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MS cria lei para incentivar uso de amido na panificação

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Nesta sexta-feira, dia 08 de março, a Secretaria de Produção de Mato Grosso do Sul (Seprod), o Idaterra, Embrapa Agropecuária Oeste, a Uniderp e a Assembléia Legislativa promovem o 3° Seminário sobre a Cultura da Mandioca. O evento vai servir de pano de fundo para a criação de um grupo de trabalho, incumbido de regulamentar a lei estadual n° 2.414, que torna obrigatória a mistura de derivados de mandioca na panificação.

O Mato Grosso do Sul é o primeiro Estado da Federação a criar legislação para regulamentar a questão. Outro Estado interessado em criar sua lei estadual sobre o tema é o de Mato Grosso. Técnicos mato-grossenses também participarão do seminário em Campo Grande. O evento, que acontece a partir das 8 horas no auditório da Assembléia Legislativa, tem a promoção conjunta da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, que está dando o suporte técnico aos moinhos e panificadoras para substituírem em até 20% a farinha de trigo pela farinha de fécula de mandioca na composição do pão comum.

O seminário aborda pontos como o impacto socioeconômico da mistura de derivados de mandioca na panificação do Estado. Ahmed Eldash, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, fará palestra sobre a aplicação de amido de mandioca na panificação. Joselito Motta, pesquisador em transferência de tecnologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura, fará demonstração do pão francês à base de amido.

A Embrapa está usando como principal argumento para a adoção da nova tecnologia um viés social importante: tornar mais rico do ponto de vista nutricional um dos alimentos mais populares. Entretanto, o que está fazendo mesmo o sucesso da proposta é o aumento da margem de lucro. Segundo os especialistas, é possível obter economia de 7% a 8% na produção do pão francês.

Atualmente, 96% das indústrias beneficiadoras do amido de mandioca estão situadas na região compreendida pelos Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Mato Grosso do Sul planta hoje sozinho mais de 50 mil hectares de mandioca, com uma produtividade que alcança 19 toneladas por hectare, a terceira maior do país. A mandioca é a principal cultura dos assentamentos rurais sul-mato-grossenses e a terceira em geração de empregos no Brasil, só perdendo para as culturas de café e milho, que têm maior quantidade de área plantada. Está presente nas comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul e também em grandes empresas rurais destinadas ao seu cultivo. O Estado possui 16 indústrias produtoras de fécula em funcionamento, que processam mais de 80% da produção de raiz de mandioca do Estado.

A lei estadual nº 2.414, originada do projeto de autoria do deputado Akira Otsubo (PSL), deve servir ainda para a estabilização do mercado de amido no Estado, que hoje pratica o preço de R$ 45,00 por tonelada, mas que há dois anos chegou a R$ 103,00. Depois de regulamentada, ela deverá prever que a mistura do amido de mandioca com a farinha de trigo seja feita diretamente nos moinhos, e não pelas próprias panificadoras.

Pesquisa - As novas pesquisas mostraram que é possível adicionar até 20% de fécula de mandioca no preparo do pão francês e de até 25% na massa de pães para hambúrguer e cachorro-quente. Teoricamente, o amido de mandioca (fécula) é parecido com o do trigo, com pequenas alterações, como o fato de este último possuir glúten, responsável pela retenção de gases durante a fermentação da massa, o que provoca o crescimento. Os pesquisadores garantem que não ocorre mudança de sabor significativa. E apontam ainda mais uma vantagem em relação ao amido da mandioca: os pães fabricados com parte de mandioca dobram o tempo de armazenamento em prateleira de três para seis horas, em relação à produção com 100% de farinha de trigo.

Segundo dados da Embrapa, o país possui hoje cerca de 150 mil toneladas de amido de mandioca em estoques. "As fecularias possuem uma capacidade ociosa de até 50%, o que revela a grande possibilidade de infra-estrutura que o país possui em suportar essa inovação", informa Joselito Motta.

Em tempos de instabilidade do dólar americano, a mandioca já tem como certa a vitória de uma primeira batalha na guerra das farinhas na fabricação do pão nosso de cada dia. "A fécula e seus derivados têm competitividade crescente no mercado de produtos amiláceos para a alimentação humana ou como insumos em diversos ramos industriais como o de alimentos embutidos, embalagens, colas, mineração, têxtil e farmacêutica. É nesse mercado que ocorre a maior agregação de valor", explica Carlos Estevão Leite Cardoso, pesquisador em sócioeconomia agrícola da Embrapa.

Pelos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo per capita mundial de mandioca e derivados, em 1998, foi de 16,1 quilos, enquanto que o Brasil apresentou um valor de 40,1 kg/hab/ano. No Brasil a transformação de raízes de mandioca origina três subprodutos: raspas secas ao sol, farinha e fécula. Do total beneficiado, o fabrico de farinha utiliza de 30% a 35% da produção de raízes. A produção de fécula atinge cerca de 25% deste total.

No jargão economista, a farinha de mandioca é considerada um produto "inelástico", o que significa dizer que, à medida que cresce o poder de compra da população, o consumo deste produto não aumenta. O uso da fécula pelas padarias funcionaria, assim, como uma válvula de escape para o agronegócio da mandiocultura nacional.

Para Chigeru Fukuda, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura e presidente da Sociedade Brasileira de Mandioca, a iniciativa do Mato Grosso do Sul representa ainda a possibilidade de resgatar uma dívida social com os agricultores que ao longo de décadas estiveram à margem do contexto agro-industrial nacional. "No Nordeste a mandioca sempre foi considerada cultura de pobre, sem se levar em consideração seu importante papel na segurança alimentar das populações de baixa renda", observa Fukuda.

Jornalista: Dalmo Oliveira (MTb/PB N.º 0598) Embrapa Mandioca e Fruticultura Telefone: (75) 621.2120 Fax (75) 621.1118 E-mail: dalmo@cnpmf.embrapa.br

Jornalista: Thea Tavares (MTb/PR 3207) Embrapa Gado de Corte Telefone: (67) 368.2023 Fax (67) 368.2150 E-mail: thea@cnpgc.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Hortaliças\Mandioca 

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