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Pão brasileiro será lançado na Paraíba

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Depois de ser aclamado pelo público e pela crítica nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Paraná, chegou a vez da Paraíba conhecer o "pão brasileiro", que está sendo promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Será durante a realização do VII Fórum Norte-Nordeste da Indústria de Panificação, que acontece desta quinta-feira (21) até sábado (23), na cidade de Campina Grande.

O pesquisador Joselito da Silva Motta, da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas/BA), está percorrendo várias regiões do país paradar suporte técnico aos panificadores para substituírem em até 20% a farinha de trigo pela farinha de fécula de mandioca na composição do pão comum, agora batizado de "pão brasileiro".

Em Campo Grande (MS), no início do mês, o pesquisador participou do III Seminário sobre a cultura da Mandioca do Mato Grosso do Sul, que reuniu na Assembléia Legislativa mais de 400 participantes entre deputados federais, estaduais, autoridades do estado, produtores e industriais. Na oportunidade foi criada uma comissão para regulamentar o projeto de lei de obrigatoriedade da mistura fécula/trigo no Estado, o que fez de Mato Grosso do Sul o primeiro estado brasileiro a tomar essa decisão.

O pão brasileiro também foi difundido em Cuiabá (MT), com o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso (FIEMT), da Federação da Agricultura do Mato Grosso (Famato), do Senai e do Sindicato dos Panificadores do Estado (Sinpan).

A Embrapa está usando como principal argumento para a adoção da nova tecnologia um viés social importante: tornar mais rico do ponto de vista nutricional um dos alimentos mais populares. Entretanto, o que está fazendo mesmo o sucesso da proposta é o aumento da margem de lucro. Segundo os especialistas, é possível obter economia de 7% a 8% na produção do pão francês.

As novas pesquisas mostraram que é possível adicionar até 20% de fécula de mandioca no preparo do pão francês e de até 25% na massa de pães para hambúrguer e cachorro-quente. Teoricamente, o amido de mandioca (fécula) é parecido com o do trigo, com pequenas alterações, como o fato de este último possuir glúten, responsável pela retenção de gases durante a fermentação da massa, o que provoca o crescimento.

Os pesquisadores garantem que não ocorre mudança de sabor significativa. E apontam ainda mais uma vantagem em relação ao amido da mandioca: os pães fabricados com parte de mandioca dobram o tempo de armazenamento em prateleira de três para seis horas, em relação à produção com 100% de farinha de trigo. "A adição do amido dá mais vida ao pão nosso de cada dia", garante Motta.

Segundo dados da Embrapa, o país possui hoje cerca de 150 mil toneladas de amido de mandioca em estoques. "As fecularias possuem uma capacidade ociosa de até 50%, o que revela a grande possibilidade de infra-estrutura que o país possui em suportar essa inovação", informa o pesquisador.

Em tempos de instabilidade do dólar americano, a mandioca já tem como certa a vitória de uma primeira batalha na guerra das farinhas na fabricação do pão nosso de cada dia. "A fécula e seus derivados têm competitividade crescente no mercado de produtos amiláceos para a alimentação humana ou como insumos em diversos ramos industriais como o de alimentos embutidos, embalagens, colas, mineração, têxtil e farmacêutica. É nesse mercado que ocorre a maior agregação de valor", explica Carlos Estevão Leite Cardoso, pesquisador em sócio-economia agrícola da Embrapa na Bahia.

Pelos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo per capita mundial de mandioca e derivados, em 1998, foi de 16,1 quilos, enquanto que o Brasil apresentou um valor de 40,1 kg/hab/ano. No Brasil a transformação de raízes de mandioca origina três subprodutos: raspas secas ao sol, farinha e fécula. Do total beneficiado, o fabrico de farinha utiliza de 30% a 35% da produção de raízes. A produção de fécula atinge cerca de 25% deste total.

No jargão economista, a farinha de mandioca é considerada um produto "inelástico", o que significa dizer que, à medida que cresce o poder de compra da população, o consumo deste produto não aumenta. O uso da fécula pelas padarias funcionaria, assim, como uma válvula de escape para o agronegócio da mandiocultura nacional.

Para Chigeru Fukuda, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura e presidente da Sociedade Brasileira de Mandioca, a iniciativa representa ainda a possibilidade de resgatar uma dívida social com os agricultores que ao longo de décadas estiveram à margem do contexto agro-industrial nacional. "No Nordeste a mandioca sempre foi considerada cultura de pobre, sem se levar em consideração seu importante papel na segurança alimentar das populações de baixa renda", observa Fukuda.

O presidente do Sindicato da Indústria da Mandioca e da Câmara Setorial da Mandioca do Estado de São Paulo, José Reynaldo de Bastos Silva, estima que o uso da mandioca na panificação poderá representar economia de cerca de R$ 200 milhões por ano na balança comercial se adotado em todo o Brasil. Nas suas contas, o país deixará de importar farinha de trigo em grande escala como acontece atualmente.

Além disso, José Reynaldo de Bastos Silva prevê que serão gerados 50 mil novos empregos nas regiões pólos de produção, principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Espírito Santo, Ceará e Pará.

Jornalista: Dalmo Oliveira - Registro profissional. MTb/PB N.º 0598 Telefones p/ contato: (75) 621.8087 Fax (75) 621.1118 Email: dalmo@cnpmf.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Hortaliças\Mandioca 

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