte, à produção de carne, pois não há uma política de incentivo à produção de couro de qualidade. Especialistas da Embrapa Gado de Corte calculam que o Brasil deixa de ganhar na balança comercial cerca de 900 milhões de dólares ao ano por não investir na melhoria do couro produzido aqui e que é comercializado lá fora. Ao se computar a expectativa de geração de 200 mil empregos diretos no beneficiamento do couro brasileiro, técnicos calculam que o prejuízo nacional chegue à casa dos 2 bilhões de dólares anuais. O destino do couro nacional é a produção de calçados e artefatos em geral. Espíndola lembra que há um grande incentivo por parte da indústria automobilística dos Estados Unidos, Europa e Ásia para a produção de estofamentos de veículos forrados com couro bovino. "O mesmo acontece com a indústria moveleira e aeroespacial", conclui o representante da Embrapa.

Jornalista: Thea Tavares Embrapa Gado de Corte Visite nossa Sala de Imprensa: http://www.cnpgc.embrapa.br Telefone: (67) 368-2023 E-mail: thea@cnpgc.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Pecuária e Pastagens\Gado de Corte 

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