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Embrapa lança primeiro híbrido de banana do tipo Prata resistente à Sigatoca-negra

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"Pacovan Ken". Esse é o nome do mais novo híbrido a ser lançado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A grande novidade é que esse é o primeiro híbrido do tipo Prata resistente ao mal da Sigatoca-negra.

A nova variedade de banana foi gerada a partir da cultivar pacovan e homenageia o cientista Kenneth Shepherd, pesquisador que iniciou o programa de melhoramento genético de banana na Unidade e foi o responsável pela obtenção desse híbrido. As mudas começaram a ser produzidas em larga escala para combater a doença que leva à redução da produtividade e também do tamanho do fruto.

A empresa fará o lançamento oficial da nova variedade em três estados diferentes: dia 30 de novembro em Salvador; dia 13 de dezembro em Manaus (AM) e dia 02 de março do ano que vem em Machado (PE), onde agricultores testaram em campo a Pacovan Ken. "Há oito anos esse híbrido vem sendo testado em diferentes regiões, como Amazonas, Pernambuco, sul da Bahia e no Recôncavo Baiano, para garantir sua viabilidade nos diversos ecossistemas", diz Sebastião de Oliveira e Silva, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas/BA), e um dos responsáveis pela pesquisa que criou a nova variedade.

"O híbrido Pacovan Ken apresentou o menor número de dias do plantio à colheita do primeiro ciclo, valor este praticamente igual ao observado na 'Prata Comum' e inferior ao da 'Pacovan' e 'Prata Anã'. No entanto, o seu segundo ciclo foi superior ao da 'Pacovan' e 'Prata Comum'. A 'Prata Anã' apresentou o maior período de tempo para completar o segundo ciclo", destaca o pesquisador.

Sebastião revela que o único fator indesejável no Pacovan Ken é o seu porte, ligeiramente superior ao da 'Pacovan' e aproximadamente igual ao da Prata Comum. "Apesar do elevado porte, o híbrido apresentou um dos maiores diâmetros de pseudocaule no primeiro e segundo ciclos, valores estes semelhantes aos da 'Prata Anã', mas superiores aos da 'Pacovan' e 'Prata Comum'", diz o pesquisador.

Em relação ao peso do cacho, principal característica que expressa a produtividade da bananeira, verificou-se que o híbrido Pacovan Ken se destacou no primeiro e segundo ciclos, apresentando médias de 16,9 kg e 29,6 kg, respectivamente, portanto superior a todos os outros genótipos testados pela pesquisa. "Embora no primeiro ciclo o híbrido tenha apresentado juntamente com a 'Pacovan' os menores números de pencas e frutos por cacho, no segundo ciclo, o Pacovan Ken apresentou maior número de pencas do que a 'Pacovan' e número de frutos por cacho superior ao desta cultivar e ao da 'Prata Comum'. Os frutos do Pacovan Ken são maiores e mais pesados do que os de todas as outras cultivares", informa Sebastião.

A sigatoca-negra foi detectada há mais de dois anos em alguns bananais do Amazonas, nas regiões de Tabatinga e Benjamim Constant. "Ela é causada por um fungo e sua presença no bananal pode ocasionar perdas de até 100 por cento da produção", diz Zilton José Maciel Cordeiro, da equipe de pesquisadores responsáveis pelo projeto de pesquisa que desenvolveu as variedades resistentes à Sigatoka.

Há notícias de que a Sigatoca-negra possa também estar se disseminando em bananais de Rondônia e do Mato Grosso. Por isso, o Ministério da Agricultura, através da Embrapa, vem promovendo uma série de treinamentos a extensionistas e produtores daquela Região, para que saibam identificar rapidamente o problema. Produtores de todo o país, preocupados com esta nova situação, vem solicitando informações sobre o problema aos técnicos da Embrapa porque temem que a doença chegue a suas regiões .

Os treinamentos dados pela Embrapa Mandioca e Fruticultura foram solicitados pelas autoridades de defesa sanitária vegetal, também ligadas ao ministério da Agricultura, por causa velocidade com que a Sigatoca-negra se espalha, desde que chegou ao país, no ano passado.

O Brasil tem 560 mil hectares plantados de banana e uma produção anual de seis milhões de toneladas. Menos de 1% desse total vai para exportação, conclui-se que a banana é uma cultura produzida quase que somente para consumo interno.

O receio se justifica, explica Zilton Cordeiro, outro pesquisador da Embrapa especialista na doença, porque a transmissão da Sigatoca-negra é aérea. "O vento naturalmente transporta o fungo", diz. Ele se refere ao fungo Mycosphaerella fijiensis, que causa a doença. Depois de infestar as folhas, impede o desenvolvimento dos frutos. Para uma cultura de importância econômica e social como a banana, o resultado pode ser desastroso. O tamanho da fruta e seu vigor determinam a aceitação nos mercados. E são justamente essas duas qualidades as mais afetadas pela praga.

Como explica o especialista, é da folha que vem a energia para produzir. No caso da bananeira, são necessárias 15 ou 16 folhas para que a planta acumule boas reservas e os frutos cresçam bem. Mas se o fungo as atacam, deixa manchas negras que as debilitarão, provocando uma morte rápida das folhas. Uma bananeira que tenha sido infectada, não terá mais que cinco folhas.

Sem a quantidade de folhas suficiente para que a bananeira vegete normalmente, os frutos ficarão raquíticos. Isso acontece porque a planta não tem mais condições de armazenar energia, fazendo com que os cachos encham só pela metade. Num crescimento normal, a fruta se arredonda à medida que os cachos enchem. Com a invasão do fungo, os frutos ficarão cheios de quinas.

Além disso, as bananas podem amadurecer ou amarelar ainda no campo, mesmo que os frutos estejam mal formados. "Não se paga bons preços no mercado por frutos assim", conclui Cordeiro. Por isso, nas áreas em que a doença já foi detectada, continuam sendo testados outros híbridos resistentes à Sigatoca-negra.

Juntamente com técnicos da Embrapa Acre (Rio Branco) e da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM), a equipe de Cruz das Almas vem passando aos produtores alguns princípios básicos para ter uma plantação mais sadia: o primeiro passo é eliminar as folhas doentes. Outra dica é cultivar as bananeiras em áreas sombreadas. Ou seja, em consórcio com plantas mais altas que lhe façam sombra. Não há garantia de que a doença não se apresentará, mas a contaminação pode ser menos severa porque o fungo se desenvolve melhor em boas condições de umidade. "Nas plantas sombreadas reduz-se a concentração de orvalho", comenta o pesquisador. É verdade que, neste caso, o crescimento da planta será mais lento e ela demorará mais para produzir, mas é uma situação menos incômoda do que a infestação, garante Zilton.

Conforme Cordeiro, o cultivo em áreas de solos férteis também deve ser observado. "Nessas condições, as bananeiras se desenvolverão mais rápido e resistirão melhor a doença. Presume-se que sofrerão menos com doenças", acrescenta. Cordeiro explica que as plantas têm um mecanismo natural de defesa, que as permite resistir a doença até certo ponto. Acontece que esse mecanismo está sendo afetado pela baixa fertilidade do solo. Por isso, acredita-se que o cultivo em áreas mais férteis torne as bananeiras mais resistentes ou, pelo menos, uma perda menor na produção.

Apesar dessas alternativas, com o uso de manejo adequado, não há motivos para otimismo. O próprio pesquisador é enfático e realista ao afirmar que não há como prevenir o mal. A Sigatoca-negra vai avançar e, por isso, os pesquisadores procuram testar as variedades existentes atualmente e pretendem gerar outros materiais que apresentem resistência à doença.

Jornalista: Dalmo de Oliveira Embrapa Mandioca e Fruticultura Telefone: (75) 621-2120 E-mail: dalmo@cnpmf.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Frutas\Tropicais 

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